MEDITAÇÃO
MEDITAÇÃO
por Alexsandro M. Medeiros
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publicado em fev. 2016
atualizado em ago. 2024
A meditação é uma prática bastante antiga, cujas origens remontam às tradições orientais, estando especialmente relacionada à prática do yoga, do Hinduísmo, do Budismo e suas derivações como sinônimo de busca espiritual (Levine, 2000; Cahn; Polich, 2006). “Os métodos e objetivos variam, mas, geralmente, nos contextos tradicionais, a meditação representa uma abertura para a comunhão com forças divinas, por meio de autoapaziguamento e neutralização dos pensamentos incessantes” (Moraes, 2015, p. 1619). “[...] o ponto central, comum as numerosas práticas, consiste em retirar temporariamente a atenção do mundo exterior e dos pensamentos relacionados a ele para focalizá-lo sobre o tema de meditação escolhido” (Sampaio, 2010, p. 6) e esse tema escolhido varia de acordo com a metodologia utilizada.
Lemos (2014, p. 47) ressalta como tradicionalmente a meditação
era ligada a práticas espirituais com objetivo de autorrealização. Registros mais antigos de uma cultura meditativa estão relacionados ao Vale do Indo, região que hoje se estende do vale do Ganges ao Paquistão e data de 3000 a 2500 a.C. Homens sentados em posturas meditativas foram gravados em moldes de argila e preservados como os sinais mais antigos desta civilização.
Através da meditação o praticante se observa de dentro para fora e é esta atitude que gera autorreflexão e transformação pessoal.
A meditação pode ser entendida ainda como uma prática de auto-regulação do corpo e da mente, a partir de um conjunto de técnicas que treinam a focalização da atenção e da mente (Davidson; Goleman, 1977; Goleman; Schwartz, 1976; Shapiro, 1981), capaz de produzir maior integração entre mente, corpo e mundo externo e capaz de produzir efeitos psicossomáticos.
Sugere-se que a meditação pode ser entendida e vivenciada a partir de duas perspectivas, que podem se complementar. A prática pode ser o reflexo de um contexto religioso-espiritual, através da qual são cultivados os ensinamentos transmitidos pelos preceitos filosóficos característicos da tradição e/ou a meditação pode ser uma atividade inserida no âmbito da saúde, na condição de técnica capaz de produzir determinados benefícios, promovendo maior saúde física e mental (Menezes; Dell’Aglio, 2009, p. 285)
Uma visão não exclui a outra e de alguma forma podem estar necessariamente interligadas, constituindo tanto uma prática espiritual quanto analisada a partir de seu potencial psicossomático, gerando respostas físicas e psicológicas que promovem a saúde e o bem estar não apenas físico, mas também o crescimento espiritual da pessoa.
A meditação designa uma ampla variedade de técnicas de treinamento mental e podem ser divididas em: práticas concentrativas, que visam sustentar a atenção sobre o conteúdo mental, por exemplo, objetos externos ou internos específicos, como conceitos, sons (mantras) ou sensações corporais - frequentemente aqueles associados à respiração; e práticas que não têm um foco específico, de conscientização aberta, que visam desenvolver uma capacidade de monitoramento mais panorâmica e reflexiva na qual o conteúdo mental é registrado, mas não é fixo.
Como meditar?
Não existe uma regra única para meditar. Existem vários tipos de meditação e com eles diferentes formas de meditar. No geral, é importante encontrar um local tranquilo para praticar a meditação (pode ser no quarto, na varanda de casa ou até mesmo em grupo em um ambiente preparado para a prática). A meditação pode ser feita sentada, como destaca Dias (2023, p. 10): “(em uma cadeira ou no chão) de modo que a coluna possa estar ereta, alinhada. Os braços podem relaxar sobre as pernas ou, se preferir, formar um Mudrā Cósmico1”. Mas a meditação também pode ser feita deitada, desde que se tenha consciência de que o objetivo não é dormir com a prática. Por isso, muitos recomendam ou preferem praticar sentado, para que a prática de relaxamento não possa induzir ao sono. O objetivo da meditação é manter a atenção plena da mente e, por isso, não se deve dormir com a prática.
