EDUCAÇÃO

por Alexsandro M. Medeiros

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postado em 2013

A vida humana é um eterno aprendizado. Logo que nasce, a criança aprende a mamar no seio da mãe e a chamar-lhe a atenção com seu choro. Ao longo da nossa infância aprendemos a falar, escrever, andar, brincar. A aprendizagem no ser humano é um processo fundamental, inclusive quando se considera a vida em termos de sociedade, comunidade, nação. “É, pois, por meio da aprendizagem que o homem se afirma como ser racional, forma sua personalidade e se prepara para o papel que lhe cabe no seio da sociedade” (CAMPOS, 2008, p. 16). Vivemos as experiências conflituosas da adolescência e aprendemos com elas. Tornamo-nos engenheiros, professores, artistas, pela aprendizagem. De tão importante, as sociedades passaram a organizar meios educacionais e escolas para tornar a aprendizagem mais eficiente.

Por isso desde a mais alta antiguidade, filósofos e pensadores se ocuparam e se pré-ocuparam com o problema da aprendizagem, sua origem, sua possibilidade, seu mecanismo. A educação sempre foi, ao longo da história, e ainda hoje o continua a ser, objeto de preocupação do homem. Além do mais, se partirmos do princípio de que o homem é um ser de aprendizagem, fica fácil de se entender porque a educação tem sido objeto de pré-ocupação do homem em todos os tempos. O homem é um animal que possui instintos, mas cuja maior parte de suas ações são determinadas pela sua capacidade de aprendizagem, adquirindo novos conhecimentos, seja através da sua experiência individual, seja por meio do contato com outros indivíduos. O exercício dessa capacidade do homem para adquirir novos conhecimentos deu origem ao processo que denominamos educação.

A filosofia, desde a sua origem, se ocupou com os mais diferentes problemas, desde uma cosmologia (com os filósofos pré-socráticos) até uma antropologia, política e ética (com Sócrates, Platão e Aristóteles). Era inevitável que estes filósofos, preocupados com toda a dinâmica do real, voltassem seus olhos também para a educação. Nesse contexto, coube ao filósofo refletir criticamente sobre a ação pedagógica, passando “de uma educação assistemática (guiada pelo senso comum) para uma educação sistemática (alçada ao nível da consciência filosófica)” (SAVIANI apud ARANHA, 1996, p. 108). Ao aprofundar a questão antropológica (que diz respeito ao homem), axiológica (relativa aos valores) e epistemológica (relativa ao conhecimento), os filósofos naturalmente se depararam com questões do tipo: como o homem pode adquirir o conhecimento? O que é o conhecimento? Qual a melhor forma (método) de transmitir o conhecimento? É possível ensinar a virtude?

“Além das análises antropológicas, axiológicas e epistemológicas acima referidas, a filosofia tem a função de interdisciplinaridade, pela qual estabelece a ligação entre as diversas ciências e técnicas que auxiliam a pedagogia” (ARANHA, 1996, p. 108). Além disso, “é necessário que a formação do pedagogo esteja voltada [...] também para a politização e fundamentação filosófica de sua atividade” (ARANHA, 1996, p. 108). E para os propósitos desta seção, vamos dar ênfase aos filósofos que trataram a questão da educação com uma abordagem que leve em consideração a ideia de que o homem é um “animal político” e cuja existência só pode ser pensada dentro das relações sociais, já que estamos tratando aqui de Educação e Política. Filósofos como Platão, Rousseau, John Dewey e Paulo Freire que pensavam a relação fundamental que existe entre o homem, a política e a educação: o homem como um ser de aprendizagem e que ao mesmo tempo precisa ser educado para a vida em sociedade, para exercer o seu papel de cidadão, tal como hoje preconiza a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) à respeito dos principais objetivos do sistema educacional brasileiro. Seja na Antiguidade, na Modernidade ou na Contemporaneidade, sempre houve filósofos preocupados não apenas com a questão pedagógica, mas de como preparar os indivíduos para a vida em sociedade.

Eis o que afirmaram alguns filósofos e teóricos da educação ao longo da história (apud COTRIM; PARISI, 1983, p. 14):

Filosofia, Educação e Política

Como dissemos, desde a mais alta Antiguidade, desde a sua origem, a filosofia esteve voltada para a questão pedagógica. Esta questão permaneceu fundamental à filosofia em todas as épocas. Desde Platão e Aristóteles na Antiguidade, passando por Kant e Rousseau na modernidade, até chegar à contemporaneidade com filósofos como John Dewey e Paulo Freire, a questão pedagógica esteve presente no pensamento de vários autores. No geral, o que há de comum entre estes autores, é a ideia da necessidade de como se deve educar o homem para a vida em sociedade e, por essa razão, a educação é essencialmente política, ela deve preparar os indivíduos para a vida em sociedade, para o exercício da cidadania e, em último caso até, tal como postulava Platão com a sua teoria dos filósofos-reis, é preciso educar os nossos governantes para que eles possam cumprir com a sua função essencial de governar uma sociedade. Vejamos de forma bem sucinta como alguns destes filósofos relacionavam a questão pedagógica com a questão política.

