A FILOSOFIA NO SÉCULO XXI: DESAFIOS NA ERA GLOBALIZADA

por Alexsandro M. Medeiros

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publicado em 2015


Além de uma compreensão filosófica dos problemas sociais e considerando que estamos diante de uma sociedade cada vez mais global, a filosofia também precisa refletir sobre este novo modelo de sociedade. Num período onde a “Globalização” é considerada o maior “avanço” da humanidade desde as grandes conquistas do Império Romano, questiona-se também (e ainda) as relações sociais neste processo. Formam-se imensos blocos econômicos, procura-se estabelecer uma moeda única, tenta-se derrubar as delimitações que outrora se apresentaram como uma grande conquista: a formação do Estado. Enfim, apresenta-se uma nova leitura da sociedade contemporânea que tenta descobrir uma forma de progresso e reorganização do espaço geográfico. Neste processo dialético de avanço e retrocesso, formulam-se inúmeras teorias acerca da realidade. Economistas, Políticos e Geógrafos, efetuam suas observações e reflexões em relação aos problemas emergentes da sociedade, elaboram suas teorias e propõem novas soluções.

Nesse contexto, o existencialismo[1] nunca foi tão útil. A má-fé é o subterfúgio mais explorado pelos nossos contemporâneos. É uma evidência. As desigualdades sociais são surpreendentes. A exploração do homem pelo seu semelhante, por exemplo, é clarividente. Nem Karl Marx poderia ser capaz de imaginar que o trabalho operário fosse capaz de gerar tantos lucros. A mais-valia[2] é apenas um esboço ultrapassado do que ocorre em nossa sociedade.

Em contrapartida, o advento de tantas seitas e igrejas, o “tribalismo religioso”, a construção de novos mitos e divindades, numa época em que a ciência parecia tornar obsoletas as investigações teológico-religiosas, retratam um movimento de reaproximação do homem à interminável busca do seu criador, e em busca de sua gênese.

Enfim, há uma multiplicidade de fatos e atos, aparentemente desconexos, que se entrelaçam no interior da sociedade, interagindo uns com os outros, e constituindo o elemento mais complexo que pode-se imaginar: o homem contemporâneo. Este homem, nós sabemos, é, por excelência, um ser social, que diante do seu confronto cotidiano com a realidade vê nascer os seus problemas.

Teoricamente caberia à Ética, à Epistemologia, à Filosofia Política, à Metafísica, dentre tantas ramificações da Filosofia, auxiliar o homem na busca de soluções para seus principais problemas, visto que eles versam sobre a moral, a “re-organização” da sociedade, a existência, dentre inúmeros outros.

Entretanto, as ciências empíricas, sob a égide do positivismo se encarregam de desempenhar – muito mal, diga-se de passagem – a função da Filosofia. Avaliam a realidade, e esboçam sua compreensão fenomênica dos fatos, embora sem o rigor crítico necessário.

Enquanto isso, a Filosofia continua disponível para poder dar a sua contribuição. E, talvez, uma de suas contribuições mais significativas, é a de tentar mostrar ao homem que ele não é meramente um produto do meio, um ser passivo que sofre as interferências das pessoas que o circundam e reage como tal. O homem também interfere no meio de forma ativa, criando e transformando a sociedade (qualquer que seja o seu modelo político-ideológico, Capitalismo ou Socialismo) e seus componentes. Convive com seus semelhantes numa espécie de “dialética existencial”, interagindo com outras pessoas e com o meio. Diante desta complexa “interação” – que não é estática, mas, dinâmica – os traços pessoais do indivíduo se confundem e ele, por muitas vezes, passa a agir em função do pensamento do outro. Então o discurso filosófico aparece para desenvolver o pensamento crítico, buscando refletir sistematicamente sobre as inúmeras práticas sociais, porque não se pode pensar em nenhum indivíduo que não seja solicitado a refletir e agir dentro da realidade na qual se encontra.

notas

[1] Corrente filosófica contemporânea que estabelece a existência como ponto de partida da reflexão filosófica e fundamento do real. A filosofia deve refletir sobre o homem no mundo (ser-no-mundo), destacando o valor da pessoa, da existência, da liberdade.

[2] Termo característico da filosofia marxista, segundo o qual, o lucro dos grandes capitalistas se dá pela exploração do trabalho operário.