THEODOR ADORNO
por Alexsandro M. Medeiros
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postado em jan. 2019
Theodor Ludwig Wiesengrund-Adorno nasceu em 1903, em Frankfurt, na Alemanha, e se tornou um dos maiores expoentes da chamada Escola de Frankfurt. Seu pensamento aborda áreas diversas como a filosofia, sociologia, educação e arte. Sua mãe, uma cantora lírica, e sua tia, uma pianista, exerceram influência sobre Adorno de tal modo que ele chegou a se tornar musicólogo e compositor, publicando vários artigos sobre crítica e estética musical. Nesse campo Adorno teve uma grande influência de outro expoente da Escola de Frankfurt, Walter Benjamin. A maior parte de suas reflexões são devedoras das ideias de Benjamin, todavia, Adorno procura mostrar a falta de sustentação de algumas de suas teses, como a postura otimista de Benjamin sobre uma possível função revolucionária do cinema. Além de Benjamin, a estética de Adorno é marcada por referências à Kant, Hegel, Nietzsche.
Seu pensamento segue uma trajetória de metáforas luminosas: da “Alfklärung” de Kant, através da “Aparência” de Hegel e o hölderliniano “fogo do céu”, até a “Aura” de Benjamin e o “fogo artifício”, signo de uma arte-divertimento dessacralizada, passando pelas paragens luciféricas da filosofia nietzscheana (BOLLE, 2015, p. 18-19).
Em Frankfurt, Adorno se graduou em Filosofia e, em Viena, deu início aos estudos de composição musical com Alban Berg. Sua vida foi entremeada pela música e pela filosofia. Em 1923 defendeu sua tese para obter o título de doutor em filosofia: A transcendência do objeto e do noemático na fenomenologia de Husserl. Em 1933 publicou sua tese de livre-docência sobre Kierkegaard. Adorno escreveu ainda várias obras das quais mencionamos algumas: em 1956 escreveu Para a Metacrítica da Teoria do Conhecimento — Estudos Sobre Husserl e as Antinomias Fenomenológicas e Dissonâncias; entre 1958 a 1965: Ensaios de Literatura I, II, III; em 1966: Dialética Negativa; em 1968 e 1969, respectivamente: Teoria Estética e Três Estudos Sobre Hegel. Além destas obras, Adorno escreveu várias obras sobre música e estética. Em 1932, escreveu A Situação Social da Música, e posteriormente: “Sobre o jazz (1936), Sobre o Caráter Fetichista da Música e a Regressão da Audição (1938), Fragmentos Sobre Wagner (1939) e Sobre Música Popular (1940-1941)” (In: ADORNO, 1996, p. 6). Em obras como a Filosofia da nova música e Sobre algumas relações entre Música e Pintura (1965), Adorno analisa composições de Schönberg, Stravinsky e Debussy, além de músicos e pintores do início do século XX ligados à vanguarda artística europeia (DUARTE, 2015).
Em 1955 Adorno se torna diretor-adjunto do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, tornando-se diretor após a aposentadoria de Max Horkheimer, outro célebre pensador do Instituto. Adorno é considerado co-fundador do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt e faz parte da chamada primeira geração da Teoria Crítica (mais conhecida como Escola de Frankfurt). A Teoria Crítica tinha como objetivo principal fundar uma filosofia social que fosse capaz de entender e explicar a sociedade, levando em consideração principalmente a filosofia marxista de crítica da sociedade capitalista. A influência marxista era tão grande que chegou-se a pensar no nome do Instituto como Instituto para o Marxismo (PEREIRA; MATIAS; VILELA, 2006, p. 32) mas seus fundadores preferiram uma terminologia mais neutra e optaram por Instituto para a Pesquisa Social. O projeto epistemológico do Instituto era “a apropriação do marxismo como método científico: a aplicação da dialética marxiana para desvendar e criticar a lógica da sociedade capitalista. Essencialmente se crê na aproximação da pesquisa social com materialismo histórico enquanto método” (id., ibidem, p. 33).
