MEDITAÇÃO E SAÚDE MENTAL
MEDITAÇÃO E SAÚDE MENTAL
por Alexsandro M. Medeiros
lattes.cnpq.br/6947356140810110
publicado em ago. 2024
A prática da meditação (em suas variadas vertentes) tem sido estudada em associação a vários fatores, desde uma melhora na qualidade de vida, do humor, da saúde e do bem-estar psicológico (Cardoso, et. al., 2004; Casey; Benson, 2004; Carlson et al., 2004; Goleman, 1997; Luders, et al., 2009), inclusive podendo transformar traços da personalidade gerando uma boa auto estima, autoconfiança, estabilidade emocional, redução do sofrimento psicológico, aumento de afetos positivos (Goleman; Schwartz, 1976; Hayward; Varela, 2001; Jain, et al., 2007; Leung; Singhal, 2004; Martin, 1997; Naranjo, 2005), além de “[...] proporcionar o desenvolvimento de características psicológicas positivas por meio da redução de pensamentos ruminativos e de distração” (Menezes; Dell’aglio, 2009, p. 283).
Existem ainda evidências sobre melhora de dor crônica (Morone, et al., 2008; Rosenzweig, et al., 2010), redução dos níveis de cortisol e aumento da resposta imunológica (Sudsuang; Chetanez; Veluvan, 1991), melhora da qualidade do sono (Kosaka, et al., 2010) e melhora da depressão (Mars; Abbey, 2010). Pesquisas recentes da prática meditativa exploram as alterações hormonais e imunológicas, bem como os efeitos clínicos de suas práticas (Danucalov; Simões, 2009, p. 240-270).
A investigação científica da meditação parte da premissa que, embora existam diversas técnicas, todas têm uma característica fundamental comum: o controle da atenção (Menezes; Dell’aglio, 2009, p. 278).
Aqui vamos nos deter em alguns temas ligados a saúde e transtornos mentais como ansiedade, depressão e estresse.
Estresse e Ansiedade
Um estudo sobre a saúde mental dos brasileiros, realizado em 2020, pelo IPCES-Instituto de Psicologia e Controle do Stress (https://www.estresse.com.br/pesquisas-2/), “indicou um alto nível de stress (60%), ansiedade (57,5%), depressão (26%) e pânico (14%) bem como grande incerteza quanto ao futuro” (Dias, 2023, p. 34). A ansiedade e a depressão têm sido caracterizadas como transtornos mentais e atingem uma grande parte da população brasileira.
Por outro lado, inúmeros estudos vêm mostrando a eficácia da meditação relacionada, por exemplo, à diminuição dos sintomas ligados ao estresse e à ansiedade e cuja prática pode afetar positivamente as funções cognitivas e afetivas. Estudos sobre a prática meditativa associado q sintomas de estresse foram realizados por Goleman e Schwartz (1976), Kabat-Zinn (2003), Oman et al., (2006). Associado à diminuição da ansiedade foram realizados por Brown e Ryan (2003), Galvin et al., (2006), Schwartz, Davidson e Goleman (1978), e também associada à redução do lactato plasmático, que está associado a altos níveis de ansiedade (Dillbeck; Orme-Johnson, 1987; Wallace; Benson, 1972).
Como a meditação pode contribuir com o nosso bem-estar mental?
O que torna a prática da meditação um “instrumento” de combate a depressão e a ansiedade, por exemplo, é o princípio de que a meditação faz com que nossa mente se fixe no presente, desprendendo-se do passado e não alimentando preocupações quanto ao futuro. E nesse sentido a meditação corrobora alguns princípios da própria psiquiatria sobre distúrbios mentais que são caracterizados pela insistência em remoer frustrações passadas, o que pode levar a depressão, ou pela angústia exagerada diante do futuro, o que provoca a ansiedade em grau tanto maior quanto maior o indivíduo se projeta e permanece no futuro. Estudos relatam que além de reduzir a ansiedade, a meditação provoca um incremento na autoestima, autorealização, confiança, redução de medos e fobias (Walsh, 1991).
A meditação também tem um efeito direto sobre o estresse da vida contemporânea e nossas emoções, uma vez que ajuda a diminuir o estado de alerta constante em que o corpo físico se põe para resolver os problemas diários, com possíveis repercussões no sistema imunológico e no equilíbrio emocional, além de melhorar a concentração, o raciocínio e a memória.
Um ponto importante a ser considerado na prática da meditação é a respiração e como ela pode ter efeitos sobre o nível de estresse e ansiedade. Algumas pesquisas são relevantes nesse aspecto, como a da Stanford University Medical Center que “apontou que aprender técnicas de respiração correta aumenta os níveis de relaxamento, reduzindo o estresse e a ansiedade” (Dias, 2023, p. 35).
A respiração, suave e profunda, ajuda o corpo a liberar substâncias calmantes no nosso organismo, foi o que constatou uma pesquisa realizada pela Associação Canadense de Saúde Mental. Uma respiração profunda é capaz de ajudar o corpo a liberar endorfina, um “neuro hormônio mais conhecido como hormônio da alegria, que tem uma potente ação analgésica, além de proporcionar a sensação de bem-estar” (Dias, 2023, p. 36). A respiração calma e profunda faz com que o corpo entenda que não há nenhum perigo ou risco iminente, ajudando a atingir um estado de maior serenidade. Ajuda na tensão muscular, os batimentos cardíacos diminuem e somos tomados por uma sensação interior de paz e tranquilidade.
