BIOENERGÉTICA

por Alexsandro M. Medeiros

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postado em abr. 2024


A bioenergética tem origem no campo das psicoterapias corporais, a partir dos trabalhos do psicanalista Wilhelm Reich, que introduziu importantes formulações sobre aspectos específicos do funcionamento somático no campo terapêutico.

Alexander Lowen e John Pierrakos, discípulos diretos de Reich, criaram o conceito de bioenergética em 1953, sendo que dos dois, apenas Lowen prosseguiu com os estudos neste campo que também é conhecida como análise bioenergética (AB) que tem como característica propor uma visão integral do ser humano em uma unidade mente-corpo e levando em consideração seus mais diferentes aspectos: físico, mental, emocional, energético e ambiental. Lowen, um médico e psicoterapeuta estadunidense, “via o sujeito não apenas pelos seus processos psicológicos, mas também pelo corpo e energia, buscando sempre uma compreensão analítica psicodinâmica do sujeito” (SOUZA, et. al., 2019, p. 36).

Desde então, a AB passou a envolver “trabalhos com o corpo que vão desde a liberação das tensões, passando por posturas que facilitam as vibrações naturais do corpo, além de outros movimentos que tornam esse trabalho uma importante ferramenta, no processo terapêutico” (Oliveira; Silva; Rolim, 2013, p. 76). A AB leva em conta conceitos fundamentais da teoria de Reich como: “couraça muscular, segmentos da couraça muscular e algumas técnicas corporais que envolvem a postura grounding, a respiração e a massagem” (Oliveira; Silva; Rolim, 2013, p. 76).

Em meados da década de 1950 foi criado o International Institute for Bioenergetic Analyses (IIBA) que contribuiu para compartilhar os trabalhos de Lowen. “Seu principal meio de difusão internacional da produção técnica e científica é o The Clinical Journal of the International Institute for Bioenergetics Analysis que é publicado desde 1985, encontrando-se em seu vigésimo oitavo volume” (Brasil, 2018, p. 11). Na Itália, a Sociedade Italiana de Análise Bioenergética (Società Italiana di Analisi Bioenergetica) foi fundada em 1978 sendo afiliada do IIBA. Também na Itália, encontramos o Instituto Italiano de Formação em Análise Bioenergética (Istituto Italiano di Formazione in Analisi Bioenergetica), fundado em 1990. No Brasil, “a Sociedade Brasileira de Análise Bioenergética (SOBAB) foi fundada em 1981 pelas psicólogas Myrian de Campos e Odila Weigand, na cidade São Paulo-SP” (Barreto; Santos; Silva, 2020, p. 78).

Partindo do princípio de que o nosso corpo é uma máquina produtora de energia, seja através da respiração (o oxigênio, proveniente da respiração, incide diretamente no metabolismo energético e na produção de energia celular), alimentação ou do metabolismo e também da descarga desta mesma energia através dos movimentos, Lowen formulou a ideia de que “a quantidade de energia que uma pessoa tem e como a usa, determinam o modo como responde às situações da vida” (Brasil, 2018, p. 12). Na análise bioenergética o conceito de energia se relaciona com a vitalidade do organismo e os processos bioquímicos e metabólicos que permitem ao corpo manter-se vivo.

Lowen tomou como ponto de partida “o funcionalismo sistêmico de Wilhelm Reich” (Brasil, 2018, p. 12) e passou a considerar “a existência de uma energia única e biológica, uma bioenergia que está na base de toda e qualquer manifestação de vida” (Brasil, 2018, p. 12), sendo que esta energia se manifesta igualmente no corpo e na mente. Seguindo os preceitos de Reich, Lowen considera que esta energia se manifesta em todos os processos da vida humana, através de sentimentos, pensamentos e também organicamente: “o conceito de energia tratado por Lowen equivale a uma força que percorre o ser vivo [...] todo ser humano é um campo vibratório de forças com intenso trânsito energético” (Brasil, 2018, p. 13-14). O nosso corpo funciona como um sistema energético e quando ocorre o bloqueio do fluxo da energia pelo organismo isto afeta diretamente a saúde corporal

A bioenergética toma como base, portanto, uma visão vitalista do ser humano e do mundo pois entende que os processos energéticos do corpo estão relacionados com o seu estado de vitalidade e, com base neste princípio, procura trabalhar com recursos terapêuticos não invasivos, a partir do toque terapêutico, exercícios corporais e respiratórios, sendo que os distúrbios de saúde ocorrem devido a um desequilíbrio nos processos de carga e descarga das energias que circulam no organismo.

