ALBERTO MAGNO

por Alexsandro M. Medeiros

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postado em dez. 2023


A obra de Alberto Magno (1196-1280) é vastíssima. Existem três edições completas: a de P. Jammy, Lião, 1651 e a de Borgnet, paris, 1890-1899, em 38 vol. in-4º (cf. Abbagnano, s/d); e uma em Latim: Beati Alberti, Ralisbonensis episcopi opera omnia, 21 vol, in-folio. Lugduni, 1651 (cf. Poisson, 1899). Alberto Magno foi um frade dominicano, filósofo e escritor, conhecido como doctor universalis e doctor expertus, proclamado como Doutor da Igreja, pela Igreja Católica, em 1931.

O frade dominicano realizou seus estudos nas universidades de Pádua, Bolonha e Paris. “Durante seu período de estudos em Pádua, ingressou na ordem Dominicana no ano de 1223 ou 1229” (ANZULEWICZ, 2020, p. 15). Também em Pádua, tomou contato com as obras de Aristóteles e chegou a comentar praticamente todas as obras do filósofo grego, “sendo um dos primeiros a incluir as ideias de Aristóteles no ensino ministrado nas universidades europeias, ligadas às grandes catedrais e mosteiros” (ALFONSO-GOLDFARB, 2001 apud LOMBARDE; KIOURANIS, 2021, p. 73). Segundo Storck (2010, p. 147), os comentários à obra de Aristóteles foram realizados apoiando-se em fontes dos tradutores árabes, o que fez com que Alberto Magno conhecesse também as obras de Avicena e Averróis. Em 1245 ganha o título de Doutor e assume “a segunda cátedra de teologia dos Dominicanos destinada aos estudantes não-franceses na Universidade de Paris, que manteve até o semestre de verão de 1248” (ANZULEWICZ, 2020, p. 17). É nesta universidade que ele terá como um de seus mais brilhantes e ilustre aluno, Tomás de Aquino.

(ANZULEWICZ, 2020, p. 46)

(ANZULEWICZ, 2020, p. 45)

Alberto, o Grande (Magno significa “o Grande”), se destacou também no estudo do mundo natural e em áreas como a metafísica, teologia, física, matemática e alquimia.

Teologia 

O objeto de estudo da Teologia é Deus. Deus como princípio e fim, o alfa e o ômega. Como religioso, Alberto Magno considera que a atividade do teólogo não é a busca da verdade, mas a sua compreensão, uma vez que a verdade já fora revelada por Deus aos homens, por isso, o teólogo não precisa provar a verdade, mas apenas compreendê-la. Nisso, o frade dominicano distingue o conhecimento que diz respeito à ciência e o conhecimento da fé. A teologia funda-se na fé. A fé é o princípio pelo qual a teologia pode abordar a questão de Deus. A Teologia

 

é dita ser a sabedoria no sentido principal do termo: conhecimento do altíssimo e do modo mais elevado, pois trata de Deus por meio dos princípios da fé. As demais ciências que fo­ram inventadas pelos filósofos também são ditas sabedoria, pois tratam das coisas elevadas, mas não do modo mais elevado. Tratam através de princípios que são submetidos à razão (Albertus Magnus, In I Senten­tiarum, p. 19a apud STORCK, 2010, p. 169).

 

A teologia também distingue-se da filosofia, pois aquela funda-se na revelação e na inspiração, ao passo que a filosofia funda-se na razão.

Alquimia 

Em seu tratado De mineralibus et rebus metallicis sobre mineralogia, que trata dos minerais conhecidos em sua época, Alberto Magno refere-se à alquimia da seguinte forma: “investiguei a transmutação dos metais entre os alquimistas para tratar de observar algo sobre a natureza e características dos metais” (ROBLES; BRIBIESCA, 2005, p. 341).

 

Para Alberto, a formação dos metais e minerais ocorria no interior da terra a partir de “exalações” úmidas e secas. As reflexões de Alberto Magno sobre alquimia levaram vários pensadores a se interessarem pela “Arte”, sendo Roger Bacon o primeiro a atribuir à alquimia tal valor e a reconhecê-la como ciência do mais alto nível (ALFONSO-GOLDFARB et al., 2016 apud LOMBARDE; KIOURANIS, 2021, p. 73).