Uma outra possibilidade está relacionada com o próprio sistema imunológico, foi o que constatou pesquisadores da Universidade de Medicina da Carolina do Sul. Analisando a saliva de um grupo de participantes de meditação, os pesquisadores constataram que este grupo “tinha níveis significativamente mais baixos de três citocinas associadas à inflamação e ao estresse” (Dias, 2023, p. 36).
BROWN, K. W.; RYAN, R. M. The benefits of being present: Mindfulness and its role in psychological well-being. Journal of Personality and Social Psychology, vol. 84, n. 4, p. 822-848, 2003. Acessado em 19/01/2016.
CARDOSO, R., [et. al.]. Meditation in health: An operational definition. Brain Research Protocols, vol. 14, n. 1, p. 58-60, 2004. Acessado em 19/01/2016.
CARLSON, L. E., [et. al.]. Mindfulness-based stress reduction in relation to quality of life, mood, symptoms of stress and levels of cortisol, dehydroepiandrosterone sulfate (DHEAS) and melatonin in breast and prostate cancer outpatients. Psychoneuroendocrinology, 29, 448-474, 2004. Acessado em 19/01/2016.
CASEY, A.; BENSON, H. Mind your heart. New York: Free Press, 2004.
DAVIDSON, R. J.; GOLEMAN, D. J. The role of attention in meditation and hypnosis: A psychobiological perspective on transformations of consciousness. The International Journal of Clinical and Experimental Hypnosis, vol. 25, n. 4, p. 291-308, 1977. Acessado em 19/01/2016.
DIAS, R. P. F. Meditação [livro eletrônico]: Serenidade emocional para tempos difíceis. Boa Vista, RR: UERR Edições, 2023.
DILLBECK, M. C.; ORME-JOHNSON, D. W. Physiological differences between transcendental meditation and rest. American Psychologist, vol. 42, n. 9, p. 879-881, 1987. Acessado em 18/01/2016.
DANUCALOV, M.; SIMÕES, R. Neurofisiologia da meditação: as bases neurofisiológicas das experiências místico-religiosas. São Paulo: Phorte Editora, 2009.
GALVIN, J. A., [et. al.]. The relaxation response: Reducing stress and improving cognition in healthy aging adults. Complementary Therapies in Clinical Practice, vol. 12, n. 3, p. 186-191, 2006. Acessado em 19/01/2016.
GOLEMAN, Daniel. A Mente Meditativa. 4. ed. São Paulo: Editora Ática, 1997.
GOLEMAN, D. J.; SCHWARTZ, G. E. Meditation as an intervention in stress reactivity. Journal of Consulting and Clinical Psychology, vol. 44, n. 3, p. 456-466, 1976. Acessado em 19/01/2016.
HAYWARD, J. W.; VARELA, F. J. Gentle bridges: Conversations with the Dalai Lama on the sciences of mind. Boston: Shambala, 2001.
JAIN, S., [et. al.]. A randomized controlled trial of mindfulness meditation versus relaxation training: Effects on distress, positive states of mind, rumination and distraction. Annals of Behavioral Medicine, vol. 33, n. 1, p. 11-21, 2007. Acessado em 19/01/2016.
KABAT-ZINN, J. Mindfulness-based interventions in context: Past, present, and future. Clinical Psychology: Science and Practice, vol. 10, n. 2, p. 144-156, 2003. Acessado em 18/01/2016.
LEUNG, Y.; SINGHAL, A. An examination of the relationship between Qigong meditation and personality. Social Behavior and Personality, vol. 32, n. 4, p. 313-320, 2004. Acessado em 22/01/2016.
LUDERS, E., [et. al.]. The underlying anatomical correlates of long-term meditation: larger hippocampal and frontal volumes of gray matter. Neuroimage, v. 45, 672-678, 2009. Acesso em 11/01/2017.
MARTIN, J. R. Mindfulness: A proposed common factor. Journal of Psychotherapy Integration, vol. 7, n. 4, p. 291-312, 1997. Acessado em 22/01/2016.
MARS, T.; ABBEY, H. Mindfulness meditation practise as a healthcare intervention: a systematic rewiew. International Journal of osteopathic Medicine, 13, pp. 56-66, 2010. Acesso em 11/01/2017.
MENEZES, Carolina Baptista; DELL’AGLIO, Débora Dalbosco. Os Efeitos da Meditação à Luz da Investigação Científica em Psicologia: Revisão de Literatura. Psicologia Ciência e Profissão, 29 (2), 276-289, 2009.
MORONE, N., [et. al.]. “I felt like a new person.” The effects of mindfulness mediation on older adults with chonic pain: a qualitative narrative analysis of diary entries. The journal of pain, v.9(9), 841-848, 2008. Acesso em 20/01/2017.
NARANJO, C. Entre meditação e psicoterapia. Rio de Janeiro: Vozes, 2005.
ROSENZWEIG, S., [et. al.]. Mindfulness-based stress reduction for chronic pain conditions: Variation in treatment outcomes and roleof home meditation practice. Journal of Psychosomatic research, 68(1), 29-36, 2010. Acesso em 20/01/2017.
SCHWARTZ, G. E.; DAVIDSON, R. J.; GOLEMAN, D. J. Patterning of cognitive and somatic processes in the selfregulation of anxiety: Effects of meditation versus exercise. Psychosomatic Medicine, vol. 40, n. 4, p. 321-329, 1978. Acessado em 19/01/2016.
SUDSUANG, R., CHENTANEZ, V., VELUVAN, K. Effect of buddhist meditation on serum cortisol and total protein levels, blood pressure, pulse rate, lung and reaction time. Physiology & Behavior, v.50(3), 543-548, 1991. Acesso em 20/01/2017.
WALLACE, R. K.; BENSON, H. The physiology of meditation. Scientific American, 226, p. 84-90, 1972.