 

No Brasil, o campo de aplicabilidade da bioenergética expandiu-se para além do âmbito do trabalho psicoterapêutico (ALVES; CORREIA, 2014), encontrando-se presente no contexto mais amplo da saúde pública e da atenção primária à saúde. Os recursos para trabalhar com grupos através dos exercícios bioenergéticos, têm demonstrado benefícios para auxiliar no tratamento de patologias específicas como no caso da hipertensão arterial e no uso abusivo de psicoativos (LIMA et al., 2012; BARRETO et al., 2015) ou, ainda, no contexto da promoção da saúde integral e da formação humana dos profissionais do SUS (BARRETO et al., 2014) (Brasil, 2018, p. 10).

 

Com base na proposta de Lowen, há uma diversidade de exercícios que servem de recursos para promover a saúde, lidar com tensões corporais crônicas e até mesmo as limitações expressivas e emocionais. “Dessa forma, a bioenergética procura cuidar do sofrimento em sua manifestação corporal-mental e conduzir os sujeitos à conexão com sua vitalidade, graciosidade e criatividade” (Brasil, 2018, p. 13).

 

Bioenergética no SUS

 

Com a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) a bioenergética passou a ser regulamentada no âmbito no SUS desde 2018, embora sua presença seja mais antiga. A partir do trabalho pioneiro em Recife, das psicólogas Margarida Laranjeira e Graça Serrano e da médica psiquiatra Auxiliadora Falcão, “em maio de 2006, já ressaltava o uso da bioenergética em Recife, na Unidade de Cuidados Integrais à Saúde (Ucis), mesmo esta não constando das práticas relacionadas na Portaria Ministerial nº 971, de maio de 2006” (BRASIL, 2018, p. 28).

A bioenergética pode contribuir de várias formas para a promoção da saúde e do bem-estar, seja no cuidado com a saúde mental (a partir da visão integrada mente-corpo, aplicando técnicas de posturas corporais), tratamento de transtornos psicossomáticos e no cuidado com portadores de doenças crônicas não transmissíveis ou autoimunes. “A AB encontra-se presente em práticas de promoção e tratamento à saúde, através de diversos profissionais, entre eles, psicólogos e médicos que trabalham com esta abordagem” (Barreto; Santos; Silva, 2020, p. 78).

Na análise bioenergética, a observação atenta da linguagem do corpo (das manifestações corporais) e das emoções representam um importante instrumento para avaliar a saúde do organismo. O corpo deve ser observado a partir de sua capacidade de mover-se e respirar. Lowen propôs então um conjunto de exercícios para ajudar a manter o corpo saudável. 

Figura - Diagrama de aplicabilidades e benefícios obtidos pela bioenergética

Fonte: Coletivo de colaboradores em bioenergética, assessor da MS/SAS/DAB/CNPICS, 2018 (apud BRASIL, 2018, p. 44) 

Referências

BARRETO, A. F.; SANTOS, G.; SILVA, J. F. Análise Bioenergética: uma Revisão Integrativa das metodologias utilizadas no campo nos últimos 10 anosRevista Latino-Americana de Psicologia Corporal, v. 7, n. 9, p. 77-99, jun. 2020. Acesso em: 01 abr. 2024.

 

BARRETO, A. F.; [et. al.]. Atenção biopsicossocial a pessoas com hipertensão no SUS. Revista Latino-Americana de Psicologia Corporal, v. 2, n. 4, out. 2015. Acesso em: 01 abr. 2024.

 

BARRETO, A. F.; [et. al.]. Cuidando e formando de modo integrativo: A psicologia corporal como via de humanização e educação permanente no SUS de Juazeiro/BA. In: Barreto, A. (Org.) Práticas Integrativas em saúde: proposições teóricas e experiências na saúde e educação. Recife: Editora UFPE, 2014, p. 253-273.

 

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Coordenação Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde. Conhecendo as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde: Bioenergética. [recurso eletrônico]. Brasília: Ministério da Saúde, 2018.

 

LIMA, H.O.; CAVALCANTI, L.M.; SILVA, E.C.; MOURATO, C.R.; BARRETO, A.F.; BUSSULAR, J.T.H. À sombra do cajueiro, a voz, o olhar e o corpo se movimentam na construção do vínculo seguro: uma experiência de cuidado integral com usuários de drogas. Em: SANTOS, J.E.; BARRETO, A.F.; SILVA, M.G. (Orgs.). Saúde e Drogas: Por uma integralidade do cuidado ao usuário de substâncias psicoativas. Recife, Editora da UFPE, p. 187- 208; 2012.

 

OLIVEIRA, G. F. de; SILVA, R. C. A. da; ROLIM, S. G. Análise Bioenergética: Uma Revisão Sistemática da Literatura. Id on line Revista de Psicologia, v. 7, n. 20, jul. 2013. Acesso em: 31 mar. 2024.

 

SOUZA, A. C. A. de; [et. al.]. Análise Bioenergética: um Panorama dos Estudos Publicados na Atualidade. In: COSTA, E. M. (org.). Bases Conceituais da Saúde 6 [recurso eletrônico]. Ponta Grossa-PR: Atena Editora, 2019.