FILOSOFIA JUDAICA
Assim como os cristãos e a cultura árabe encontraram na filosofia uma forma de justificar os dogmas religiosos a partir de argumentos racionais, vemos o mesmo movimento sendo realizado entre os judeus, o que deu origem a Filosofia judaica como sendo a conjunção de estudos de filosofia com a teologia judaica. Cecília (2012, p. 1) ressalta que “a Filosofia Judaica propriamente dita surgiu com Filon de Alexandria (séc. I)”. Filon foi um filósofo judeu que tentou compatibilizar, mais ou menos de forma sistemática, a filosofia grega e a Bíblia, realizando uma espécie de exegese filosófica buscando conciliar a palavra revelada das Escrituras e a especulação racional.
Seu modelo metafísico de inspiração platônica comporta um Deus único absolutamente transcendente, acompanhado de “potências” através das quais atua e, entre elas um intermediário criador que poupava-Lhe o contato direto com a matéria impura, denominado Logos, o qual tem uma face transcendente e uma expressão imanente. Seu pensamento foi mais aproveitado pelos cristãos do que absorvido na própria comunidade judaica e, naquele meio, o Logos filônico foi prontamente associado ao Verbo Encarnado, ou seja, a Jesus (CECÍLIA, 2012, p. 2).
Filon procurou interpretar o texto bíblico entendendo-o como uma alegoria, ou seja, utilizando a alegoria como uma ferramenta, no mesmo sentido “usada por pitagóricos e platônicos para interpretar os mitos gregos à luz do logos, ou seja, ele lê a Bíblia como mito” (LEONE, 2018, p. 2). Essa primeira expressão de uma filosofia judaica, também conhecida como judaísmo helenístico, teve pouco impacto e repercussão nos séculos seguintes.
Cabe destacar, entretanto, que não são todos os que aceitam a possibilidade de conciliar religião e filosofia e, no caso do Rabino Nachman, um teólogo judaico ucraniano da contemporaneidade, fundador do movimento Hassidismo ou Chassidismo (uma das diferentes formas de prática judaica), toda a filosofia é falsa e herética.
Por outro lado, aqueles que sustentam a possibilidade de realizar uma síntese entre religião e filosofia defendem a ideia do uso argumentativo e racional filosófico para demonstrar as verdades dos princípios religiosos. Se se coloca questões, por exemplo, sobre a existência e a natureza de Deus, estas questões podem ser debatidas não apenas no âmbito da religião, mas igualmente no campo da filosofia. No século X, na Idade Média, a filosofia voltará a ser cultivada entre os judeus e dentre os mais destacados pensadores que procuraram desenvolver a chamada filosofia judaica temos: Ibn Gabirol, conhecido pelos latinos com o nome de Avicebron, Moisés Maimônides e Hasdai Crescas.
Solomon Ibn Gabirol
Monumento a Maimônides em Córdoba
Solomon Ibn Gabirol
Solomon Ibn Gabirol (1020 ou 1021-1058 ou 1059) foi um judeu poeta, gramático, filósofo e exegeta, criado e educado na cidade de Zaragoza, na Espanha. Autor de mais de 400 poemas, muitos apresentam temática religiosa e mística, um dos mais conhecidos é o Keter Malkut (Coroa do reino) que supõe uma síntese entre as crenças tradicionais judaicas e a filosofia neoplatônica. Seus poemas “embelezam até hoje a liturgia Sefaradi nas principais festas judaicas. A obra poética de Ibn Gabirol resistirá à passagem dos séculos na comunidade judaica e fará com que seja considerado até os dias atuais um dos maiores poetas judeus de todos os tempos” (CECÍLIA, 2012, p. 5).
Compôs ainda dois célebres tratados: um de caráter filosófico, Yanbu’ Al Hayat, traduzido para o latim como Fons vitae (A Fonte da Vida); o outro que ocupa-se da ética e da moral, de orientação ascética, Tikkun Middot HaNefesh (A correição dos caracteres), de 1045. A obra Fons vitae adota a forma de um diálogo entre um mestre e o seu discípulo, e “teve tanta influência que se chegou a acreditar que fora elaborada por autor cristão. Nela, Avicebron procura harmonizar os resultados da razão (permeada de Neoplatonismo) com os princípios essenciais da religião judaica” (REALE; ANTISERI, 2003, p. 200). Nesta obra, que é a única de caráter filosófico que chegou até nossos dias, Avicebron destaca a existência de três realidades:
a Essência primeira ou o Altíssimo, a Vontade que é a força criadora do Altíssimo, e a Forma que contém todas as criaturas. A Fonte da Vida não trata senão sobre a Matéria e a Forma [...] contém exclusivamente a ciência das coisas criadas, se bem que ela se refere muito frequentemente à Vontade e à Essência primeira (BRÉHIER, 1949, p. 238, tradução nossa).
