JUDAÍSMO
por Alexsandro M. Medeiros
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postado em: mai. 2024
O Judaísmo é a religião do podo judeu. É uma das mais antigas religiões monoteístas, sendo a mais antiga das três grandes religiões abraâmicas (termo derivado de Abraão que é considerado como o pai do povo judeu): judaísmo, cristianismo e islamismo. “Deus, tendo-se revelado por meio de Israel, foi chamado Deus de Israel, como anteriormente fora chamado de Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó” (Neuman, 1956, p. 253). Abraão teve como filho Isaac que por sua vez gerou Jacó, cujos descendentes foram escravizados no Egito. A origem do povo judeu remonta a “Abraão e sua peregrinação até a Terra Prometida. Mais tarde, em Moisés, a lei é oferecida e é criada uma classe sacerdotal, que atuava junto ao Tabernáculo e, depois, ao Templo de Jerusalém” (Silva, 2016, p. 18).
De acordo com o judaísmo, Deus revelou as suas leis e mandamentos a Moisés no Monte Sinai, que foi o responsável também por liderar a libertação dos descendentes de Jacó da escravidão do Egito. Este movimento é conhecido como Êxodo, que é também o nome dado a um dos livros da Torá, a principal fonte escrita da religião judaica que se baseia também na chamada Bíblia Hebraica (também conhecida como Tanakh) e nos textos posteriores conhecidos como Talmud.
A Torá é constituída pelos livros de Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. “A Torá, ou Lei, é a grande revelação do Deus dos hebreus dada a Moises e entregue ao povo no monte Sinai. Em seu bojo, a orientação da conduta moral, civil e religiosa-litúrgica” (Silva, 2016, p. 15).
Na Toráh podemos encontrar inúmeras passagens que falam da missão de Israel, em que Deus anuncia a dispersão do Povo Eleito por todo o mundo. Para os judeus, esta é uma promessa positiva, que mostra o futuro de Israel para a humanidade (Barbosa, 2006, p. 23).
O Tanakh é constituído dos livros da Bíblia escritos originalmente em hebraico antigo e também em aramaico e equivale ao Antigo Testamento protestante. Suplementar ao Talmude, tem-se o Midrash: “Consiste em coleções de sermões, lendas, dissertações, parábolas e oráculos. O Talmude e o Midrash se completam; são o verso e o reverso de uma única moeda” (Neuman, 1956, p. 296).
Princípios da Fé Judaica
No século XII, o filósofo judeu Maimônides propôs um projeto com treze artigos de fé. É preciso considerar que há divergências sobre tais artigos de fé no seio do judaísmo, como as críticas feitas por um outro filósofo judeu, Hasdai Crescas, ou até mesmo aqueles que consideram que no judaísmo não há dogmas, como no caso do filósofo judeu Moisés Mendelssohn no séc. XVIII.
Sobre os artigos fé de Maimônides, iremos considerá-los aqui não como dogmas irrefutáveis, mas como uma forma didática para falar da fé judaica. São eles:
1) crença na existência de Deus; 2) na Sua unidade; 3) em Sua imaterialidade; 4) na eternidade de Deus; 5) crença de que a adoração é devida somente a Ele; 6) crença na profecia; 7) crença de que Moisés foi o maior de todos os profetas; 8) que a Torá (Lei escrita e oral) foi revelada a Moisés no Sinai; 9) que Deus é imutável; 10) que Deus é onisciente; 11) crença na recompensa e no castigo neste mundo, e na vida futura; 12) crença na vinda do Messias; 13) na ressurreição dos mortos (Neuman, 1956, p. 263).
Um dos princípios básicos da fé judaica é a crença não só na existência de que Deus, mas de que este Deus é único Deus (monoteísmo), imaterial, eterno, imutável e onisciente. Outros atributos que podem ser atribuídos a Deus são: o amor, a justiça e a misericórdia; há também a crença de que Deus se preocupa com as ações da humanidade, o que é retratado de diferentes modos na Bíblia Hebraica, como a promessa que Deus fez a Abraão, de que faria de seus filhos uma grande nação.
O judaísmo se baseia na revelação de Deus, sendo que a Torá é a revelação eterna dada por Deus aos judeus. Há o conjunto de mandamentos e leis que constituem a aliança de Deus com os homens. Tais mandamentos foram recebidos por Moisés no Monte Sinai.
O judaísmo também leva em consideração a possibilidade de que Deus possa se revelar através dos profetas. “Baseando-se no Pentateuco, nos Profetas e na tradição oral, o judaísmo viu manifestações sucessivas e variadas de Deus e de sua vontade revelados diversamente na história” (Neuman, 1956, p. 253). Como consequência do profetismo, temos o tema da escatologia judaica, que se refere às diferentes interpretações dadas aos temas relacionados ao futuro. De acordo com esta escatologia, todas as nações deverão se submeter, no futuro, a Deus e a Torá, sendo que Israel ocupará aqui um lugar de proeminência.
