Cristianismo
por Alexsandro M. Medeiros
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postado em: out. 2023
O Cristianismo é uma religião monoteísta baseada sobretudo nos ensinamentos de Jesus de Nazaré contidos no Novo Testamento, mas também nos ensinamentos contidos no chamado Velho Testamento (a Bíblia cristã é dividida em Antigo e Novo Testamento). O cristianismo considera o Antigo e o Novo Testamento como a palavra inspirada de Deus. De acordo com a crença cristã, Jesus é considerado o Messias cuja vinda foi profetizada no Antigo Testamento: a palavra cristianismo deriva do grego Xριστός, “Christós”, que significa Messias ou ungido, e do hebraico “Mashiach”.
Embora tendo origem nos ensinamentos do Cristo, o cristianismo possui diferentes denominações, frutos de diferentes divisões que ocorreram ao longo da história, como o Cristianismo romano, o ortodoxo e o reformado, por exemplo. Como outras religiões, o cristianismo tem adeptos cujas crenças e interpretações bíblicas variam. Há diferenças entres seus credos mas alguns aspectos são também comuns a suas doutrinas.
Dentre as principais denominações cristãs podemos mencionar a Igreja Católica Romana, a Igreja Ortodoxa e o Protestantismo.
A Igreja Católica Romana tem como líder central o Papa, sua mais alta autoridade em matéria de moral, fé e governança da Igreja.
A Igreja Ortodoxa compreende as igrejas em comunhão com a Sé Patriarcal do Oriente, como o Patriarcado Ecumênico de Constantinopla. A Igreja Ortodoxa, ou ortodoxia bizantina, se separou da Igreja Romana com o Grande Cisma ou o Cisma Oriente-Ocidente. Em 1054, quando os líderes da Igreja de Constantinopla e da Igreja de Roma se excomungaram mutuamente, ocorreu a ruptura da Igreja Cristã, separando-a em: Igreja Católica Apostólica Romana e Igreja Católica Apostólica Ortodoxa.
O Protestantismo tem origem nas reformas iniciadas no século XVI por Martinho Lutero, Ulrico Zuínglio e João Calvino. Seguiu-se então o luteranismo, o calvinismo, o anglicanismo, os anabatistas, além de outras denominações.
Martinho Lutero (1483-1546) foi, sem dúvida, um dos principais responsáveis pelo movimento reformista. Lutero foi ordenado sacerdote em 1507 e, um ano depois, começou a lecionar teologia na Universidade de Wittenberg, ano em que também recebeu seu bacharelado em Estudos Bíblicos. Em 1512 Martinho Lutero graduou-se Doutor em Teologia e em 1515 foi nomeado vigário de sua ordem, tendo sob sua ordem onze monastérios. Foi durante este período em que o jovem sacerdote deu-se conta dos efeitos em se oferecer indulgências aos fiéis, como se fossem fregueses. A indulgência é a remissão (parcial ou total) do castigo temporal que alguém permanece devedor por conta dos seus pecados, de cuja culpa tenha se livrado pela absolvição. Naquele tempo qualquer pessoa poderia comprar uma indulgência, quer para si mesmo, quer para um parente já morto que estivesse no Purgatório. Lutero viu esta prática de venda de indulgências como um abuso que poderia confundir as pessoas e levá-las a confiar apenas nas indulgências, deixando de lado a confissão e o arrependimento verdadeiro. Proferiu, então, três sermões contra as indulgências em 1516 e 1517. Segundo a tradição, a 31 de outubro de 1517 foram pregadas as 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, com um convite aberto ao debate sobre elas. Estas teses condenavam a avareza e o paganismo na Igreja como um abuso, e pediam um debate teológico sobre o que as Indulgências significavam. As 95 Teses foram logo traduzidas para o alemão e amplamente copiadas e impressas. Ao cabo de duas semanas haviam se espalhado por toda a Alemanha e em dois meses por toda a Europa. As controvérsias geradas por seus escritos levaram Lutero a desenvolver suas doutrinas mais a fundo levando-o, inclusive, a propor inúmeras reformas no seio da Igreja que, naturalmente, não foram bem vistas. Em 3 de janeiro de 1521, o Papa Leão X excomungou Lutero na bula "Decet Romanum Pontificem". Em 1522 foi impresso o Novo Testamento a partir da tradução de Lutero da Bíblia. Em 1530, surgiu a Confissão de Augsburgo que foi escrita por Lutero e Melanchton, seu fiel companheiro. Este documento trazia um resumo dos ensinos luteranos. Pouco a pouco, o ideal de reforma da Igreja Católica que Lutero possuía foi sendo sufocado e o Reformador viu-se obrigado, juntamente com seus seguidores, a formar um grupo separado de cristãos que queriam permanecer fiéis às verdades bíblicas do Evangelho. Surgia assim a Igreja Luterana.
