por Alexsandro M. Medeiros
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postado em: ago. 2025
O conceito de educação midiática está relacionado com o desenvolvimento de habilidades para leitura e análise crítica das mensagens nas mais diversas mídias. Pode ser entendida como sinônimo de Educação para as mídias, para comunicação ou midiaeducação. É uma espécie de “alfabetização” (saber ler e escrever), que nos capacita a: acessar informações confiáveis em diferentes formatos (jornais, redes sociais, podcasts, etc.); analisar criticamente sua origem, propósito e o contexto de uma mensagem (quem a criou? por que foi criada? qual é o ponto de vista do autor?); criar conteúdo (e compartilhar) de forma responsável, de maneira ética e consciente, entendendo o impacto que elas podem ter; desenvolver o senso crítico e não aceitar passivamente o que é consumido, formando opiniões próprias e embasadas.
A Educação midiática volta-se para reflexões de ensino e análise sobre, para e com os meios de comunicação e compõe arcabouço teórico que toma as ações comunicativas em diversos âmbitos na tentativa de considerar esse processo tão fundamental na vida do indivíduo e estimular práticas democráticas em que a cidadania seja exercida (Cortes; Martins; Souza, 2018, p. 3).
Nessa interseção entre Educação e Comunicação, é preciso que o processo comunicativo através das mídias seja compreendido, estudado, praticado e aprimorado pelo prisma de uma relação emancipadora com as mídias. Spinelli (2021, p. 129) ressalta que é preciso: “compreender como a mídia é consumida pelos indivíduos (meios e produtos/conteúdos), a maneira com que se apropriam dela (como a compreendem e a utilizam) e o contexto em que se envolvem com ela (lugares, maneiras, rotinas, entre outros)”. O que requer um ensino sobre as mídias, com as mídias e por meio das mídias, a partir de uma abordagem crítica e emancipadora, como destacamos.
Em termos históricos, a ideia de uma Educação para as mídias ou uma midiaeducação surgiu com a UNESCO, na década de 1960 e estava relacionada com os riscos de manipulação ideológica, política e de consumo através das mídias e daí a necessidade de abordagens educacionais e críticas.
Em 1973, a UNESCO apresentou uma primeira definição que explicitou a dupla dimensão da Midiaeducação, dando ênfase aos meios como objeto de estudo de leitura crítica e ação interventora para alertar e minimizar os efeitos das mídias, e como ferramenta pedagógica de função educacional, de instrumento de ensino (Cortes; Martins; Souza, 2018, p. 5).
No Brasil, como destacam Gusmão e Javorski (2024), o tema da educação midiática foi incluído tanto na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), de 2017/18, quanto na Política Nacional de Educação Digital (PNED).
Em um mundo com um fluxo constante de notícias e publicidade, pensar uma educação midiática é essencial para ajudar a compreender como funcionam os processos e os fluxos comunicacionais hoje.
O consumo midiático é algo que está inevitavelmente presente na nossa sociedade e, por isso, é preciso entender como esse consumo influencia as nossas ações e até nossas práticas sociais podendo, inclusive, interferir no desenvolvimento de competências cívicas e participativas em questões da esfera pública.
Educar para a mídia implica em olhar a realidade a partir de um ponto de vista crítico e humanizador. Podemos citar como exemplo o canal de TV Futura: uma prática de comunicação educativa com elementos de educação pela comunicação ou de educação midiática.
Antes do advento da internet, a educação midiática estava restrita aos meios de comunicação na educação como rádio, jornais, etc. Todavia, em um contexto de alto desenvolvimento tecnológico e midiático, é fundamental a mediação tecnológica na educação, que possibilite reflexões sobre a presença e múltiplos usos das novas tecnologias da informação (TIC) e o uso de recursos tecnológicos a partir de uma perspectiva do cidadão.
Nesse cenário surge a ideia de cidadania digital, que envolve não apenas o uso competente da tecnologia, mas também o uso responsável e ético da web. Por cidadania digital podemos entender: “a capacidade dos cidadãos utilizarem a tecnologia de forma inteligente e compreender as questões culturais e sociais à medida que se relacionam com a tecnologia” (Spinelli, 2021, p. 131).
Além da educação midiática, um outro conceito que aparece nessa interface entre Educação e Comunicação é o de educomunicação. Ressaltando o papel do Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) da ECA/USP, sob a coordenação do professor pesquisador Ismar de Oliveira Soares, podemos destacar que:
a Educomunicação é uma área de intervenção social em consolidação, não sendo compreendida apenas como uma disciplina para os currículos escolares, mas um paradigma discursivo transverso instituído por conceitos transdisciplinares com outras categorias analíticas (Cortes; Martins; Souza, 2018, p. 11).
Essa área de estudo pode igualmente ser definida pela habilidade de acessar, analisar, avaliar e comunicar mensagens em suas mais variadas formas e, embora tenha objetivos semelhantes ao da educação midiática, a educomunicação não se concentra apenas na análise crítica e interpretação da mídia, mas em como usar a comunicação, de maneira geral, de forma transformadora. Ambas se complementam e são essenciais na era digital em que vivemos.
CORTES, T. P. B. B.; MARTINS, A. de O.; SOUZA, C. H. M. de. Educação Midiática, Educomunicação e Formação Docente: Parâmetros dos Últimos 20 Anos de Pesquisas nas Bases Scielo e Scopus. Educação em Revista, Belo Horizonte, n. 34, p. 1-39, 2018. Acesso em: 21 ago. 2025.
GUSMÃO, C.; JAVORSKI, E. Uma Década de Educação Midiática no Brasil: Levantamento de Teses e Dissertações (2013-2023). Revista Mediação, v. 26, n. 36, p. 39-50, jan./jun. 2024. Acesso em: 18 ago. 2025.
SPINELLI, Egle Müller. Comunicação, Consumo e Educação: alfabetização midiática para cidadania. Intercom – RBCC, São Paulo, v. 44, n. 3, p.127-143, set./dez. 2021. Acesso em: 19 ago. 2025.