Albert Poisson (1899) atribui a Alberto Magno a obra Le Composé des Composés (BACON; LE GRAND, 1974) onde, no primeiro capítulo, o frade dominicano trata da formação dos metais em geral pelo Enxofre e pelo Mercúrio. Os metais diferem entre eles segundo o grau do fogo que os engendra e segundo a pureza ou impureza da matéria primeira.


Observamos que a natureza dos metais, tal como nós conhecemos é de ser engendrados de uma maneira geral pelo Enxofre e pelo Mercúrio. A diferença apenas de cozimento e de digestão produz a variedade na espécie metálica... nós demonstramos com efeito claramente em nosso Tratado dos minerias que a geração dos metais é circular, passamos facilmente de um à outro seguindo um círculo, os metais vizinhos tem propriedades semelhantes; eis porque a prata se transforma mais facilmente em ouro do que qualquer outro metal... O Enxofre é por assim dizer seu pai e o Mercúrio sua mãe. É ainda verdade, se dizemos que na conjunção o Enxofre representa o esperma do pai e que o Mercúrio figura um mêsntruo coagulado para formar a substância do embrião. O Enxofre apenas não pode engendrar, assim como o pai sozinho (apud POISSON, 1899, p. 94 e 95).

 

De acordo com esta visão, uma matéria apenas não pode engendrar as demais. A transmutação dos metais ocorre a partir da combinação entre eles. O tratado prossegue abordando o tema da transmutação dos metais : « Compreendemos agora os filósofos quando eles dizem: “Nossa Grande Obra não é outra coisa senão uma permutação da natureza, uma evolução dos elementos” (apud POISSON, 1899. p. 120).


Referências 

ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia. Tradução de José Garcia Abreu. 3. ed. Vol. IV. Lisboa: Editoria Presença, s/d.

 

ALBERTUS MAGNUS. Libros I-IV Sen­tentiarum. Paris: ed. A. Borgnet, t. 25-30

 

ALFONSO-GOLDFARB, A. M. Da alquimia à química. São Paulo: Landy Editora, 2001.

 

ALFONSO-GOLDFARB, A. M.; FERRAZ, M. H. M.; BELTRAN, M. H. R.; PORTO, P. A. Percursos de história da química. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2016.

 

ANZULEWICZ, Henryk. Alberto Magno e seus alunos: tentativa de determinação de uma relação. Tradução de Matteo Raschietti. Scintilla – Revista de Filosofia e Mística Medieval, Curitiba, v. 17, n. 1, p. 13-74, jan./jun. 2020. Acesso em: 13 dez. 2023.

 

BACON, Roger; LE GRAND, Albert. Miroir D’Alchimie; Le Composé des Composés. Traduits du latin en français par Albert Poisson. Arché: Milano, 1974.

 

LOMBARDE, Washington; KIOURANIS, Neide Maria Michellan. A alquimia e os caminhos percorridos para a incorporação da química como ciência moderna. ENCITEC – Ensino de Ciências e Tecnologia em Revista, Santo Ângelo - Vol. 11, n. 1., p. 65-85, jan./abr. 2021.

 

POISSON, Albert. Cinq traités d'alchimie des plus grands philosophes. Paris: Collection Sciences Hermetiques, 1899.

 

ROBLES, J.; BRIBIESCA, L. En busca de la piedra filosofal: O ¿deberia todo químico moderno saber algo de alquimia? Parte II: Historia de la alquimia como búsqueda de conocimiento y práctica. Educación Química, v. 16, n. 2, p. 338-346, 2005.

 

STORCK, Alfredo. Alberto Magno : metafísico e teólogo. Discurso: revista do Departamento de Filosofia da USP, n. 40, p. 145-182, 2010.

 

 

 

Bibliografia Sugerida

 

SCHEEBEN. Albertus magnus. Colônia, 1955.

NARDI. Studi di filosofia medioevale. Roma, 1960, p. 69-150.