Existem várias formas de manter a mente em estado de meditação sendo que é comum fazer com que a mente possa manter o foco em um determinado objeto ou no ato de respirar: “coloque a atenção na respiração: Inalar e exalar, profundamente, pelo nariz de forma rítmica e constante. Respire a partir do abdômen. A atenção deve estar completamente focada na entrada e saída do ar” (Dias, 2023, p. 10). Nesta etapa, não se deve procurar controlar o pensamento e nem forçá-lo a nada: “deixe apenas que ele [o pensamento] se vá...toda a sua atenção deve estar direcionada para a respiração! Não tire o foco dela! Sinta o ar entrar! Sinta o ar sair! Continue nesse ritmo” (Dias, 2023, p. 10).
Disponível em: ISTOÉ independente (Acessado em: 10/12/2015)
Em um estágio mais avançado da prática meditativa, quando já se consegue manter relativamente equilibrado o foco da mente, deve-se então buscar a quietude, o silêncio, repousar na tranquilidade. Para que seja possível alcançar este estágio de quietude, é preciso ter aprendido a praticar o desapego da mente, sem dar atenção a nenhum pensamento, sentimento ou emoção. Mas este já um estágio relativamente avançado da prática meditativa, em que aprendemos a não nos apegar nem às emoções agradáveis, nem às desagradáveis. Não se deve desejar nada.
Não se apegue ao bom, ao belo, às emoções agradáveis. Não tente agarrá-las durante a meditação. Quando você sentir uma boa sensação, apenas observe, sem julgamento. No momento em que essa sensação é perdida, não se preocupe, apenas aguarde, ela voltará...do mesmo modo, quando um sentimento negativo se aproximar da consciência, não o reprima! Acolha cada pensamento ruim, porém, não embarque em sua narrativa, apenas observe, lembre-se da distância que você deve manter entre a sua consciência-testemunha e os pensamentos desordenados. Enquanto essa distância permanecer, a meditação continuará seguindo o seu fluxo natural. Este é o caminho... (Dias, 2023, p. 11).
E por que este desapego é importante? Quando aprendemos a nos desapegarmos dos nossos pensamentos e sentimentos, quando não nos identificamos com uma imagem, recordação ou emoção, torna-se então possível sentir um estado de paz e quietude.
Os pensamentos, sejam eles positivos ou negativos, vem e vão constantemente, em um fluxo dinâmico e contínuo, como as nuvens do céu, ora levando-nos para o passado, ora levando-nos para o futuro, podendo produzir aflições, preocupações, angústias, medos, sofrimentos. O desapego ajuda a pessoa a estar no controle de seus pensamentos proporcionando assim a posse do equilíbrio mental e emocional.
A prática da meditação possui diferentes níveis. Alcançar um estado de quietude mental, equilíbrio e serenidade interior, que é o objetivo da prática meditativa, requer prática e tempo. Por isso, aqueles que se propõem a realizar esta prática não devem se preocupar se no início não conseguirem “silenciar a voz dos próprios pensamentos”. O estágio mais avançado da prática meditativa no budismo é conhecido como nirvana e, no hinduísmo, conhecido como samadhi. O samadhi é o “êxtase divino”, como destaca Dias (2023, p. 53): “Trata-se da meta de todos os meditadores sinceros. É a experiência de união com o sagrado, que está além do ego e de todas as nossas imperfeições psicológicas. Já imaginou poder acessar uma região livre de qualquer forma ou pensamento?”. No samadhi, a nossa consciência permanece como um observador sereno mergulhado em um sentimento de equilíbrio, força interior,
a existência converte-se em poesia cujo autor é o próprio silêncio, somos meros espectadores de uma experiência enigmática, nesse estado de ser, reconquistamos a naturalidade perdida, alcançamos o desprendimento de todos os condicionamentos do ego e o supremo despertar torna-se uma realidade tangível (Dias, 2023, p. 52).
1Gesto reflexológico que facilita a recepção das energias sutis. Com as palmas viradas para cima, o dorso da mão esquerda descansa sobre a palma da mão direita e os polegares tocam-se suavemente
Vimos anteriormente que uma das formas de manter o foco na meditação é através da respiração, colocando o foco da atenção na entrada e saída do ar, fazendo algumas respirações profundas, inalando e exalando o ar pelas narinas, o que ajuda no relaxamento.
Mas a importância da respiração vai além de apenas ajudar a colocar a mente em equilíbrio.
Respiração é vida! [...] Pesquisas científicas sugerem que a frequência da respiração (aproximadamente seis expirações por minuto) pode ser restauradora, desencadeando uma “resposta de relaxamento” no corpo e no cérebro (Dias, 2023, p. 34).
