CIDADES INTELIGENTES

por Alexsandro M. Medeiros

lattes.cnpq.br/6947356140810110

postado em mar. 2019


A ideia de Cidades Inteligentes surge com o avanço das novas tecnologias de informação e comunicação (TIC) e se baseia na ideia de que as Cidades serão organizadas de acordo com sistemas inovativos e de tecnologias de informação e comunicação, influenciando em vários aspectos da organização social, desde o aspecto econômico até em melhorias no desenvolvimento urbano e na qualidade de vida de seus cidadãos.

O desenvolvimento e desempenho urbano na atualidade está cada vez mais atrelado a disponibilidade e a qualidade da comunicação e do conhecimento. Neste contexto destaca-se a crescente importância da Tecnologias de Informação e Comunicação. Para que uma cidade se torne inteligente, não é necessário substituir a estrutura física existente, mas proceder a uma integração entre a estrutura já existente e as tecnologias, adaptando segundo os interesses da cidade e para servir aos seus habitantes.

O conceito de Cidades Inteligentes pressupõe um modelo de gestão eficiente com base na utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação integradas com a participação ativa do cidadão. “Uma cidade inteligente é um lugar onde a conectividade é fonte de desenvolvimento a partir da utilização de infraestrutura de redes para melhorarem a eficiência econômica e política e permitirem o desenvolvimento social, cultural e urbano” (RIOS NETO; GIMENEZ, 2018, p. 2). As Tecnologias de Informação e Comunicação são “as viabilizadoras de um modelo capaz de implementar maior inteligência” (WEISS; BERNARDES; CONSONI, 2015, p. 312) nas cidades.

As cidades inteligentes são aquelas con­sideradas com capacidade de conectar de forma inovativa infraestruturas físicas e TICs, concentrando aspectos sociais, or­ganizacionais e tecnológicos com o intuito de aperfeiçoar as condições de sustentabi­lidade e de qualidade de vida da população (KANTER; LITOW, 2009 apud CÂMARA et al., 2016, p. 140).

Abaixo temos um quadro com uma breve definição do que pode ser considerado cidades inteligentes, a partir da visão de vários autores (WEISS, 2013, p. 53-54; WEISS; BERNARDES; CONSONI, 2015, p. 313):

O conceito de cidades inteligentes, embora pareça claro, não está de todo consolidado, considerando que a ideia é relativamente nova. Apesar de recente, o crescimento de pesquisas e trabalhos acadêmicos nos últimos anos têm sido consideráveis (CAMARA et al., 2012; COCCHIA, 2014; DAMERI; COCCHIA, 2013; DODGSON; GANN, 2011 EGER, 2009; HALL, 2000; HARRISON; DON­NELLY, 2011; JOHNSON, 2008; SHAPIRO, 2005; WASHBURN; SINDHU, 2010).

A visão inteligente das cidades também está atrelada a ideia de uma sociedade do conhecimento, onde a informação exerce um papel fundamental e a ideia de cidade digital, que faz uso de sistemas de redes, telecomunicações e informática transformando significativamente as formas de relacionamento e de vida.

Caracterizada usualmente pelas capacidades de aprendizagem, desenvolvimento tecnológico e inovação aplicados nos processos de gestão da dinâmica urbana, a cidade inteligente se sustenta nas infraestruturas digitais de forma a materializar esta inteligência (HERNÁNDEZ-MUÑOZ et al., 2011; KOMNINOS, 2011). Nesse sentido, a cidade digital não é necessariamente inteligente, mas a cidade inteligente tem, obrigatoriamente, componentes digitais (ALLWINKLE; CRUICKSHANK, 2011; NAM; PARDO, 2011b) (WEISS, 2013, p. 18)

A cidade inteligente tem na sua base as características de uma cidade digital, com uma infraestrutura de sistemas e aplicativos que auxiliam no gerenciamento dos serviços e na capacidade de crescimento e desenvolvimento econômico.

Uma cidade inteligente pode ser definida como um território que traz sistemas inovativos e TICs dentro da mesma localidade. Uma cidade inteligente deve combinar: (1) oferta ampla de banda larga […]; (2) educação, treinamento e força de trabalho eficazes para oferecer trabalho do conhecimento; (3) políticas e programas que promovam a democracia digital, reduzindo a exclusão digital, […]; (4) inovação nos setores público e privado e iniciativas para criar agrupamentos econômicos e capital de risco para apoiar o desenvolvimento de novos negócios; e (5) marketing do desenvolvimento econômico efetivo que alavanque a comunidade digital, para que ela atraia empregados e investidores talentosos (Ministério das Comunicações, 2016, p. 3 apud FIGUEIREDO, 2016, p. 6-7).