A obra de Avicebron aborda a tese do hilemorfismo universal, ou seja, de que todas as coisas criadas são compostas de forma e matéria, sendo que esta, a matéria, se distingue por uma série hierarquizada: “matéria celeste, matéria natural universal, matéria natural particular, matéria artificial com tantas formas correspondentes, a forma do céu, a natureza, a essência dos corpos naturais, a arte” (BRÉHIER, 1949, p. 241, tradução nossa). Apesar dessa distinção é preciso considerar que toda a diversidade de matéria (assim como a diversidade de formas) tem origem em apenas uma única matéria.
Cada matéria, em sua diferença com as outras, é definida, com efeito, por sua capacidade de receber as formas em um certo estado de unidade ou de divisão; portanto ela própria é tanto mais multiplicada e diversificada quanto ela está mais distanciada de sua origem e tanto mais una e simples quanto ela está mais próxima: o movimento pelo qual a matéria universal que recebe as formas em sua absoluta unidade se degrada em matéria de inteligência, depois da alma, depois dos corpos, é o mesmo que aquele pelo qual as formas se dividem e se multiplicam nesta matéria (BRÉHIER, 1949, p. 243, tradução nossa).
Moisés Maimônides
A partir de meados do século XII, como destaca Cecília (2012, p. 7), o aristotelismo começa a substituir o neoplatonismo no pensamento dos autores judeus. Embora algumas concepções aristotélicas já estivessem presentes em autores anteriores, é sobretudo nesse período que a influência aristotélica alcançará o seu auge do qual, o mais importante representante é o médico, filósofo e rabino e talmudista Moisés Maimônides (1135-1204). Como médico, Maimônides foi membro da corte do sultão Saladino. Das suas obras de medicina destacam-se: Aforismo médico de Moshé (1187-1190), Tratado sobre a asma (1190), Sobre o coito (1191), Sobre a higiene (1198) e Explicação das particularidades (1200). Além de seus escritos sobre medicina, Maimônides escreveu vários trabalhos de teor religioso, seja comentários destinados para organizar o Talmude (coletânea de livros sagrados dos judeus), seja sobre sua visão filosófica sobre o judaísmo.
É autor da obra Guia dos Perplexos, fundamentada na Torá (que corresponde aos cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio). O título da obra pode ser uma referência ao trecho bíblico em que os cativos judeus, fugindo do Egito, se viram encurralados pelos soldados do faraó entre o mar e o deserto: “E dirá o faraó sobre os filhos de Israel: Perplexos (Nevuchim) estão eles em terra, fechou-os o deserto” (Êxodo 14:3 apud JACOBSEN, 2022, p. 8), o que pode ser interpretado de forma alegórica como os dilemas filosóficos vivenciados pelos judeus na época de Maimônides que procurou, “com sua obra: abrir, metaforicamente, um caminho de terra firme através do mar, assim como fez Moisés no relato da Torá” (JACOBSEN, 2022, p. 8). Além disso,
(...) a originalidade de Maimônides nesse trabalho foi a de estabelecer um diálogo entre o mosaísmo e a filosofia, ao invés de se limitar à utilização de seus conhecimentos para fazer a apologia do judaísmo. (...) Em vez disso, ele confronta as duas tradições de maneira a sobrepô-las. Assim, outorga-se a missão de guiar os estudiosos para o conhecimento metafísico, o qual, segundo ele, é uma possessão original do judaísmo que havia sido perdida durante o exílio (...). (NAHAISSI, 1991, p. 27 apud JACOBSEN, 2022, p. 8).
A obra está dividida em três partes (a primeira contém 76 capítulos; a segunda, 48; e a terceira, 54), sendo que, segundo Jacobsen (2022, p. 9) “os ensinamentos da obra não se encontram encadeados de maneira rigorosamente consequente; ao contrário, encontram-se dispersos ao longo de todos os capítulos, ficando a cargo do leitor formar uma explicação coesa da mensagem do Guia”. Apesar de não ser linearmente encadeada, é possível observar que é na segunda parte que Maimônides procura, de forma mais específica, conciliar o judaísmo com o pensamento racional filosófico: “A segunda parte do Guia dedica-se a estabelecer relações entre a Filosofia e os conteúdos das Escrituras, especialmente quanto à questão dos seres existentes e da criação do mundo, apontando suas proximidades e distâncias” (CECÍLIA, 2012, p. 9). É nesta parte que encontramos a concepção de Maimônides sobre Deus (são apresentadas quatro demonstrações para a existência de Deus e provas da sua unidade e incorporeidade) e sobre o Mundo, que tomam por base a física e a Metafísica aristotélicas. “Por fim, concluindo a segunda parte, Maimônides apresenta suas concepções sobre o fenômeno da profecia” (JACOBSEN, 2022, p. 11).