Foi com Horkheimer que Adorno escreveu a Dialética do Esclarecimento (1947), um de suas obras mais importantes e influentes. A primeira edição mimeografada, de 1944, foi escrita “ainda nos Estados Unidos da América, com o título ‘Fragmentos Filosóficos’. Em 1947 foi editada em Amsterdã pela Editora QUERIDO e, em 1969, em Frankfurt pela Editora Fischer” (PEREIRA; MATIAS; VILELA, 2006, p. 19). Na obra os autores desenvolvem a ideia de uma razão instrumental e indústria cultural, sendo a primeira uma crítica negativa ao ideal de razão emancipadora herdada do Iluminismo e a segunda uma crítica da lógica cultural do sistema capitalista.
Aliada à ideologia capitalista, e sua cúmplice, a indústria cultural contribui eficazmente para falsificar as relações entre os homens, bem como dos homens com a natureza, de tal forma que o resultado final constitui uma espécie de antiiluminismo. Considerando-se — diz Adorno — que o iluminismo tem como finalidade libertar os homens do medo, tornando-os senhores e liberando o mundo da magia e do mito, e admitindo-se que essa finalidade pode ser atingida por meio da ciência e da tecnologia, tudo levaria a crer que o iluminismo instauraria o poder do homem sobre a ciência e sobre a técnica. Mas ao invés disso, liberto do medo mágico, o homem tornou-se vítima de novo engodo: o progresso da dominação técnica. Esse progresso transformou-se em poderoso instrumento utilizado pela indústria cultural para conter o desenvolvimento da consciência das massas (In: ADORNO, 1996, p. 8).
Sobre a Dialética do Esclarecimento, assim se refere Gomes (2010, p. 290):
teve como principal objetivo, buscar compreender porque a racionalidade das relações sociais humanas, ao invés de levar à instauração de uma sociedade de mulheres e homens livres e iguais, acabou por produzir um sistema social conformista que bloqueou estruturalmente a principal via de emancipação: a razão iluminista. Particularmente para Adorno, a Dialética do Esclarecimento tem um sentido teórico-crítico próprio, pois se trata da negação crítica da visão racionalista, idealista e progressista da história que se firmava como teoria hegemônica da sociedade burguesa, aspecto este que é retomado mais tarde na Dialética Negativa (1967), em que toda visão sistêmica e totalizante da sociedade é absolutamente rejeitada.
Adorno faleceu, por problemas cardíacos, no dia 6 de agosto de 1969.
O Conceito de Esclarecimento
“Todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer”, afirmou o filósofo grego Aristóteles no início da sua obra Metafísica. Da mesma maneira, poderíamos dizer que o desejo de esclarecimento é característico de todo ser humano.
De modo mais específico, Adorno e Horkheimer se referem a filosofa do Esclarecimento àquela do Iluminismo, em que se atribuía uma crença otimista na racionalidade humana de que esta iria promover um estado de emancipação social e humana, livre das superstições, das falsas concepções metafísicas, míticas ou religiosas da realidade. O Esclarecimento, neste sentido, iria promover o desencantamento do mundo e sua previsibilidade através do conhecimento científico, matematizado e calculável, promovendo o progresso da humanidade. “A grande novidade naquilo que tange ao esclarecimento moderno e contemporâneo é sua superação sobre os discursos míticos, o abandono de sua linguagem alegórica e a supremacia da ciência sobre as demais esferas do conhecimento” (SANTOS; ECKSTEIN, 2015, p. 112). O esclarecimento promovido pela racionalidade e pelo conhecimento científico pensaram ter superado toda forma de discurso mítico e de encantamento do mundo. O que se vê é uma supremacia da racionalidade e da ciência. Todavia, “Em Dialética do Esclarecimento, Horkheimer e Adorno argumentam que o simples avanço da ciência moderna não redunda imediatamente naquele Esclarecimento humanizador almejado pelo Iluminismo, mas em obscurecimento” (ESTEVES; VALVERDE, 2016, p. 269).
