ESPIRITISMO

por Alexsandro M. Medeiros

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postado em: out. 2023

O Espiritismo é uma religião que tem origem na França no século XIX. Inicialmente atribuiu-se a esta doutrina um caráter mais filosófico e científico de bases religiosas e só, posteriormente, sobretudo aqui no Brasil, ganhou uma feição marcadamente religiosa.

O termo espiritismo deriva do francês “spiritisme”, uma palavra criada pelo pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail (mais conhecido por Allan Kardec, considerado não como o criador, mas como o codificador da doutrina espírita). O termo Espiritismo serve para designar o corpo de ideias por ele codificadas e sistematizadas com a publicação, em 1857, da obra O Livro dos Espíritos.

Mesmo sendo reconhecido muito mais como uma religião do que como uma ciência, Kardec dizia que o espiritismo alia aspectos científicos, filosóficos e religiosos. As cinco obras básicas da doutrina, conhecida também como “pentateuco” do Espiritismo, são: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese.

 

·  O Livro dos Espíritos: publicado em 1857, escrito no formato de perguntas e respostas, contém os princípios fundamentais da Doutrina Espírita.

·  O Livro dos Médiuns, ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores: publicado em 1861, é o livro, digamos assim, mais científico do pentateuco, pois aborda o caráter experimental e investigativo do espiritismo e procura estudar de forma metódica o fenômeno da mediunidade;

·  O Evangelho Segundo o Espiritismo: publicado em 1864, contém os princípios morais e religiosos da doutrina sobretudo, a partir dos ensinamentos do Cristo; nele são avaliados os preceitos morais ensinados por Jesus sob a ótica dos ensinamentos dos espíritos;

·  O Céu e o Inferno, ou A Justiça Divina segundo o Espiritismo: publicado em 1865, analisa temas como céu, inferno, purgatório, vida futura, eternidade das penas, temor da morte, anjos e demônios e inclui ainda dezenas de comunicações dadas pelos espíritos com relatos sobre a vida de além túmulo.

· A Gênese, ou Milagres e as Predições segundo o Espiritismo: publicado em 1868, aborda questões de ordem filosófica e científica, como a criação do universo, a formação dos mundos, o surgimento do espírito, além da natureza dos chamados milagres.

 

Há ainda algumas obras complementares (como O que é o Espiritismo?) além da publicação de uma Revista, a Revista Espírita, que ajudou a difundir a doutrina não apenas pela França mas pela Europa e diversos outros países mundo a fora.

Dentre os principais fundamentos da doutrina espírita encontramos a ideia de evolução, reencarnação, imortalidade da alma e a possibilidade de comunicação entre vivos e mortos através do fenômeno conhecido como mediunidade.

Além disso podemos destacar ainda as seguintes ideias:


O Livro dos Espíritos 

O Livro dos Espíritos (Le Livre des Esprits) é o primeiro livro da Codificação Espírita publicado por Allan Kardec. É uma obra escrita no formato de perguntas e respostas e contém os princípios do Espiritismo, como a questão sobre Deus, sobre o espírito, a imortalidade da alma, a criação dos mundos, o princípio da reencarnação, as Leis Morais e muitos outros temas. A obra é assim chamada, Livro dos Espíritos, porque contém os ensinamentos dos Espíritos, recebidos através de diversos médiuns, cujo conteúdo foi organizado por Allan Kardec.

A obra foi publicada em 18 de abril de 1857. A primeira edição continha 501 perguntas, depois foi ampliada e a versão final passou a conter 1019 perguntas. A obra foi o resultado dos estudos de Allan Kardec a partir dos fenômenos conhecidos como mesas girantes, que se tornaram bastante conhecidos no século XIX em toda a Europa e também nos Estados Unidos. Na introdução de O Livro dos Espíritos, Kardec (2013a) faz algumas considerações a este respeito. Kardec se refere as “danças das mesas ou mesas girantes” (item III da introdução) como os primeiros fenômenos que deram origem a doutrina espírita. De como, ao analisar este fenômeno, chegou à conclusão de que deveria uma causa inteligente para a manifestações desses fenômenos (item IV da introdução) e de os espíritos eram a causa dos fenômenos (individualidades inteligentes que sobreviviam a morte do corpo). Posteriormente, pôde constatar que os objetos físicos utilizados pelos espíritos poderiam ser substituídos, dando origem ao fenômeno da psicografia (item V da introdução), ou seja, as próprias pessoas poderiam ser utilizadas como “meio” para que os espíritos pudessem se comunicar e passaram a fazê-lo por meio da escrita, usando a mão do médium.

Ainda na introdução da obra encontramos algumas questões relacionadas aos vocábulos: espiritualista, espiritualismo, espírita e espiritismo; também sobre o conceito de alma (item II da introdução); um resumo dos principais ensinamentos obtidos pelos espíritos (item VI da introdução) além de muitas outras questões relacionadas ao estudo dos fenômenos chamados espíritas e também as objeções que se fizeram sobre a intervenção dos espíritos nesses fenômenos.

 

Algumas questões encontradas na obra sobre Deus

 

1. Que é Deus?

“Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”.

 

4. Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus?

“Num axioma que aplicais as vossas ciências. Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão responderá”.

 

10. Pode o homem compreender a natureza íntima de Deus?

“Não; falta-lhe para isso o sentido”.

 

11. Será dado um dia ao homem compreender o mistério da Divindade?

“Quando não mais tiver o espírito obscurecido pela matéria. Quando, pela sua perfeição, se houver aproximado de Deus, ele o verá e compreenderá”. 