Mas a esperança de um futuro melhor não deve ser vista como uma renúncia ao mundo presente: “O judaísmo rejeitou enfaticamente essa atitude de renúncia à sociedade e ao mundo, pois ele compreendia dois mundos, este e o próximo” (Neuman, 1956, p. 275). O dia da ressurreição dos mortos, a imortalidade da alma, a divisão de um mundo após a morte em Paraíso e Inferno são temas de intensos debates teológicos e filosóficos, mas que nem por isso deve-se renunciar à preocupação com os problemas humanos e os flagelos deste mundo. E para realizar os elevados objetivos do Reino de Deus na Terra, o judaísmo relaciona a Torá com a concepção de Lei: “A Torá, ou Lei, no judaísmo é tanto instituição, quanto fé; é uma concepção teológica e uma codificação de leis. Ambas são complementares e inter-relacionadas. A Torá é a constituição de um povo, cujo ideal é o Reino de Deus” (Neuman, 1956, p. 276). A Lei aqui é considerada a partir de uma perspectiva teológica, como dogma ou lei canônica, que se relaciona com as questões sociais na forma de jurisprudência. Não há distinção entre a chamada lei religiosa e a lei que trata das relações humanas. Na Torá temos as Leis do Pentateuco, que abrange os deveres do homem para com Deus e também para com os outros homens e a sociedade. A partir desta base evoluiu o sistema de leis rabínicas que compreende as relações humanas pessoais, sociais, nacionais e internacionais. Todas as ações humanas estão sujeitas à legislação do Pentateuco e também ao desenvolvimento das leis rabínicas. “Na doutrina judaica, essas leis não são consideradas atos legislativos comuns. São decretos divinos [...] a Torá pode ser considerada como a lei ou constituição do reino de Deus na Terra” (Neuman, 1956, p. 278).
Temos ainda o tema de messianismo (do hebraico ungido, messias), que pode variar de acordo com as diferentes ramificações do judaísmo, já que este tema não aparece na Torá. O messias no judaísmo tem um sentido diferente do cristianismo, onde o messias é visto como um salvador. No judaísmo, o messias virá para reinar sobre Israel e reconstruir a nação, fazendo com que todos os judeus retornem à Terra Santa, unindo os povos sob o domínio de Deus. “O advento do Messias deve inaugurar o triunfo do reino de Deus na Terra [...] uma nova ordem de paz e justiça já de prevalecer ‘no fim dos dias’, sob o governo de Deus e de seus fiéis” (Neuman, 1956, p. 268). No dia do Juízo, Deus tocará a trombeta e reunirá todos os homens e nações sob o governo do Messias, “com Israel conduzindo as nações ao Deus de Sião” (Neuman, 1956, p. 293).
Símbolos da Fé Judaica
Um dos símbolos mais conhecidos e de grande valor associado ao Judaísmo é A Estrela de Davi, também conhecida como escudo de David ou o selo de Salomão. É uma estrela de seis pontas, composta por dois triângulos entrelaçados. Este símbolo compõe, inclusive, “a bandeira de Israel e aparece frequentemente em decorações e acessórios. Representa assim a História dos judeus e simboliza a perpetuidade e o sagrado quando carregado e colocado na casa ou junto ao corpo” (Calvo; Dorfman, 2022, p. 145). Szpiczkowski (1999) propõe a seguinte representação para à Estrela de David conforme imagem mais abaixo.
“Um dos mais antigos símbolos de fé do judaísmo é a menoráh, um candelabro com sete braços usado no templo” (Barbosa, 2006, p. 22). De acordo com a tradição, a Menoráh teria sido feita pelo próprio Moisés para simbolizar os arbustos em chamas que ele viu no Monte Sinai. “Já no livro do Êxodo, no capítulo que se refere ao Tabernáculo (25: 31-40), o candelabro aparece como um dos objetos de culto mais importantes” (Szpiczkowski, 1999, p. 150). O candelabro também aparece em Zacarias (4: 1-6): “em que ele expressa suas profecias usando o castiçal de ouro de sete braços como símbolo do Espírito Divino que acompanha o povo judeu e o levará de volta à Terra de Sion” (Szpiczkowski, 1999, p. 150-151). Assim como a Estrela de David, a Menoráh é um dos símbolos do Estado de Israel, como destacam Calvo e Dorfman (2022).
Há também um pequeno pergaminho com versículos bíblicos colocado no batente da porta na entrada da casa, a Mezuzá. De acordo com Szpiczkowski (1999, p. 157), Mezuzá significa, literalmente, “umbral” ou “batente de porta”. “Mezuzah, é um mandamento presente na Torá. Ela contém no seu interior um pergaminho com duas orações judaicas muito importantes e é fixada no umbral das portas. As duas orações da Mezuzá são o Shemá e a Vehaya” (Calvo; Dorfman, 2022, p. 144). Faz parte da tradição que, ao passar pela porta, na entrada ou saída, deve-se colocar a mão sobre a Mezuzá e beijá-la em sentido de respeito, pois a Mezuzá tem a função de ressaltar a presença de Deus e o compromisso firmado com ele. Esta tradição se baseia em uma passagem de Deuteronômio (6:9 e 11:20), onde está escrito: “E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas”.
A Estrela de David. Significado. (Szpiczkowski, 1999, p. 154)
Referências
BARBOSA, L. A. Resistência Cultural dos Judeus no Brasil. 2006. 103 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião), Departamento de Filosofia e Teologia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia-GO, 2006.
CALVO, J.; DORFMAN, B. C. Lugares do Judaísmo e o Sagrado: Identidade, Comunidade e Afetos. Caderno de Geografia, v.32, n.68, p. 138-155, 2022. Acesso em: 25 mai. 2024.
NEUMAN, A. A. Judaísmo. In: JURJI, E. J. (org.). História das Grandes Religiões. Tradução de Amália Machado Costa Lobo. Rio de Janeiro: Edições O Cruzeiro, 1956.
SILVA, L. L. de. A Cabala no Contexto da Pós-Modernidade. 2016. 91 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião), Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia-GO, 2016.
SZPICZKOWSKI, A. Símbolos Visuais Judaicos. Revista de Estudos Orientais, n. 3, p. 149-160, 1999. Acesso em: 25 mai. 2024.
Veja também:
Comunidade Judaica no Brasil
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