Jump (2007) ressalta que as cidades inteligentes, sendo mais inovadoras, criam sistemas urbanos mais eficazes, com maior possibilidade de enfrentar os desafios contemporâneos e problemas urbanos.

A maior eficácia se baseia em soluções/plataformas que integram a inteligência humana, coletiva e artificial. Alguns dos principais campos de atuação das Cidades Inteligentes são apresentados na seguinte Tabela por Jump (2007).


A aplicação da tecnologia no modo de organização das cidades pode ser pensada de forma ampliada em áreas como: economia, mobilidade urbana, governança, meio ambiente, qualidade de vida, educação, saúde e muito mais.

Arquitetura de sistemas de gerenciamento para cidades inteligentes

(WEISS, 2013; WEISS; BERNARDES; CONSONI, 2015, p. 314)


Veja as seguintes tabelas para uma visão da possibilidade de aplicação da tecnologia em uma cidade inteligente (WEISS, 2013, p. 61-62)

Estamos diante de um novo paradigma. Quando se fala em cidades inteligentes, podemos aplicar essa categoria de diversas formas. Podemos pensar, por exemplo, em uma governança inteligente, economia inteligente, assistência à saúde inteligente,  mobilidade inteligente. Quando se pensa em mobilidade inteligente, pensa-se na aplicação da tecnologia nos diferentes aspectos de mobilidade urbana como monitoramento de tráfego e serviços de transporte, por exemplo, que estimulem iniciativas para reduzir os níveis de congestionamento criando alternativas de deslocamento eficientes, rápidas e com baixo custo. A este respeito, veja-se a edição de outubro de 2015, dos Cadernos da FGV Projetos, intitulado: Cidades Inteligentes e Mobilidade Urbana.

Para ser implementada, uma cidade inteligente deve preparar os seus cidadãos para o uso da tecnologia, desenvolver a infraestrutura já existente tornando a tecnologia acessível a todos.

Para uma cidade inteligente prosperar, Hollands (2008) propõe quatro fatores que têm dominado as diferentes concepções e projetos dela: foco nas tecnologias de infor­mação e comunicação e nas infraestruturas em rede; desenvolvimento urbano induzido pelo mercado; ênfase nas indústrias inten­sivas em tecnologia; preocupação com a sustentabilidade ambiental. O autor ainda defende que as cidades inteligentes do futu­ro deverão partir das pessoas e das comu­nidades onde vivem e trabalham. A cidade inteligente precisa criar uma verdadeira mu­dança no equilíbrio de poder entre o uso de TI pelas empresas, governo, comunidades e pessoas comuns, bem como encontrar o equilíbrio entre o crescimento econômico e a sustentabilidade (CÂMARA et al., 2016, p. 141).

Principais áreas envolvidas no projeto Smart City 2 (RIOS NETO; GIMENEZ, 2018, p. 5)

Fluxo bottom-up para o desenvolvimento das cidades inteligentes (DAMERI, 2013)

O que se observa neste fluxo é que a tecnologia está na base do processo, na qual são importantes áreas como a engenharia, ciências da informação, logística. Mas a base tecnológica não é tudo. Uma cidade inteligente tem o componente social – que deve contribuir para melhoria da qualidade de vida das pessoas –, o componente ecológico – de modo a garantir que uma cidade inteligente seja ecologicamente sustentável –, precisa integrar elementos de investimentos em infraestrutura e questões ligadas à educação, inclusão social, participação popular, capital social e humano.

O desenvolvimento de uma cidade inteligente envolve a existência de uma infraestrutura tecnológica e digital que permita aos cidadãos um amplo acesso de informações. Essa infraestrutura tecnológica envolve fatores como: Internet das Coisas, Big Data, Inteligência Artificial, Computação na Nuvem, Redes Sociais, Centro Integrado de Operação e Controle, Câmeras Digitais, Sistema de Georreferenciamento, Sistema de Telemedicina, Sistema de Gestão de Educação e Educação à Distância, Acesso a Internet em Espaços Públicos e de Alta Velocidade.