A primeira consiste em uma exposição de algumas ideias ocultas na Bíblia, sobretudo nos livros dos Profetas “a partir de uma exegese filológica de certos termos contidos na Bíblia, bem como uma profunda discussão sobre os atributos de Deus e uma crítica aos métodos do Kalam” (CECÍLIA, 2012, p. 9). O kalam era um ramo da religião islâmica que defendia a possibilidade de a razão humana servir de guia no caminho do conhecimento divino em oposição à teologia tradicional islâmica que enfatizava apenas a revelação divina e a tradição. Aqueles que estudavam o kalam eram conhecidos como kalamitas ou mutakálemim, que eram pensadores devotados “a embasar racionalmente as crenças islâmicas fundamentais, de modo a defendê-las daqueles que pudessem erguer dúvidas filosóficas contra elas” (JACOBSEN, 2022, p. 10).
A terceira parte traz um exame do texto esotérico conhecido como relato da carruagem (Ezequiel 1) e discute questões sobre as disciplinas místicas judaicas (Maaseh Bereshit e Maaseh Merkabah). Além disso, “trata de questões como a matéria, o mal, a Lei de Deus e a conduta do homem” (CECÍLIA, 2012, p. 9).
O Guia dos Perplexos é uma obra que “se dirige a todos os que se encontram sufocados pela perplexidade derivada dos aparentes contrastes entre razão e fé. Moisés Maimônides “escreveu [...] para demonstrar que a filosofia e a Bíblia, na realidade, são conciliáveis” (REALE; ANTISERI, 2003, p. 201). Investigando os enigmas da razão e da fé, “podemos considerar a obra como uma tentativa de Maimônides de responder à conhecida indagação de Tertuliano (c. 160 - c. 225) na sua Condenação da filosofia: “O que Atenas tem a ver com Jerusalém?” (JACOBSEN, 2022, p. 11). Suas ideias “foram frequentemente retomadas pelos filósofos escolásticos e pelo próprio Tomas de Aquino” (REALE; ANTISERI, 2003, p. 201).
A filosofia, na visão de Maimônides, serve “como uma ‘chave’ para compreender certas passagens dos livros proféticos” (BRÉHIER, 1949, p. 246, tradução nossa). Mas é preciso considerar que a filosofia a qual Maimônides se refere “é aquela de Aristóteles, tal como ela foi interpretada sobretudo por Avicena” (BRÉHIER, 1949, p. 247, tradução nossa). Questões teológicas sobre a negação dos atributos de Deus, o monoteísmo, a profecia, providência e solução do problema do mal, são debatidas por ele também à luz da filosofia. Vejamos o exemplo o monoteísmo.
Maimônides o apoia sobre vinte e seis teoremas que não são senão o conjunto das teses da metafísica peripatético-aviceniana: impossibilidade da regressão ao infinito, teorema da Física sobre a mudança, o tempo e a necessidade de um motor exterior ao móvel, axiomas de Avicena sobre o necessário e o possível e de Aristóteles sobre o ser em potência e o ser em ato (BRÉHIER, 1949, p. 248, tradução nossa).
Com bases nestes argumentos, Maimônides dará quatro demonstrações da unidade de Deus, aos quais depois acrescentará outras duas, que são a simplicidade de Deus (se houvesse dois deuses, cada um seria composto) e a unidade do universo. Vejamos com mais detalhes as quatro primeiras demonstrações:
a primeira mostra como todos os movimentos da região sublunar dependem passo a passo do movimento do céu que, por si só, só pode ter um motor imóvel; a segunda está ligada à Física de Aristóteles e à explicação que dela dá Alexandre de Afrodísia: se há um motor que se move, e um movido não é um motor, é necessário, por uma questão de simetria, aceitar um motor imóvel; a terceira baseia-se em Avicena, mostrando que a possibilidade existente, que se dá, deve ter como fundamento um ser necessário por si; a quarta mostra a necessidade de um ato puro, para que possa se produzir a passagem da potência ao ato, tal como nós experimentamos (BRÉHIER, 1949, p. 248-249).