Para Platão, a filosofia tem uma dimensão igualmente pedagógica e política. Toda a política exige uma filosofia prévia que determine e defina o que é o Bem, o que é o justo, o que é o homem, o que é a educação. Por isso toda a filosofia é política e toda a política é filosófica. E se o problema político é o da reta direção do homem, o problema político (logo, filosófico) por excelência, é o problema da educação. Não há, pois, como separar filosofia, política e educação. O pensamento filosófico e político de Platão está diretamente relacionado com sua visão pedagógica, a qual é apresentada principalmente em suas obras A República e As leis.

Discípulo de Platão, Aristóteles defendia que a função principal da educação era conduzir o homem à felicidade. A sua filosofia da educação é apresentada na obra  Política. Segundo Aristóteles, o ser humano ao nascer é como um rio sem leito, que não sabe para onde vai e que a educação, ao longo do seu amadurecimento, deve guiar. Aristóteles aceita a educação tradicional grega, considerando, no entanto, que esta deve ensinar conceitos úteis e necessários à vida prática. Por outro lado, Aristóteles defende que a virtude moral e o bom caráter também devem ser ensinados, considerando que tais atributos não eram inatos no ser humano.

Aristóteles lembra ainda que a Política deve preparar as leis que permita a educação para a virtude, caminho para a felicidade dos cidadãos. Segundo Aristóteles, todas as coisas possuem uma causa final, uma finalidade. Toda ação é sempre intencional e, ao agir, sempre propomos ou visamos algum fim. Essa finalidade é ser feliz. Além disso, o bom cidadão é aquele que observa as leis da cidade e a educação deve visar este cidadão, pois o indivíduo que vive de acordo com a observância das leis da cidade é também virtuoso.

Uma das outras grandes figuras na história da filosofia da educação e que, igualmente, exerceu enorme influência, foi o filósofo do iluminismo francês Jean-Jacques Rousseau, para quem as “opiniões pedagógicas são inseparáveis das filosóficas, políticas, religiosas e morais” (CHATEAU, s.d., p. 189). Com efeito, o projeto rousseauniano é o de “reconstruir” o homem, fazendo-o seguir a sua própria natureza além da ideia de que é preciso reformar a sociedade que, tal como está, é má porque se desnaturalizou. Por isso, uma boa educação, aquela que é capaz de reformar o homem e a sociedade, é, portanto, uma educação diferente da que se pratica; é uma educação conforme à natureza. Desprovidos de tudo desde o nascimento, “formam-se (...) os homens pela educação” (ROUSSEAU,1990, p. 16).

Filósofo contemporâneo, John Dewey sentiu a necessidade de uma transformação educacional imposta pela filosofia fundada na nova ciência do mundo físico e a nova ciência do humano e do social. Como um dos grandes problemas contemporâneos continua a ser o da organização da sociedade, com uma filosofia adequada, em face dos novos conhecimentos científicos, das novas teorias do conhecimento, da natureza, do homem e da própria sociedade democrática, Dewey também voltou sua atenção para esta ideia no campo da educação, cabendo analisar mais demoradamente o fenômeno da democracia como forma do social. A escola deve ser um espaço democrático e formador da democracia. Dewey acredita na democracia, mas concebe que ela não estava concretizada totalmente. A educação teria esta função, a função de coordenar na vida mental de cada indivíduo, as diversas influências dos vários meios sociais em que ele vive. E isto porque um governo que se funda no sufrágio popular não pode ser eficiente se aqueles que o elegem e lhe obedecem não forem convenientemente educados. Uma vez que a sociedade democrática repudia o princípio da autoridade externa, deve dar-lhe como substitutos a aceitação e o interesse voluntários, função da educação. Desta forma Dewey conclui que uma sociedade é democrática quando prepara todos os seus membros para com igualdade aquinhoarem de seus benefícios e em que assegura o maleável reajustamento de suas instituições por meio da interação das diversas formas da vida associada. Esta sociedade deve adotar um tipo de educação que proporcione aos indivíduos um interesse pessoal nas relações e direção sociais, e hábitos de espírito que permitam mudanças sociais sem ocasionar  desordens.

Finalmente temos o patrono da educação brasileira: Paulo Freire. O seu envolvimento com a prática educativa é, como ele mesmo afirma, política, moral e gnosiológica (FREIRE, 1996). Para o grande teórico contemporâneo da educação brasileira não se pode estar no mundo de forma neutra, apolítica. “É impossível a neutralidade da educação [...] Ela é política” (FREIRE, 1996, p. 110). É bastante explícito em suas obras a relação entre a política e a prática pedagógica, que estão presentes em obras como A Pedagogia do Oprimido, A Pedagogia da Autonomia, e muitas outras. Sua obra apresenta um caráter político e social na medida em que, fazendo uma abordagem da educação enquanto instrumento de libertação de consciências e da necessidade da atuação do homem na sua própria existência, afirma não ser suficiente que o oprimido tenha consciência crítica da opressão, mas que se disponha a transformar a realidade. A Pedagogia freireana em geral é um convite a uma práxis libertadora: ação e reflexão sobre o mundo e sobre os homens para transformar a realidade.

Referências

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. 2. ed. revista e ampliada. São Paulo: Editora Moderna, 1996.

CAMPOS, Dinah Martins de Souza. Psicologia da Aprendizagem. 37. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

CHATEAU, Jean. Os grandes pedagogos. Lisboa, Edições Livros do Brasil, s.d.

COTRIM, Gilberto; PARISI, Mário. Fundamentos da educação: história e filosofia da educação. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 1983.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura).

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio. Mem Martins, Publicações Europa-América, 1990. 2 vols.

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