Criar cidades inteligentes não se trata de uma revolução, de uma organização orientada a sistemas, de um conceito tecnológico ou de um fenômeno localizado particularmente. Trata-se, ao contrário, de uma evolução, de uma orientação a serviços, de desenvolvimento socioeconômico e de um fenômeno global (NAM; PARDO, 2011b) em que se busca não a substituição das estruturas físicas, mas a harmonização entre o mundo material e o mundo virtual, entre todos os subsistemas do sistema urbano, no melhor interesse dos atores que atuam nas cidades em suas características particulares e da proximidade saudável das cidades (BOSCHMA, 2005; BOYKO et al., 2006; MARKUSEN, 2006; NAM; PARDO, 2011a; TOPPETA, 2010; RASOOLIMANESH; BADARULZAMAN; JAAFAR, 2011) (WEISS, 2013, p. 55)


Criar cidades inteligentes é um caminho sem volta. Não podemos parar o progresso e o desenvolvimento tecnológico. É claro que muitas questões precisam ser levadas em consideração nesse contexto, pois não se trata simplesmente de aplicar a tecnologia em todos os setores da vida de forma irrestrita e irrefletida. A tecnologia está longe de ser a solução para os problemas de uma cidade, ao que compete à sociedade e seus cidadãos estar no controle do seu uso, planejando de forma responsável uma cidade inteligente.

Referências 

CADERNOS FGV PROJETOS. Cidades Inteligentes e Mobilidade Urbana. N. 24, out. 2015.

CÂMARA, Samuel Façanha [et al.]. Cidades inteligentes no nordeste brasileiro: análise das dimensões de trajetória e a contribuição da população. Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 21, n. 69, p. 137-157, mai./ago. 2016. Acesso em 24 fev. 2019.

CÂMARA, Samuel Façanha [et al.]. É possível o Nordes­te brasileiro ter cidades inteligentes e inova­doras? A proposta de um Framework. Anais do Encontro de Administração Pública da ANPAD – EnAPG, Salvador, 5, 2012.

COCCHIA, A. Smart and digital city: a systematic literature review. Smart City: How to Create Public and Economic Value with High Technology in Urban Space, 13-43, 2014.

DAMERI; R. P.; COCCHIA, A. Smart city and digital city: twenty years of terminology evolution. X Conference of the Italian Chapter of AIS, ITAIS 2013, Università Commerciale Luigi Bocconi, Milan (Italy), 2013.

DAMERI, R.P. Searching for Smart City definition: a comprehensive proposal. International Journal of Computers & Technology, 11(5), 2544-2551, 2013.

DODGSON, M.; GANN, D. Technological innovation and complex systems in cities. Journal of Urban Technology, 18(3), 101-113, 2011.

EGER, J. M. Smart growth, smart cities, and the crisis at the pump a worldwide phenomenon. I-WAYS - The Journal of E-Government Policy and Regulation, 32(1), 47-53, 2009.

FIGUEIREDO, Gabriel Mazzola Poli de. Cidades Inteligentes no contexto brasileiro: a importância de uma reflexão crítica. Anais do VI Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo Porto Alegre, 25 a 29 de Julho de 2016.

HALL, R. E. The vision of a smart city. Proceedings of the 2nd International Life Extension Technology Workshop, Paris, França, 2000.

HARRISON, C.; DONNELLY, A. A theory of smart cities. IBM Corporation. Retrieved, 2011.

JOHNSON, B. Cities, systems of innovation and economic development. Innovation: Management, Policy & Practice, 10(2-3), 146-155, 2008.

JUMP, Droege, P. Intelligent Environments: spatial aspect of the information revolution. Oxford: Elsevier, 2007.

KANTER, R. M.; LITOW, S. Informed and interconnected: a manifesto for smar­ter cities. Harvard Business School General Management Unit Working Paper 09-141, 2009.

RIOS NETO, João Vieira; GIMENEZ, Edson Josias C. Cidades Inteligentes: sua contribuição para o desenvolvimento urbano sustentável. VII SRST – Seminário de Redes e Sistemas de Telecomunicações Instituto Nacional de Telecomunicações – INATEL. Setembro de 2018.

SHAPIRO, M. J. Smart cities: quality of life, productivity, and the growth effects of hu­man capital. University of Chicago, 2005.

WASHBURN, D.; SINDHU, U. Helping CIOs understand “smart city” initiatives. 2010.

WEISS, M. C. Cidades inteligentes como nova prática para o gerenciamento dos serviços e infraestruturas urbanos: estudo de caso da cidade de Porto Alegre. (Dissertação de mestrado). Centro Universitário da FEI, São Paulo, 2013.

WEISS, Marcos C.; BERNARDES, Roberto C.; CONSONI, Flávia L. Cidades inteligentes como nova prática para o gerenciamento dos serviços e infraestruturas urbanos: a experiência da cidade de Porto Alegre. URBE –  Revista Brasileira de Gestão Urbana, v. 7, n. 3, p. 310-324, set./dez., 2015. Acesso em 25 fev. 2019.

Veja Nossas Apresentações de Slides do PowerPoint e Prezi sobre Cidades Inteligentes

Cidades Inteligentes.pptx