Hasdai Crescas
Além de Ibn Gabirol e Maimônides, podemos destacar ainda dentre os autores que se dedicaram ao pensamento filosófico judeu: Levi Ben Gerson (também conhecido como Gersônides) e Hasdai Crescas. O primeiro é autor de obras no campo da filosofia, da teologia, da matemática e da astronomia tendo como obra principal As Guerras do Senhor (Milkhamot Adonai). O segundo foi um rabino das comunidades judaicas de Aragão mas que deixou poucas obras escritas das quais, a principal é Luz do Senhor (Or Adonai) ou Luz do Nome Divino (Or Hashem) (sobre estas diferenças de tradução do título da obra, veja nota de rodapé de Leonam, 2018, p. 13).
Hasdai ben Yehudá Crescas (1340-1411) foi um crítico da filosofia e mais especificamente da filosofia aristotélica mas não negava que a razão não pudesse alcançar algumas verdades metafísicas: “Enuncia textualmente que somente a Torah tem o poder de conduzir o homem à verdade, e não a filosofia. Para isso acredita poder afastar as “falsas filosofias” e encontrar uma filosofia verdadeira” (CECÍLIA, 2012, p. 12). Sobre Hasdai Crescas, há uma extensa análise de sua obra e pensamento na tese de doutorado de Alexandre Leone (2018) intitulada: Infinito, Imanência e Transcendência na Filosofia Judaica Medieval: Hasdai Crescas. Com base nesta tese iremos fazer um breve resumo de suas ideias.
Crítico das obras de Maimônides e Averróis, Crescas estudou e teve sua formação rabínica com um dos mais famosos rabinos catalães e um dos mais importantes talmudistas de seu tempo, Nissin Gerondi (1310-1375): “Conhecido, nos meios rabínicos, pelo acróstico RaN (Rabeinu Nissin Gerondi), [...] escreveu, além de tratados jurídicos, um tratado filosófico onde demonstra grande familiaridade com os escritos de Maimônides, a quem também critica” (LEONE, 2018, p. 9). Dentre algumas das principais diferenças entre Maimônides e Crescas está a forma de compreender a religião.
Para Maimônides, a religião, em essência, é a metafísica; suas verdades são fruto do intelecto. Para Crescas, a religião nasce do coração. Sem impugnar o direito soberano da razão, argumentava ele, a piedade não é um produto da especulação, mas sim do amor. A bondade é qualidade emocional, e não abstração intelectual. A essência da religião, portanto, não pode ser expressa em proposições metafísicas (Neuman, 1956, p. 264-265).
Crescas é autor de três tratados:
São eles: Bittul Ikarei Ha-Notzrim (A Refutação dos Princípios Cristãos), de 1398, um ensaio de polêmica anticristã, escrito como resposta à crescente pressão para a conversão dos judeus, a partir de 1391; Derashat Ha-Pessah (O Sermão da Páscoa), um tratado dedicado à filosofia do direito judaico (halakhá), escrito em data desconhecida; e seu mais importante tratado filosófico, o livro Or Hashem (A Luz do Nome Divino), completado no final de sua vida, em 1410 (LEONE, 2018, p. 11).
Sua principal obra, A Luz do Nome Divino, trata da existência do infinito a partir da crítica aos argumentos utilizados por Maimônides sobre o conceito de Deus, exposto em sua obra Guia dos Perplexos. “Igualmente propõe uma ontologia distinta tanto do aristotelismo aviceniano de Maimônides, quanto dos aristotélicos averroístas como Gersonides e Moisés Narbon” (LEONE, 2018, p. 11). Esta obra, composta de quatro tratados, é considerada a suma filosófico-teológica de Hasdai Crescas e tem como objetivo “discutir as doutrinas filosóficas, teológicas e religiosas do judaísmo rabínico de seu tempo” (LEONE, 2018, p. 14).
No primeiro tratado são discutidos conceitos como a existência, unidade e incorporeidade de Deus, considerados como raízes do monoteísmo judaico. Aqui, a metafísica e a teologia de Crescas se opõe a tradição hegemônica dos filósofos judeus de seu tempo partidários do paradigma aristotélico. Crescas faz “sua crítica à física e à metafísica aristotélica e ao modo como Maimônides concebe sua ideia de um Deus radicalmente transcendente a partir das premissas do aristotelismo oriundo da falsafa [filosofia islâmica medieval]” (LEONE, 2018, p. 15).
