O Zoroastrismo é uma antiga religião proveniente do mundo irânico e dos ensinamentos de Zaradušt: Zoroastro (em grego Ζωροάστρης) ou Zaratustra. Há pesquisadores que não acreditam na existência física de Zaratustra, mas para aqueles que aceitam a sua existência, ele teria vivido entre 1500-1200 a.C. (Peixoto, 2014, p. 234 – sobre a literatura zoroastristas, ver também a Tese de Doutorado de Peixoto, 2017).
O Zoroastrismo tornou-se a religião oficial do império Persa durante a dinastia sassânida, no segundo século da nossa era ou era comum (EC). “Artaxes I, da casa de Sāsān, surgiu de forma meteórica e derrotou o rei parto Artabano V9 na batalha de Hormazǰān, em 224 EC, tomando para si o título de šāhānšāh, Rei dos Reis, e iniciando o período conhecido como “Sassânida” – da dinastia de Sāsān” (Wiesehöfer, 1986, p. 371- 376 apud Vieira Pinto, 2018, p. 8). Com Sapor II (309 – 379 EC), filho de Sapor I e neto de Artaxes, o Zoroastrismo se tornou uma religião estatal.
Fernandes (2016, p. 113-118) ressalta pelo menos três características que conhecemos de Zoroastro, a partir do relato dos gregos como Heródoto, Plutarco, Diógenes Laércio, a narrativa de Crisóstomo Dio Cocceiano: “(I) Profeta ou mago; (II) Astrólogo; (III) Filósofo” (id., ibidem, p. 113).
O Zoroastrismo é baseado em um conjunto de textos variados e religiosos chamado Avesta, composto de hinos, que apresenta noções de salvação, recompensa, responsabilidade, expiação, julgamento. “Em termos comparativos, o Avesta está para o zoroastrismo assim como a Bíblia está para o cristianismo, o Corão para o islamismo e a Torá para o judaísmo” (Vieira Pinto, 2018, p. 10). Gashti (2017) ressalta como está dividido o Avesta:
O Avesta está [dividido] em cinco partes. Seu núcleo religioso é uma coleção de canções ou hinos, os Gāthās, que se pensava ser as principais palavras de Zoroastro. Eles formam uma seção do meio da principal parte litúrgica do cânone, o Yasna, que contém o rito da preparação e do sacrifício de haoma. O Visp-rat é uma escritura litúrgica menor, contendo homenagens a vários líderes espirituais zoroastrianos. A Vendidad, ou Vidēvdāt, é a fonte principal da lei zoroastrista, tanto ritual como civil. Também dá conta da criação e do primeiro homem, Yima. Os Yashts são 21 hinos, ricos em mitos, sobre vários yazatas (anjos) e heróis antigos. O KhūrdaAvesta (ou Little Avesta) é um grupo de textos menores, hinos e orações para ocasiões específicas (Gashti, 2017, p. 18).
Com base nos textos sagrados do Zoroastrismo, podemos identificar vários aspectos de sua doutrina. Após a morte, a alma vagueia durante três dias perseguida pela lembrança das boas e más ações, depois se dirige para um lugar onde será julgada segundo suas obras. Peixoto (2014, p. 234) apresenta outros aspectos do zoroastrismo, como sendo “uma religião onde o Bem e o Mal são representados por Ohrmazd (primeiro dos deuses e criador da ordem) e Ahriman (que se apresenta como responsável pela desordem do mundo)”. Foi de Ohrmazd que Zaradušt teria recebido uma visão e “acreditado ser o profeta escolhido para difundir uma nova ordem religiosa. O conjunto de escritos que fala dessas crenças denomina-se de Avesta, composto em sua maioria por hinos, os Gaθas, cujo assunto principal é a divindade criadora, Ohrmazd” (Peixoto, 2014, p. 234). O dualismo entre o Bem e o Mal é uma marca característica tanto da vida física quanto daquela que vem depois. Diversas passagens do Yasna, um dos textos sagrados da tradição zoroástrica,
demonstram a crença zoroástrica em uma recompensa eterna para os justos e uma correspondente punição eterna para os ímpios [...] a crença em um julgamento individual de cada ser humano baseado em suas atitudes durante a vida eram respectivamente uma prática corrente e uma esperança futura muito bem encadeadas dentro da religiosidade zoroástrica. Resumindo, as esperanças dos zoroástricos quanto ao porvir estavam estritamente ligadas a um forte senso de justiça e recompensa por uma vida dentro dos padrões de Ohrmazd (Peixoto, 2014, p. 235).
A doutrina de Zaradušt enfatiza a necessidade da devoção, da honestidade, da veracidade, generosidade, justiça, moderação e de como se deve evitar o desvio, os vícios, o engano, a avareza ou a ganância, para que o bem possa triunfar sobre o mal.
Referências Bibliográficas
FERNANDES, Edrisi. Zoroastro, o Grego: Zaratustra na percepção grega e helenística. In: CORNELLI, Gabriele; FIALHO, Maria do Céu; LEÃO, Delfim (coords.). Cosmópolis: mobilidades culturais às origens do pensamento antigo. Imprensa da Universidade de Coimbra; Annablume, 2016, p. 109-131.
GASHTI, Alice Menezes. A relevância de Zoroastro para as conceituações pós-hegemônicas da ordem mundial. Relatório final de pesquisa de Iniciação Científica. Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais – FAJS, Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), Brasília, 2017.
PEIXOTO, Raul Vitor R. As interações entre religião e sociedade na tradição Avéstica e na literatura apocalíptica Judaica (um estudo comparado da temática do ordálio universal na Yasna 51 no Livro Etiópico de Enoch, 67). SÆculum – Revista de História, n. 30, p. 233-247, jan./jun. 2014. Acesso em: 28 dez. 2018.
____. As interações de uma tradição apocalíptica nas literaturas Zoroastristas e Judaica: um estudo comparado da temática do ordálio universal na Yasna capítulo 51, Grande Bundahishn capítulo 34 e Livro Etiópico de Enoch, capítulo 67. Tese (doutorado em História). Programa de Pós-Graduação em História, Universidade de Brasília, Brasília, 2017.
VIEIRA PINTO, Otávio Luiz. Um conto tão antigo como o tempo. construção do passado e ideologia imperial na pérsia sassânida. Revista OPSIS, Catalão-GO, v. 18, n. 1, p. 05-20, jan./jun. 2018. Acesso em: 27 dez. 2018.
WIESEHÖFER, J. Ardašīr I. Encyclopaedia Iranica, Nova Iorque, v. II, n. 4, p. 371–376, 1986.