POESIA E MÍSTICA

por Alexsandro M. Medeiros

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postado em jan. 2024


A poesia mística é um gênero discursivo literário que procura descrever o itinerário que conduz a alma até a sua união com Deus através de poemas. Alguns autores são bastante conhecidos no campo da poesia mística ao escrever poemas que têm como característica descrever a experiência com o sagrado, como é o caso de São João da Cruz. Do ponto de vista teórico, Carvalho (2012) destaca autores como o filósofo alemão Martin Heidegger e também as obras de Henri Brémond (1926), especialmente Prière et Poésie.

É de Heidegger (1994) o texto Hölderlin e a essência da poesia, onde o filósofo alemão elabora “uma verdadeira tese da fenomenologia da poesia, considerando a linguagem como lugar da manifestação do ser e, dentro da linguagem, confere à poesia o lugar de fundadora da verdade” (CARVALHO, 2012, p. 55). Já Henri Brémond é um autor que procura assimilar o ato poético com a experiência mística. “A compreensão de que a linguagem poética traz uma busca por um absoluto inaudito, sem ser necessariamente fundada sobre uma crença em um Deus específico, a coloca ao lado da experiência mística” (CARVALHO, 2021, p. 63).

Passando da parte teórica para a parte prática, ou seja, para os autores de poesia, temos São João da Cruz (1542-1591), um monge carmelita descalço espanhol, apontado como um dos maiores nomes da poesia mística ocidental. “Grande reformador da Ordem Carmelita, é considerado, juntamente com Santa Teresa de Ávila, com quem desfrutou uma profunda amizade, o fundador dos Carmelitas Descalços” (LIMA, 2019, p. 54). Suas poesias têm como característica ser uma poesia mística, de contato com o divino e constituem “um verdadeiro tratado sobre a fé e sobre o amor. Amor ágape e universal” (LIMA, 2019, p. 71).

O poema Noite Escura foi escrito provavelmente entre 1582 e 1585, quando São João da Cruz atende a um pedido dos monges carmelitas para escrever sobre a doutrina das noites passivas. “Compostas por oito liras, aqui são apresentadas as noites passivas do sentido e do espírito, com Deus purificando forte e docemente a alma, e preparando-a para uma transformação radical e total” (LIMA, 2019, p. 65).

A poesia Chama de amor viva foi escrita em 1586 e é composta apenas de quatro estrofes. A poesia “trata do mais cadente e inflamado amor, do grau elevado de perfeição a que se possa chegar nessa vida” (LIMA, 2019, p. 72) e descreve o estado de união transformadora com Deus. A comparação utilizada por João é a do fogo: o fogo que purifica a alma, assim como o fogo que arde e consome a madeira, até que a alma chegue a sentir que ama a Deus com o mesmo amor com que é por Ele amada.

No século XIII, o poeta e teólogo persa sufi (a corrente mística e contemplativa do Islamismo), Maulâna Djalâl od-Dîn Rûmî (1207-1273) ou apenas Rûmî, ficou conhecido por seu trabalho de poesia mística que ensina os sufistas a alcançar o objetivo de estar realmente apaixonado por Deus. Rûmî (que pode ser traduzido como bizantino) foi reconhecido por seus sucessores como Mevlâna e por isso também é conhecido como Mevalâna Rûmî que quer dizer “Nosso Mestre, o Bizantino” (da Anatólia Romana). Rûmî é na verdade o seu apelido que foi atribuído a ele por ter passado a maior parte da sua vida em Anatólia, parte do Império Bizantino.

Uma das principais obras de poesia mística de Rumi é o Masnavi Espiritual ou Maṭnawīye Ma'nawī (também escrito Mesnevi, Mathnawi ou Mathnavi, que significa “Casais espirituais”). “Na rica linhagem da tradição poética persa, Rûmî traduziu como poucos a riqueza infinita da experiência do amor e da busca do mistério que envolve e banha a dinâmica do humano” (TEIXEIRA, 2003, p. 21).

É de Rûmî uma conhecida parábola do elefante que consta no terceiro livro do Masnavi:

 

Alguns hindus estavam exibindo um elefante num quarto escuro, e muita gente se reuniu para vê-lo. Mas como o quarto estava escuro demais para que eles pudessem ver o elefante, todos procuravam senti-lo com as mãos, para ter uma idéia de como ele era. Um apalpou sua tromba e declarou que o animal parecia um cano d´água; outro apalpou sua orelha, e disse que devia ser um leque enorme; outro sua perna, e pensou que fosse uma coluna; outro apalpou seu dorso e declarou que o animal devia ser como um grande trono. De acordo com a parte que apalpava, cada um deu uma descrição diferente do animal. Um, por assim dizer, chamou-o de Dal e outro de Alif (RÛMÎ, 1992, p. 155-156 apud TEIXEIRA, 2003, p. 22).