Lutero questionava não apenas a questão das indulgências, mas há inúmeras outras questões doutrinárias que o sacerdote propunha discutir, dentre as quais: a abolição das rendas do Papa; a abolição dos Interditos e abusos relacionados com a excomunhão; a abolição das peregrinações nocivas; a reforma das universidades; a abrogação do celibato do clero; a reforma geral na moralidade pública.
Entre as igrejas cristãs há ainda, inúmeras outras divergências, como aquelas relacionadas ao Antigo Testamento. Algumas igrejas aceitam apenas a coleção canônica dos textos hebraicos (conhecido como Tanaque), que é mais curto do que o aceito pelas Igrejas Ortodoxa e Romana, que também incluem os livros deuterocanônicos que aparecem na Septuaginta (antiga tradução em grego do Antigo Testamento), sendo o cânone da Igreja Ortodoxa um pouco maior que o católico.
Entre as diferentes denominações cristãs há em comum a ideia de que Jesus é o logos encarnado de Deus (o verbo que se fez carne), que morreu na cruz e ressuscitou dos mortos para a salvação da humanidade.
A vida e os ensinamentos de Jesus são descritos no Novo Testamento onde temos os chamados quatro evangelhos canônicos: Evangelho de Mateus, Evangelho de Marcos, Evangelho de Lucas e Evangelho de João. Dos quatro evangelhos canônicos, três são sinópticos (que tem uma ótica semelhante): o de Mateus, Marcos e Lucas. Essa denominação é por conterem uma grande quantidade de histórias em comum com um grande grau de paralelismo relativo ao conteúdo, as narrativas e estrutura das frases. Referindo-se ao Evangelho de João, Leloup (2012) destaca que este pode ser lido como uma narrativa histórica sobre Jesus, lido a partir de seus ensinamentos morais e “também como uma narrativa simbólica em que os atos e as palavras de Jesus devem ser considerados, antes de tudo, por seu alcance teológico” (LELOUP, 2012, p. 19).
Embora os evangelhos canônicos sejam a principal fonte dos ensinamentos de Jesus, as epístolas de Paulo oferecem alguns dos primeiros registros escritos e também trazem alguns relatos sobre sua vida, como a última ceia (Coríntios 11:23-26).
De acordo com os evangelhos canônicos de Mateus e Lucas, Jesus foi concebido pelo Espírito Santo e nasceu da Virgem Maria. Os evangelhos relatam muito pouco sobre a infância de Jesus, da qual quase nada sabemos. O que sabemos de sua vida constituem principalmente os seus três últimos anos, quando começou a propagar a sua mensagem da Boa Nova.
A morte e a ressurreição de Jesus podem ser consideradas como um dos pilares da fé cristã. Sua morte e ressurreição tem um grande simbolismo para a crença cristã pois representa a vitória sobre a morte e a certeza da vida eterna. Jesus morreu fisicamente, mas a sua ressurreição representa a vitória do espírito e a possibilidade de salvação para todos aqueles que seguirem seus passos: “eu sou o caminho, a verdade e a vida”. A morte e a ressurreição de Jesus demonstram que ele tem poder sobre a vida e a morte e, portanto, tem autoridade e poder para dar vida eterna às pessoas. O apóstolo Paulo escreveu: "Se Cristo não ressuscitou, toda a nossa pregação é inútil e sua confiança em Deus é inútil".
O Novo Testamento menciona várias aparições de Jesus após a sua ressurreição e em diferentes lugares. A morte e ressurreição de Jesus são comemoradas pelos cristãos em todos os cultos, com destaque especial durante a Semana Santa, que inclui a Sexta-feira Santa e o Domingo de Páscoa.
Jesus, o Cristo
Jesus de Nazaré é a figura central do cristianismo. No cristianismo, Jesus é considerado o Messias: o ungido, salvador ou libertador da humanidade. A tradução grega de Messias é Khristós (em grego: Χριστός), transliterado em português para Cristo. Por isso, os Cristãos normalmente se referem a Jesus de Nazaré como sendo "o Cristo" ou o "Messias". Desde os primórdios do cristianismo os cristãos se referem a Jesus como “Jesus Cristo”, uma vez que acreditam que ele é o Messias esperado, profetizado na Bíblia Hebraica.
O cristianismo acredita que Jesus foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu da virgem Maria, praticou milagres, morreu crucificado como forma de expiação dos pecados da humanidade, ressuscitou dos mortos, ascendeu ao Céu e regressará em algum momento no futuro para julgar os vivos e os mortos.
