A LUZ DA VERDADE: "ORAÇÃO" DE SANTO AGOSTINHO
A LUZ DA VERDADE: "ORAÇÃO" DE SANTO AGOSTINHO
Confissões, VII, 10, 16
Tu me admoestaste, Senhor, para que voltasse para mim mesmo.
Conduzido por Ti, entrei no meu interior.
Entrei e vi, com certo olho da alma
e mesmo acima do olho da alma, por sobre minha mente,
uma Luz imutável.
Não era a luz vulgar, visível a toda a carne.
Nem outra luz do mesmo gênero, porquanto grande e brilhante. (...)
Não era nada disso aquela Luz,
mas uma coisa muitíssimo diferente de todas as luzes. (....)
Era uma luz superior a mim, pois foi ela que me criou,
a mim, a ela inferior, pois fui por ela criado.
Quem conhece a Verdade, conhece aquela Luz.
E quem a conhece, conhece a Eternidade. O Amor a conhece!
Ó eterna Verdade! Ó verdadeira Caridade! Ó cara Eternidade!
Tu és o meu Deus. Por ti suspiro dia e noite.
Quando Te conheci pela primeira vez,
Tu me soergueste para fazer-me ver
que Quem eu via era,
e eu, que via, ainda não era.
Então, projetando, com toda a força, tua luz sobre mim,
golpeaste minha vista doente,
e eu estremeci de amor e de horror.
Então dei-me conta de estar longe de Ti,
na região da dessemelhança.
E me parecia ouvir Tua voz, clamando do alto:
“Eu sou o pão dos grandes!
Cresce, e te alimentarás de Mim.
Não serás tu que Me transformarás em ti, como fazes com os alimentos do corpo,
mas, antes, serei Eu que te transformarei em Mim.”
E vi que, por causa de sua iniquidade, Tu instruis o homem.
E eu disse: “Porventura, não é nada a Verdade,
só porque não está difundida pelo espaço material, limitado ou não?”
Mas Tu me gritaste, como de longe:
“Ao contrário: Eu sou o que sou!”
E eu o ouvi como quem ouve a voz do coração.
E não havia como duvidar.
Era mais fácil duvidar de minha vida
que duvidar da existência da Verdade