ISLAMISMO

por Alexsandro M. Medeiros

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postado em: jul. 2023

 

O Islamismo é uma religião abraâmica (de Abraão) monoteísta (crença em um único Deus). O Islamismo é derivado da palavra “Islão” ou “Islam”, que deriva da palavra árabe salam, que significa paz. “Mais tarde, o termo [salam] passou a ser usado com o sentido restrito de entregar-se à religião do profeta Maomé” (KALAOUN, 2016, p. 26), ou seja, significa “submissão” (a Alá), sendo os adeptos do Islamismo chamados de muçulmanos, derivado da palavra “muslim”, que significa “aquele que se submete”. O Islamismo se baseia sobretudo no livro do Alcorão mas também considera os ensinamentos revelados por profetas anteriores como Adão, Abraão (Ibrahim), Moisés (Musa) e Jesus (Isa ou Issa, que não é considerado como o Messias pela tradição islâmica) e, por isso, considera o judaísmo e o cristianismo como religiões predecessoras espirituais do Islamismo. “Os mulçumanos referem-se a Abraão como o ancestral de todos os monoteístas e acreditam e creem sem distinção de Adão a Maomé passando por Moisés e Jesus” (KALAOUN, 2016, p. 13). O Alcorão (2:135-136) refere-se a Abraão e aos profetas da seguinte forma: “Não, segui antes a religião de Abraão, um homem de fé pura, que não era um idólatra. Cremos em Deus e no que nos foi revelado e no que foi revelado a Abraão [...] e no que foi outorgado a Moisés e a Jesus e aos Profetas pelo seu Senhor”. O Alcorão é o livro sagrado do Islamismo que contém

preceitos de crenças e de conduta, diretrizes morais, prescrições legais, exortações e admoestações, condenação e censura aos pecadores, advertências sobre a verdade, palavras de consolo aos que sofreram perseguições por sua fé em Deus, argumentos e evidências que corroboram com sua mensagem básica, alusões aos sinais divinos do universo, relatos sucintos de fatos passados (KALAOUN, 2016, p. 31).

Da mesma forma que Deus enviou o Alcorão através de Maomé, acredita-se que Deus revelou outros livros aos seus profetas, tais como a Torá (Tawrat) de Moisés, os Salmos (Zabur) de Davi e o Evangelho (Injil) de Jesus Cristo. Entretanto, “Os mulçumanos não acreditam nesses livros porque no Alcorão cita as alterações introduzidas nestes e que as palavras de Deus foram misturadas com textos de autoria humana” (KALAOUN, 2016, p. 31). Ainda de acordo com Oliveira (2001, p. 30 apud KALAOUN, 2016, p. 31): “As alterações destes livros foi tão grande e tão evidente que mesmo os Judeus e cristãos admitem que não possuem os textos originais, e sim as suas traduções, e que há muitos séculos muitas alterações foram e continuam a ser feitas”.

O principal profeta (e último), de acordo com a tradição islâmica, foi Muhammad, latinizado como Maomé (571-632). Foi ele o responsável por trazer o Alcorão, considerado a palavra literal de Deus, ditado a Maomé pelo anjo Gabriel (Jibril). Por volta de 610 d.C. Maomé teve a experiência espiritual que marcaria para sempre a história do Islamismo.

Na décima sétima noite do Ramadan, Maomé foi arrancado de seu sono e se sentiu tomado pela devastadora presença divina. O anjo o envolveu num terrível abraço que o fez sentir como se ar estivesse sendo expelido para fora do corpo. O anjo ordenou-lhe: “Iqra’!” [Recita]. Maomé, por sua vez, alegou que não sabia ler. O anjo o abraçou novamente até que, quando pensou haver chegado ao limite da resistência, sentiu saírem-lhe da boca as palavras divinamente inspiradas de uma nova escritura [...] Assim, foi lhe enviado as primeiras EYET [versículos, plural de EYAT] divinas a Maomé que posteriormente se transformariam no livro sagrado dos mulçumanos, o Alcorão (KALAOUN, 2016, p. 32).

Maomé é visto como o Último Mensageiro, trazendo a mensagem final de Deus a toda a humanidade sob a forma do Alcorão. Maomé recebeu como revelação, ao longo de 23 anos, as distintas partes do Alcorão. “Convencido do mandato divino que lhe fora confiado e da mensagem que deveria pregar, Maomé proclamou a nova religião do Islã, isto é, submissão e obediência à vontade de Deus” (JURJI, 1956, p. 207).