As principais fontes de informação sobre o nascimento de Jesus são os evangelhos de Lucas e Mateus. Mateus (1:1) inicia o seu evangelho com a genealogia de Jesus, antes de narrar o seu nascimento. Ambos, Mateus e Lucas, afirmam que Jesus é filho de José e de Maria e que nasceu em Belém, e ambos apoiam a doutrina da concepção imaculada de Maria, segundo a qual Jesus foi concebido de forma milagrosa pelo Espírito Santo enquanto Maria ainda era virgem. É também nos Evangelhos de Mateus e Lucas que temos as poucas informações relativas à infância de Jesus. No capítulo 6 do Evangelho de Marcos temos algumas informações acerca da família de Jesus:
“Ele não é o filho do artesão, o filho de Maria, irmão de Tiago, José, Judas, Simão? Suas irmãs vivem aqui, entre nós”. Assim sabemos que Maria tem, no mínimo, sete filhos. Os filhos são indicados por nomes tipicamente judeus (Tiago, José, Judas, Simão), enquanto os nomes das filhas (que são pelo menos duas) não são revelados (HOORNAERT, 2016, p. 60).
É a partir dos 30 anos que temos a essência de seus ensinamentos e o propósito de sua missão terrena. Dentre os elementos chaves de seus ensinamentos podemos destacar a ideia do Reino de Deus. A expressão “Reino de Deus” ou “Reino dos Céus” aparece mais de cem vezes nos evangelhos. A partir desse propósito, Jesus veio “propor um novo projeto civilizatório, resumido em sua expressão ‘Reino de Deus’ [...] uma proposta voltada à construção da Civilização do Amor” (FREI BETO, 2017, p. 29).
Outro aspecto central de seus ensinamentos é o mandamento divino do amor: questionado sobre qual seria o principal mandamento, Jesus responde: «Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento; E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos depende toda a lei e os profetas.» (Mateus 22:37–40).
Uma forma muito comum utilizada por Jesus para transmitir seus ensinamentos era o uso de parábolas. Era uma forma mais simples de se expressar pois Jesus se dirigia majoritariamente a pessoas simples do povo. “Por isso, Jesus utilizou uma linguagem realista que ilustra as parábolas com imagens retiradas da vida cotidiana de seu povo: rede, peixe, azeite, semente, festa de casamento, trabalho diário, dívida etc.” (FREI BETO, 2017, p. 13) Apenas o Evangelho de João não inclui as parábolas.
As cerca de trinta parábolas dos evangelhos apresentam elementos simbólicos e alegóricos. Algumas das parábolas são relativamente simples, enquanto outras são de difícil compreensão e, por vezes, nem os próprios discípulos de Jesus compreendiam o seu significado e pediam-lhe que explicasse melhor. Frei Beto (2017) distingue os diferentes tipos de parábolas em: parábolas de coerência nas convicções, parábolas de esperança, de fidelidade, de opção prioritária, de compaixão, de crítica à religião, de tolerância religiosa, de crítica ao apego aos bens, de autocrítica e de perseverança.
Muitas dessas parábolas falam do Reino de Deus. “O objetivo das parábolas é nos revelar a proposta do Reino de Deus, a utopia de Jesus. Assim como hoje se fala em outro mundo possível ou em sociedade alternativa, Jesus falava em Reino de Deus...” (FREI BETO, 2017, p. 22, grifos do autor).
Nos textos dos evangelhos, Jesus dedica grande parte do seu ministério à realização de milagres, especialmente curas. Os evangelhos registram dezenas de milagres que englobam curas de doenças físicas, exorcismos e até ressurreição dos mortos.
Práticas e Rituais
Dependendo da denominação específica do cristianismo, as práticas podem ser variadas e podem incluir o batismo, a Eucaristia, a confissão, a crisma, ritos funerários, ritos do casamento, entre outros.
O batismo é o ato ritual, com uso de água, pelo qual uma pessoa é admitida como membro da Igreja. As crenças sobre o batismo variam entre as denominações e existem diferenças de opinião sobre a metodologia (ou modo) do ato.
Referências
BÍBLIA. Sagrada Bíblia Católica: Antigo e Novo Testamentos. Tradução: José Simão. São Paulo: Sociedade Bíblica de Aparecida, 2008.
FREI BETO. Parábolas de Jesus. Ética e Valores Universais. Petrópolis: Vozes, 2017.
HOORNAERT, Eduardo. Origens do Cristianismo. São Paulo: Paulus, 2016.
LELOUP, Jean-Yves. O Evangelho de João. Traduzido pra o francês e comentado por Jean-Yves Leloup. Tradução para o português de Guilherme João de Freitas Teixeira. 4. ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 2012.
Veja também