O Livro dos Médiuns

O Livro dos Médiuns, ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores (Le Livre des Médiums), é considerado a segunda obra básica do Espiritismo e trata da parte científica da doutrina. Aborda o caráter experimental e investigativo da doutrina espírita, retomando a parte relativa aos fenômenos espíritas ou mediúnicos (que Kardec abordara de forma ainda vaga, na introdução de O Livro dos Espíritos).

Kardec (2013b) volta a tratar, agora de forma bem mais aprofundada, das chamadas das manifestações espíritas, como as manifestações físicas (mesas girantes) e de como a origem dessas manifestações deveria ter uma causa inteligente.

As primeiras investigações de Kardec tiveram por foco o fenômeno das mesas girantes (de que ele já falara na introdução do Livro dos Espíritos): um fenômeno em que algumas pessoas se reuniam em torno de mesas para se entreter com deslocamentos insólitos e aparentemente involuntários realizados por esses móveis.

Após alguns anos investigando o fenômeno, Kardec se viu então convencido da hipótese mediúnica como a forma mais consistente para explicar estas ocorrências, ou seja, a causa dos fenômenos das mesas girantes eram os espíritos. Isso porque, tais objetos, como as mesas, não realizam simples deslocamentos aleatórios e, de alguma forma, passou-se a obter algum tipo de comunicação com tais objetos através de batidas, por exemplo. Kardec catalogou então o que ele chamou de manifestações inteligentes através desses objetos. Alguém fazia uma pergunta, por exemplo, e estabelecia critérios como “uma batida para sim, duas para não”. Perguntas eram feitas e respondidas então de acordo com estes critérios até que, posteriormente, descobriu-se que era possível utilizar pessoas, os médiuns, como intermediário (comunicadores) entre os homens e os espíritos o que tornou o método de comunicação bem menos rudimentar do que através do uso de objetos físicos. Kardec, então, se empenhou em fazer um estudo analítico dessas diversas modalidades de comunicação estabelecidas entre homens e espíritos, que resultou em O Livro dos Médiuns.

Um dos casos mais conhecidos em torno das manifestações de efeitos físicos é o caso das irmãs Fox relatado, por exemplo, na obra História do Espiritismo (DOYLE, 2004) e do qual faremos aqui um pequeno resumo.

Em março de 1848 aconteceram, no pequeno povoado de Hydesville, nos Estados Unidos da América do Norte, alguns dos primeiros fenômenos espíritas dos tempos modernos, representando o prelúdio do advento da Doutrina Espírita, consumado com a Codificação Kardequiana. Em uma cabana desse pequeno povoado morava a família de John D. Fox, composta dos pais e alguns filhos, como Margareth, de quatorze anos, e Kate Foz, de onze anos. Algum tempo depois de se mudarem para esta cabana, a família começou a ouvir arranhões, ruídos insólitos e pancadas, vibradas no forro da sala, no assoalho, nas paredes e nos móveis, o que se tornou motivo de espanto e até de preocupação para aquela humilde família.

Foi então que na noite de 31 de março de 1848, descobriu-se um meio de “entrar em contato” com o fenômeno. A filha menor, Kate, começou a bater palmas e, de forma imediata, repetiram-se as palmadas. Quando ela parou, o som também parou em seguida. Margareth, então, disse, brincando, para fazer exatamente o que ela fazia e começou a contar de um até quatro e bateu palmas, o que foi repetido com exatidão. Ainda atônitos com o fato, a senhora Fox solicitou que desse as idades de todos os seus filhos, o que foi feito com notável precisão.

Havia-se estabelecido, desta forma, um sistema de comunicação com o mundo espiritual. Em seguida, criou-se um alfabeto convencional, por meio de pancadas e, por intermédio desse sistema bastante rudimentar, descobriu-se que o Espírito comunicante era um antigo vendedor ambulante de nome Charles Rosna, que, daquele modo, procurava revelar a sua presença e entrar em contato com as pessoas da casa.

Após estabelecer esse sistema de intercâmbio com o mundo espiritual, de que os fatos narrados foram apenas o prelúdio, outras entidades espirituais começaram a manifestar-se, fazendo entre outras a revelação de que as duas filhas de John Fox — Margareth e Kate — eram médiuns e de que a elas estava reservada a missão de cooperar nesse importante movimento de ideias.

Retomando O Livro dos Médiuns, nesta obra Kardec amplia a discussão teórica em torno das manifestações físicas (ruídos, barulhos, fenômenos de transporte de objetos) e considera outros tipos de manifestações como as manifestações visuais (aparições de espíritos). Dedica vários capítulos para tratar dos médiuns (indivíduos responsáveis por entrar em contato com os espíritos e receber comunicações): médiuns sensitivos, de efeito físico, falantes, videntes, escreventes, curadores etc. 

Referências

DOYLE, Arthur Conan. História do espiritismo. 2. ed. São Paulo: Pensamento, 2004.

KARDEC, Allan (coord.). O Livro dos Espíritos: filosofia espiritualista. tradução de Guillon Ribeiro. 93a. ed. 1. imp. (Edição Histórica). Brasília: FEB, 2013a.

KARDEC, Allan (coord.). O Livro dos Médiuns: ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores. tradução de Guillon Ribeiro. 81a. ed. 1. imp. (Edição Histórica). Brasília: FEB, 2013b. 

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