 

O poeta ressalta aqui a incapacidade particular do ser humano de apreender a totalidade do real. A nossa percepção sensorial não alcança a totalidade do Real assim como os cegos não conseguiam, com a palma da mão, perceber o todo do elefante. “Como indicou Rûmî, a compreensão do Sufismo exige uma capacidade particular de apreensão da realidade que escapa ao olhar sensorial comum” (TEIXEIRA, 2003, p. 22).

 

Em toda a obra de Rûmî perpassa a imagem do Deus misericordioso e omnicompassivo (Al-Rahman), de absoluta proximidade (tashbih). [...] Não é possível escapar de sua misericórdia. Deus sempre acompanha o ser humano: “Pelo explendor do meio-dia, e pela noite quando serena, Teu Senhor não te abandonou nem te odeia” (Corão, 93,1-3). Este tema da Sura da Manhã é sempre lembrado por Rûmî: de Deus como um amoroso que toma a mão do arqueiro e lhe inspira o sopro criador. O Deus misericordioso acolhe estreitamente seu servidor e não o abandona um só instante (TEIXEIRA, 2003, p. 34).

 

Considerado como o poeta místico do Líbano (PORRO, 2001), Khalil Gibran (1883-1931) nasceu em uma aldeia do Mutassarifado do Monte Líbano governada pelos otomanos (ou Império Turco) e produziu uma vasta obra literária marcada pelo misticismo oriental. Sua obra mais conhecida é O profeta: “o maior Best-Seller [...] de todas as obras de Gibran [...] vendido e lido por milhões de leitores em busca de sabedoria e conhecimento do Sagrado” (LOPES, 2011, p. 49). Esta obra traz elementos fundamentais para uma compreensão do sagrado com uma visão profundamente espiritualista:

 

em O profeta, Gibran procura descrever o que é verdadeiramente sagrado: do amor, à morte e ao que vem depois dela [...] Gibran inicia sua obra falando sobre o valor sagrado do amor. Almitra, um personagem, pede a O profeta que fale de amor, e ele, então, eleva o seu rosto e contempla a multidão (LOPES, 2013, p. 3).

 

Na obra temos o profeta Almustafá (em árabe significa “o escolhido”) que reside na cidade Orphalese: “há um consenso quanto a identidade identificar Almustafá, como o próprio Gibran” (LOPES, 2011, p. 97). Na obra aparece também a sacerdotisa Almitra. É a sacerdotisa quem pede, logo início da obra, para o profeta falar sobre o Amor. Em seguida, Almustafá irá discursar sobre vários outros temas, como a morte, a religião, o matrimônio, os filhos etc. Os discursos de Almustafá “são como o sermão da montanha de Jesus” (LOPES, 2011, p. 97). Almustafá está de partida para sua terra natal, por isso o povo de Orphalese está tão desejo de ouvir seus últimos ensinamentos.

 

Seu barco é a morte e chegou para leva-lo a ilha onde nasceu [...] Quanto ao povo de Orphalese representa a sociedade humana, que fica ao largo, aonde os homens exilados em sua existência espacial e temporal, do seu verdadeiro eu, ou seja, de Deus, necessita da mão profética que os guiará em sua jornada ruma (sic) a Deus, levando-os do humano até o divino (DAOUDI, 1982, p. 92 apud LOPES, 2011, p. 98).

POEMAS

Noite escura (São João da Cruz) 

I

Em uma noite escura,

com ânsias, em amores inflamada,

ó ditosa ventura!,

saí sem ser notada,

estando minha casa sossegada.

 

II

Na escuridão, segura,

pela secreta escada disfarçada,

ó ditosa ventura!,

na escuridão, velada,

estando minha casa sossegada.

 

III

Na noite mais ditosa

Em segredo, pois que ninguém me via,

de nada mais ciosa,

sem outra luz ou guia,

se não a que no coração ardia.

 

IV

Essa luz me guiava

Mais certa do que a luz do meio-dia,

Lá onde me esperava,

Quem eu bem conhecia,

Num sítio onde ninguém aparecia.

 

V

Ó noite que guiaste!,

Ó noite mais amável que a alvorada!,

ó noite que juntaste

Amado com amada,

amada em seu Amado transformada!

 

VI

Em seu peito florido

Que todo para ele eu só guardava,

Ali ficou dormindo,

E eu sempre o regalava

E o ventalho de cedros brisa dava.

 

VII

Da ameia a brisa amena,

quando eu os seus cabelos afagava,

com sua mão serena

o meu colo tocava

e todos meus sentidos suspendia.

 

VIII

Deixei-me e olvidei-me,

o rosto reclinei sobre o Amado,

cessou tudo e deixei-me,

deixando o meu cuidado

por entre as açucenas olvidado. 