No segundo tratado temos os seis pontos considerados por Crescas como fundamentais para a doutrina da Torá: “o conhecimento divino dos entes individuais, a providência, o poder divino, a profecia, o livre arbítrio, e o objetivo final da Torá” (LEONE, 2018, p. 15-16).
No terceiro tratado temos a discussão em torno de diferentes crenças sendo que, destas, oito crenças são consideradas fundamentais e sua negação deve ser considerada como uma heresia, como a crença na criação, na imortalidade da alma, na recompensa e no castigo, na ressurreição dos mortos, na eternidade da Torá, na superioridade da profecia de Moisés, no poder da profecia sacerdotal e na redenção messiânica. Além destas oito crenças, Crescas discute ainda neste tratado a crença na eficácia da prece e da bênção sacerdotal, a crença no arrependimento e a crença no valor das festividades e dias santos.
O quarto tratado prossegue com a análise das crenças, acrescentado outras à lista das treze já analisadas no tratado anterior, como:
questões sobre a eternidade do mundo, a pluralidade dos mundos, se os corpos celestes são entidades vivas e racionais ou não, a influência astral, os demônios, o poder dos amuletos e encantamentos, a reencarnação, a recompensa futura de um menor, o significado de paraíso e inferno, o conteúdo de maassê bereshit (o estudo esotérico sobre a criação do mundo) e de maassê merkavá (o estudo esotérico sobre a Presença Divina), se o intelecto, o inteligível e inteligente podem ser um e o mesmo, o primeiro motor e o escopo da metafísica (LEONE, 2018, p. 16).
A partir de Crescas, a filosofia medieval judaica entra em declínio e os autores posteriores acrescentam muito pouco às teorias anteriormente formuladas pelos filósofos judeus. Somente na modernidade e na contemporaneidade veremos nomes de peso florescerem no campo da filosofia judaica – embora nem todos aqui tenham se dedicado estritamente ao tema – como Moisés Mendelssohn (1729-1786), Martin Buber (1878-1965), Walter Benjamin (1892-1940), Hannah Arendt (1906-1975) e Emmanuel Levinas (1906-1995). Mendelssohn foi um rabino judeu alemão e filósofo do período do Iluminismo, considerado o pai do judaísmo reformista e precursor da Haskalá, ou seja, da Renascença Judaica na Europa. Buber foi um filósofo, escritor e pedagogo judeu de origem austríaca do séc. XX.
Referências
BRÉHIER, E. La Philosophie du Moyen Âge. Nouvelle édition corrigée, mise à jour et augmentée d’un appendice. Paris: Albin Michel, 1949.
JACOBSEN, R. B. A contradição como método: leituras esotéricas da refutação de Maimônides à eternidade do mundo. Trabalho de conclusão de curso realizado (Bacharelado em Filosofia), Departamento de Filosofia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS, 2022.
LEONE, Alexandre Goes. Infinito, Imanência e Transcendência na Filosofia Judaica Medieval: Hasdai Crescas. 2018. 264f. Tese (Doutorado em Filosofia), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018.
MACEDO, C. C. C. de. A Filosofia Medieval Judaica. Revista Pandora Brasil, n. 43, p. 1-14, jun. 2012. Acesso em: 05 abr. 2024.
NAHAISSI, G. Biografia. In: MAIMÔNIDES. Os 613 mandamentos. São Paulo: Nova Arcadia, 1991. Tradução: Giuseppe Nahaissi.
NEUMAN, A. A. Judaísmo. In: JURJI, E. J. (org.). História das Grandes Religiões. Tradução de Amália Machado Costa Lobo. Rio de Janeiro: Edições O Cruzeiro, 1956.
REALE, G.; ANTISERI, D. História da Filosofia: patrística e escolástica. Trad. Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2003. v. 2
Sugestões bibliográficas e de leitura
Sobre a Seleção de Poemas Religiosos de Solomon ibn Gabirol, de Israel Zangwill (1923) ver: https://sacred-texts.com/jud/sig/sig00.htm (página em inglês)
Veja uma versão em inglês de A Fonte da Vida (The Fountain of Life): https://sacred-texts.com/jud/fons/index.htm
Gabirol (Avicebron), Solomon ibn (1962). A fonte da vida. Translated of Latim by Harry E. Wedeck. WISDOM LIBRARY uma divisão da PHILOSOPHICAL LIBRARY. New York: [s.n.]
Veja uma versão em inglês de The Guide for the Perplexed by Moses Maimonides: https://sacred-texts.com/jud/gfp/index.htm
Veja Também