PROCLO

por Alexsandro M. Medeiros

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postado em jan. 2025

Proclo nasceu em Constantinopla entre os anos de 410 ou 412 e viveu até o ano de 485 d. C. De suas obras, destacam-se: Teologia platônica (incompleta ou inacabada) e Elementos de teologia. Proclo escreveu ainda outras obras como: Sobre a providência, a liberdade, o mal, além de alguns comentários a obras de Platão (como Alcibíades I, Parménides, Timeu, República, Crátilo) e também ao primeiro livro dos Elementos de Euclides.

A obra Elementos de teologia é considerada como a mais vigorosa de Proclo, de acordo com Reale e Antiseri (2003, p. 367): “concentra-se no essencial, apresentando-nos um tratado metafísico de primeira categoria”. Segundo Bréhier (1928, p. 478, tradução nossa), “Os Elementos de Teologia, que dão uma ideia completa da realidade suprasensível, destacam-se pelo seu método: são compostos por teoremas demonstrados pelo método euclidiano”. Esta obra teve uma grande influência no mundo islâmico, como destacam Silva e Cunha (2020), ao tratar da difusão dos textos neoplatônicos, sobretudo de Plotino, Porfírio e Proclo, no mundo árabe, embora as obras que circularam no mundo árabe não coincidissem, necessariamente, com os textos verdadeiros.

 

No que respeita a Proclo, ocorreu algo semelhante ao que se deu com Plotino, quer dizer, foi um dos mais estudados filósofos neoplatônicos entre os árabes, mas pouco conhecido por si mesmo: ora porque foi confundido com Aristóteles, devido ao texto do Livro das Causas; ora porque seus escritos foram mesclados com os de Alexandre de Afrodisia (Silva; Cunha, 2020, p. 83).

 

Isso explica porque o nome de Proclo raramente tenha sido citado pelos filósofos árabes. Foi Tomás de Aquino quem identificou que a obra Livro das Causas era, na verdade, “um conjunto de sentenças extraídas dos Elementos Teológicos de Proclo” (Silva; Cunha, 2020, p. 84). O Livro das Causas era tido como parte do livro da Metafísica de Aristóteles mas a sua autoria permanece, até hoje, desconhecida. O que se sabe, de fato, é que “sua filiação as teses procleanas são inegáveis. Desta maneira, o texto trouxe, aos pensadores da falsafa [a filosofia islâmica medieval], a filosofia de um autor que, até o século XII, foi negado ou mesmo ignorado pelos cristãos do ocidente” (Silva; Cunha, 2020, p. 89).

 

Conhecimento de Si

 

Segundo Lima (2018, p. 6): “Em Proclo, a máxima délfica “gnothi seauton” [conhece-te a ti mesmo] alcançou o estatuto de princípio fundamental da filosofia, segundo duas perspectivas: teórica e prática”. Desta forma, Proclo procura aprofundar a reflexão filosófica sobre o conhecimento de si mesmo através da capacidade autorreflexiva da consciência (aspecto teórico), ao mesmo tempo em que busca constituir um verdadeiro caminho espiritual para o cuidado de si (aspecto prático).

Para Proclo, a alma não é imediatamente consciente de si mesma, de sua própria essência e, por isso, deve fazer um esforço de conhecimento muito próximo da anamnese (reminiscência) platônica que Proclo chama de projeção. “Esta projeção é a versão proclina da anamnese, a reminiscência platônica, modo pelo qual algo que é possuído “inconscientemente” é trazido à mente de forma a estar consciente daquilo que já se sabia” (Lima, 2018, p. 171).

Outra influência de Platão está na própria definição que Proclo dá em relação a Alma, como algo que se move a si mesma em seu próprio pensamento autorreflexivo, que é a definição da alma dada por Platão em Leis (X, 896a apud Lima 2018, p. 178). Temos aqui o “mover-se a si mesma” associado a ideia de autorreflexividade e conhecimento de si mesma. A alma, movendo-se a si mesma, pensa-se a si mesma, conhece-se a si mesma (movimento autoconsciente).

Por não ser consciente de si mesma, a alma toma a realidade sensível como sendo a única, tem erroneamente a impressão de que não existe independente do corpo e os seus sentidos são a fonte de seu conhecimento e pensamento.

 

É necessário, portanto, que ela desperte de seu esquecimento e atualize sua própria autokinêsis, a sua autorreflexividade que se dá através da reminiscência, o movimento autoconsciente da projeção de suas próprias razões, de forma a determinar-se a si mesma enquanto “substância autoconstituinte, vida autovivífica e conhecimento autocognitivo” (Lima, 2018, p. 180).

 

Tornada consciente de si mesma, a alma deve buscar, dentro de si mesma, o verdadeiro, o bem e as noções eternas da realidade. Conhecer-se a si mesmo implica anda conhecer o Uno/Bem ou o conhecimento e assimilação do Divino, o que significar dizer que o autoconhecimento conduz a alma à mais elevada união buscada pela religião. O autoconhecimento e o cuidado de si devem conduzir, portanto, a união com o divino.

Essa busca pelo conhecimento de si também pode ser vista como significando uma educação filosófica da alma, em que esta é exortada ao conhecimento e ao cuidado de si, ao qual é necessário incluir a busca pelas virtudes. “A filosofia será, portanto, uma paideia que consiste no cuidado de si através de uma escada de saberes e virtudes destinada ao conhecimento de si” (Lima, 2018, p. 200).

Referências 

BRÉHIER, E. Histoire de la Philosophie: Tome premier. L’Antiquité et le Moyen Âge. Librairie Félix Alcan, Paris, 1928.

 

LIMA, D. C. Conhecimento de si como caminho filosófico em Platão, Plotino e Proclo. 2018. 281f. Dissertação (Mestrado em Filosofia), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo-SP, 2018.

 

REALE, G.; ANTISERI, D. História da Filosofia: filosofia pagã antiga. Trad. Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2003. Vol. 1

 

SILVA, F. G. P. da; CUNHA, S. P. da. O curso do pensamento procleano na filosofia árabe. ARGUMENTOS - Revista de Filosofia/UFC, Fortaleza, ano 12, n. 24, p. 79-91, jul./dez. 2020. Acesso em: 09 dez. 2024.

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