A respiração correta oxigena o sangue o que ajuda na purificação dos pulmões e no funcionamento das células pulmonares. Por outro lado, quantidade insuficiente de oxigênio no sangue e nos pulmões por comprometer o nosso organismo.
Quando o sangue é devidamente exposto ao ar nos pulmões, suas impurezas são destruídas e eliminadas juntamente com gás carbônico. Ao inalarmos profundamente garantimos que uma quantidade maior de oxigênio seja distribuída na corrente sanguínea, substituindo as células e tecidos gastos por substancias ricas em vitalidade, uma vez que receberam maior oxigenação (p. 35).
Outro aspecto importante na prática da meditação é o cuidado com a alimentação. Todos sabemos a importância de uma boa alimentação para prevenir e auxiliar no tratamento de muitas doenças e que a comida que ingerimos tem uma relação direta com a nossa saúde física. O mesmo vale para a nossa saúde mental, inclusive porque devemos considerar que não somos apenas um corpo ou uma mente, separados um do outro, mas que somos uma unidade mente-corpo que interage um com o outro e os efeitos de um são sentidos também no outro.
Sabemos que o organismo precisa consumir de forma equilibrada cálcio, minerais, proteínas e muitos outros nutrientes. Devemos consumir de forma moderada e sem abusos. Comer e beber de acordo com a necessidade do corpo. Devemos trabalhar também a mastigação. Mastigar lentamente facilita o processo de digestão, triturando melhor os alimentos.
Mastigue devagar! Ao mastigar lentamente você dará mais tempo para a sensação de saciedade chegar ao cérebro, indicando que o estômago está cheio e que é o momento de parar de comer; por esta razão, uma boa mastigação pode ajudá-lo a emagrecer, pois você estará obedecendo as funções instintivas do seu organismo e não aos caprichos da sua gula (Dias, 2023, p. 37).
Manter o corpo saudável através de uma alimentação saudável sem dúvida terá efeitos na mente, fazendo com que a mente possa trabalhar de forma equilibrada com o corpo e fazendo com que a energia utilizada no processo de digestão não seja gasta de forma dispendiosa tanto para o corpo quanto para a mente.
CAHN, B. R.; POLICH, J. Meditation states and traits: EEG, ERP and neuroimaging studies. Psychological Bulletin, vol. 132, n. 2, p. 180-211, 2006. Acessado em 19/01/2016.
DAVIDSON, R. J.; GOLEMAN, D. J. The role of attention in meditation and hypnosis: A psychobiological perspective on transformations of consciousness. The International Journal of Clinical and Experimental Hypnosis, vol. 25, n. 4, p. 291-308, 1977. Acessado em 19/01/2016.
DIAS, R. P. F. Meditação [livro eletrônico]: Serenidade emocional para tempos difíceis. Boa Vista, RR: UERR Edições, 2023.
GOLEMAN, D. J.; SCHWARTZ, G. E. Meditation as an intervention in stress reactivity. Journal of Consulting and Clinical Psychology, vol. 44, n. 3, p. 456-466, 1976. Acessado em 19/01/2016.
LEMOS, Kelly C. V. Meditação baseada em mindfulness e o método Feldenkrais® como terapias complementares no SUS: A Implementação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO) Sob a Perspectiva dos Usuários. Dissertação (Mestrado em Psicossociologia). Programa de Pós-Graduação em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2014.
LEVINE, M. The positive psychology of buddhism and yoga: Paths to a mature happiness. New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates, 2000.
MENEZES, Carolina Baptista; DELL’AGLIO, Débora Dalbosco. Os Efeitos da Meditação à Luz da Investigação Científica em Psicologia: Revisão de Literatura. Psicologia Ciência e Profissão, 29 (2), 276-289, 2009.
MORAES, Maria Regina C. Na fronteira entre religião e ciência: a meditação na grande imprensa brasileira. Anais do XIV Simpósio Nacional da ABHR, vol. 14. Juiz de Fora, MG, 15 a 17 de abril de 2015. Acessado em 18/01/2016.
SAMPAIO, Cynthia. Meditação, Saúde e Healing. In: ANAIS DO ENCONTRO PARAENSE, CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOTERAPIAS CORPORAIS, XV, X. Curitiba: Centro Reichiano, 2010. Acessado em 19/01/2016.
SHAPIRO, D. Meditation: Clinical and health-related applications. The Western Journal of Medicine, vol. 134, n. 2, p. 141-142, 1981. Acessado em 19/01/2016.
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