Noche oscura del alma (San Juan de la Cruz) 

I

En una noche oscura,
con ansias en amores inflamada
¡oh dichosa ventura!
salí sin ser notada,
estando ya mi casa sosegada.


II 

A oscuras y segura,
por la secreta escala, disfrazada,
¡oh dichosa ventura!
a oscuras y en celada,
estando ya mi casa sosegada.

III

En la noche dichosa,
en secreto, que nadie me veía,
ni yo miraba cosa,
sin otra luz y guía
sino la que en el corazón ardía.


IV 

Aquesta me guiaba
más cierto que la luz del mediodía
a donde me esperaba
quien yo bien me sabía,
en parte donde nadie parecía.


V
¡Oh noche, que guiaste!
¡Oh noche amable más que la alborada!
¡Oh noche que juntaste
Amado con amada
amada en el Amado transformada!


VI 

En mi pecho florido,
que entero para él solo se guardaba,
allí quedó dormido,
y yo le regalaba,
y el ventalle de cedros aire daba.


VII 

El aire de la almena,
cuando yo sus cabellos esparcía,
con su mano serena
en mi cuello hería,
y todos mis sentidos suspendía.


VIII 

Quedé y olvidéme,

el rostro recliné sobre el Amado;

cesó todo, y dejéme,

dejando mi cuidado

entre las azucenas olvidado. 

Chama de amor viva (São João da Cruz) 

I

Ó chama de amor viva,

que ternamente feres

dessa minha alma o mais profundo centro!

Se já não és esquiva,

Acaba já, se queres,

Ah! Rompe a tela deste doce encontro!

 

II

Ó cautério suave!,

Ó regalada chaga!,

Ó mão tão leve, ó toque delicado!,

Que a vida eterna sabe,

A dívida selada!

Matando, a morte em vida transformada.

 

III

Ó lâmpadas de fogo,

em cujos resplendores

as profundas cavernas do sentido,

que estava escuro e cego,

com estranhos primores

calor e luz dão junto ao seu Querido!

 

IV

Quão manso e amoroso

despertas em meu seio,

lá onde tu secretamente moras,

nesse aspirar gostoso

de bem e glória cheio,

quão delicadamente me enamoras! 

Em Busca do Amado (RÛMÎ) 

Eu era no tempo em que os nomes ainda não eram

e nenhum sinal da existência havia sido dotado de nome.


Por mim, nomes e nomeados passaram a ser vistos,

no tempo em que não existiam nem "eu" nem "nós".


Por um sinal, um cacho de cabelo do amado tornou-se o centro da revelação;

contudo, a ponta do cacho ainda não existia.


De um extremo ao outro, entre os cristãos procurei.

Ele não estava na cruz.


Fui ao templo dos ídolos, ao pagode antigo.

Nenhum sinal naquele lugar.


Subi as montanhas de Herat e Qandahar,

olhei ao redor, percorri vales e colinas.

Não o encontrei.


Com firme propósito, alcancei o cume de Kaf.

Lá apenas se via a morada de Anqa.


Virei as rédeas da busca para a Caaba.

Ele não estava naquele refúgio de jovens e velhos.


Inquiri Avicena por seu paradeiro.

Não se encontrava entre seus seguidores.


Dirigi-me ao país onde as distâncias se medem

pelo cumprir de dois salamaleques.

Ele não fazia parte de tal corte refinada.


Contemplei enfim meu próprio coração - lá o vi,

não era outra sua morada. 

O Amor (Khalil Gibran)  

E alguém disse:

Fala-nos do amor:

- Quando o amor vos fizer sinal, segui-o;

ainda que os seus caminhos sejam duros e difíceis.

E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos;

ainda que a espada escondida na sua plumagem

vos possa ferir.


E quando vos falar, acreditai nele;

apesar de a sua voz

poder quebrar os vossos sonhos

como o vento norte ao sacudir os jardins.


Porque assim como o vosso amor

vos engrandece, também deve crucificar-vos

E assim como se eleva à vossa altura

e acaricia os ramos mais frágeis

que tremem ao sol,

também penetrará até às raízes

sacudindo o seu apego à terra.


Como braçadas de trigo vos leva.

Malha-vos até ficardes nus.

Passa-vos pelo crivo

para vos livrar do joio.

Mói-vos até à brancura.

Amassa-vos até ficardes maleáveis.


Então entrega-vos ao seu fogo,

para poderdes ser

o pão sagrado no festim de Deus.


Tudo isto vos fará o amor,

para poderdes conhecer os segredos

do vosso coração,

e por este conhecimento vos tornardes

o coração da vida.