Maomé nasceu na cidade de Meca onde cresceu e desenvolveu sua espiritualidade. Desprezado e perseguido em sua terra natal, Maomé fugiu para Medina no ano de 622 que marca o ano da Hégira (a fuga de Maomé de Meca para Medina marca o ano inicial do calendário islâmico e o primeiro Estado islâmico). No momento da Hégira tem início então o processo de expansão da pregação de Maomé e é quando será formado, segundo Lannes (2013), uma nova forma de governo: a Umma (povo ou comunidade).

Sob a liderança de Maomé e guiados pelos preceitos da nova religião, o Islã, os árabes expandiram o território da Umma, levando a unificação da Península Arábica. Apesar das divergências entre as autoridades políticas quanto ao futuro do Império, essa expansão continuou consolidando o Império Árabe, que se estenderá até o século XIII (LANNES, 2013, p. 19-20).

Em Medina, Maomé, tanto quanto um profeta, foi também um governante e chefe de estado. “Quando morreu, a 8 de junho de 632, legou a seus seguidores uma herança político-religiosa, encarregada e preocupada durante muitos séculos com a tarefa de encontrar um califa (sucessor) aceitável para preencher o posto supremo do islamismo” (JURJI, 1956, p. 207).

Desde sua origem o islamismo teve características de um governo teocrático, com um governante absoluto e poderoso, comandante dos fiéis, sendo o cidadão aquele que deve ser obediente, servo de Deus e do governante.

A essência do poder da religião islâmica está cristalizada na sua Escritura, no Alcorão. A palavra Corão significa recitação. Na língua árabe, al é o artigo definido, portanto, Alcorão significa a recitação. Muitas palavras de origem árabe que aparecem na língua portuguesa já tem o artigo incorporado, como é o caso de álgebra, alquimia e, também, Alcorão. O Alcorão é formado por 114 swar que significa capítulos (plural de sura). Sobre a importância do Alcorão para a tradição islâmica, o próprio texto afirma que: “Este é o livro de que não se pode duvidar, um guia para os que temem ao Senhor” (Alcorão 2:2) e mais adiante: “Deus! Não há deus senão Ele, o Deus vivo, o Absoluto. Fez descer sobre ti o Livro que contém a verdade e confirma o que foi revelado aos Mensageiros antes de ti” (Alcorão 3:2-3).

O Islamismo ensina que Alá (Deus) é único. Uma das passagens do Alcorão frequentemente usadas para ilustrar os atributos de Deus é a que se encontra no sura 59: “É Ele Deus. Não há deus senão Ele, conhecedor do invisível e do visível, o Clemente, o Misericordioso! [...] o Rei, o Santificado, o Salvador, o Protetor, o Poderoso, O Dominador, o Orgulhoso [...] o Criador, o Produtor, o Modelador!” (Alcorão 59:22-24).

Os cinco pilares da tradição islâmica são:

 

Existem duas grandes denominações islâmicas: sunismo e xiismo. Inicialmente a diferença entre ambos se baseava na divergência sobre a sucessão de Maomé mas, com o tempo, as divergências foram aumentando e são tanto de caráter teológico quanto jurídico.

O primeiro califado após Maomé foi o de Abu Bakr que durou apenas dois anos (632-634). Em seguida temos o califado de Omar (634-644). Omar era inimigo dos mulçumanos mas experimentou uma conversão súbita no dia em que resolveu matar Maomé: “saiu um dia para matar Maomé, mas, ao que consta, ouvindo recitar um capítulo do Alcorão na casa de sua irmã, extasiou-se ante a sabedoria e verdade inebriantes dos versos inspirados” (JURJI, 1956, p. 221).

O próximo califado foi o de Uthman, entre 644 e 656 e logo em seguida o califado do primo e genro de Maomé, Ali (656-661). Embora Ali tenha se tornado um mártir abençoado, ele “custou a ser considerado vigário do Profeta por vontade e determinação divinas” (JURJI, 1956, p. 222).

Referências 

O ALCORÃO. Tradução de Mansour Chalita. Rio de Janeiro, ACIGI, s.d.

JURJI, Edward J. Islamismo. In: JURJI, Edward J. (org.). História das grandes religiões. Rio de Janeiro: Edições O Cruzeiro, 1956, p. 201-248.
KALAOUN, Tarek Chaher. Os Pilares da Fé: O Pensamento Racional Científico como Sustentação Simbólica do Islamismo. 83 p. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião), Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia-GO, 2016.

LANNES, Suellen Borges. A Formação do Império Árabe-Islâmico: História e Interpretações. 126 p. Tese (Doutorado em Economia Política Internacional), Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro-RJ, 2013.

OLIVEIRA, Paulo Eduardo. Para compreender o Islã e os mulçumanos. Niterói: Heresia, 2001.

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