Mas, se no vosso medo

buscais apenas a paz do amor,

o prazer do amor,

então mais vale cobrir a nudez

e sair do campo do amor,

a caminho do mundo sem estações,

onde podereis rir,

mas nunca todos os vossos risos,

e chorar,

mas nunca todas as vossas lágrimas.


O amor só dá de si mesmo,

e só recebe de si mesmo.


O amor não possui

nem quer ser possuído.


Porque o amor basta ao amor.


E não penseis

que podeis guiar o curso do amor;

porque o amor, se vos escolher,

marcará ele o vosso curso.


O amor não tem outro desejo

senão consumar-se.


Mas se amarem e tiverem desejos,

deverão se estes:

Fundir-se e ser um regato corrente

a cantar a sua melodia à noite.


Conhecer a dor da excessiva ternura.

Ser ferido pela própria inteligência do amor,

e sangrar de bom grado e alegremente.


Acordar de manhã com o coração cheio

e agradecer outro dia de amor.


Descansar ao meio-dia

e meditar no êxtase do amor.


Voltar a casa ao crepúsculo

e adormecer tendo no coração

uma prece pelo bem-amado,

e na boca, um canto de louvor. 

On Love (Khalil Gibran)  

Then said Almitra, Speak to us of Love.
  And he raised his head and looked upon the people, and there fell a stillness upon them. And with a great voice he said:
  When love beckons to you, follow him,
  Though his ways are hard and steep.
  And when his wings enfold you yield to him,
  Though the sword hidden among his pinions may wound you.
  And when he speaks to you believe in him,
  Though his voice may shatter your dreams as the north wind lays waste the garden.

     For even as love crowns you so shall he crucify you. Even as he is for your growth so is he for your pruning.
  Even as he ascends to your height and caresses your tenderest branches that quiver in the sun,
  So shall he descend to your roots and shake them in their clinging to the earth.
  Like sheaves of corn he gathers you unto himself
  He threshes you to make your naked.
  He sifts you to free you from your husks.
  He grinds you to whiteness.
  He kneads you until you are pliant;
  And then he assigns you to his sacred fire, that you may become sacred bread for God’s sacred feast.

     All these things shall love do unto you that you may know the secrets of your heart, and in that knowledge become a fragment of Life’s heart.

     But if in your heart you would seek only love’s peace and love’s pleasure,
  Then it is better for you that you cover your nakedness and pass out of love’s threshing-floor,
  Into the seasonless world where you shall laugh, but not all of your laughter, and weep, but not all of your tears.
  Love gives naught but itself and takes naught but from itself.
  Love possesses not nor would it be possessed;
  For love is sufficient unto love.

     When you love you should not say, “God is in my heart,” but rather, “I am in the heart of God.”
  And think not you can direct the course of love, for love, if it finds you worthy, directs your course.

     Love has no other desire but to fulfil itself.

  But if you love and must needs have desires, let these be your desires:

  To melt and be like a running brook that sings its melody to the night.

  To know the pain of too much tenderness.

  To be wounded by your own understanding of love;

     And to bleed willingly and joyfully.

  To wake at dawn with a winged heart and give thanks for another day of loving;

  To rest at the noon hour and meditate love’s ecstasy;

  To return home at eventide with gratitude;

  And then to sleep with a prayer for the beloved in your

heart and a song of praise upon your lips. 

Referências 

BRÉMOND, Henry. Prière et Poésie. Paris: Grasset, 1926. ("Les Cahiers Verts").

 

CARVALHO, Vinicius Mariano de. A poesia da mística e a mística da poesia. Horizonte, Belo Horizonte, v. 10, n. 25, p. 53-74, jan./mar. 2012. Acesso em: 20 dez. 2023.

 

DAOUDI, M. S. O Valor de Khalil Gibran. Editora Record, 1982.

 

HEIDEGGER, Martin. Hölderlin y la esencia de la poesía. Barcelona: Anthropos, 1994.

 

LIMA, Marcelo Tomaz de. A poesia mística de São João da Cruz em perspectiva dialógica. 2019. 86 p. Dissertação (Mestrado em Linguística), Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa-PB, 2019.

 

LOPES, José A. Da noção do sagrado, na obra O Profeta de Gibran Khalil Gibran. Revista Pandora Brasil, nº 53, p. 1-19, abr., 2013. Acesso em: 20 dez. 2023

 

LOPES, José A. F. O sagrado em Gibran Khalil Gibran. 2011. 142 p. Dissertação (Mestrado em Religião), Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2011.

 

PORRO, Magdalena. El Poeta Místico. Buenos Aires: Longseller, 2001.

 

RÛMÎ, Djalâl od-Dîn. Masnavi. São Paulo: Dervish, 1992.

 

TEIXEIRA, Faustino. RÛMÎ: A Paixão pela Unidade. Revista de Estudos da Religião, n. 4, p. 20-41, 2003. Acesso em: 20 dez. 2023.