A crença iluminista de que a racionalidade iria conduzir a humanidade a um estado emancipatório não se concretizou. Ao contrário, fez os seres humanos mergulharem em um estado de barbárie. Adorno e Horkheimer chegam a essa conclusão ao refletir sobre o conceito de Esclarecimento a partir de vários fatores, dentre os quais: “ao apontar os perigosos reflexos dos avanços tecnológicos contemporâneos no campo da subjetividade” (SOUZA, 2011, p. 470). O conceito Esclarecimento passa, então, a ser analisado em seu aspecto dialético que inclui o seu contrário, ou seja, o aspecto destrutivo e de barbárie (a dialética do esclarecimento consiste precisamente no fato de ressaltar como o esclarecimento contém, em sua dinâmica, elementos progressivos e regressivos).
Em outros termos, o crescente domínio técnico e o proeminente controle humano sobre a natureza, ao invés de produzirem um mundo mais justo, acentuariam o nível de desigualdade social. Pior ainda – mas, segundo a lógica de mercado, de forma complementar -, o aumento da capacidade de consumo e a melhoria da qualidade de vida da população em termos de bens materiais equivaleria à venda da sua capacidade crítica (SOUZA, 2011, p. 470).
Este processo, dominado pela racionalidade instrumental, culmina com o surgimento da Indústria Cultural, ou seja, a produção de bens culturais, que deveria servir para a emancipação humana, é utilizado na sociedade capitalista com fins mercadológicos transformando não só o homem, como a própria cultura, em meios para obtenção de riquezas.
Implicações da Concepção Dialética do Esclarecimento
As consequências que a concepção dialética do Esclarecimento traz – de que o Esclarecimento traz em si tanto as forças progressivas quanto regressivas –, pode ser sentida em diferentes áreas e aqui iremos analisar duas delas: a arte e a educação.
Neste texto iremos abordar a ideia de arte e as consequentes críticas do filósofo alemão no contexto das teorias do Esclarecimento e da Indústria Cultural esboçadas acima. Ao fazer a crítica da racionalidade contemporânea denunciando o caráter essencialmente dominador que esta assume, Adorno enfatiza que ela não promoveu a sonhada emancipação apregoada pela razão iluminista. Os seres humanos se tornam parte de um mundo reificado (coisificado), dominados pela lógica da mercantilização capitalista que transforma tudo em mercadoria, inclusive a cultura e a arte, que são explorados pela indústria cultural. “A Indústria Cultural para sobreviver precisa, desesperadamente, de que seus produtos sejam consumidos” (PAULO DA SILVA, 2013, p. 53). O pensamento de Theodor Adorno tem como característica uma crítica em relação não apenas a sociedade capitalista e à razão instrumental, mas a própria cultura.
Nesse contexto, a filosofia assume uma tarefa fundamental, que é a de apreender o conceito verdadeiro da arte, longe das ilusões produzidas pela indústria cultural. A filosofia deve assumir uma postura em relação à indústria cultural pois só dessa forma será possível pensar a arte de modo a que não esteja comprometida com a racionalidade instrumental. Adorno e Horkheimer argumentam que a arte e a cultura, através do cinema, da rádio, da televisão, das revistas, se apresentam como um negócio.
Nos textos escritos na década de 1940, a vinculação entre a discussão do cinema e a da indústria cultural fica já muito patente. Tal vinculação fornecerá o contexto mais amplo no qual o cinema será abordado por Adorno (a saber, o da sua crítica veemente à indústria cultural), e também os parâmetros básicos para sua caracterização. Grosso modo, o cinema será caracterizado como o carro-chefe da indústria cultural, ao qual Adorno não concede o estatuto de arte autêntica (ARAUJO SILVA, 1999, p. 116).
Cinema e rádio perdem a característica de arte. “A verdade de que não passam de um negócio, eles a utilizam como uma ideologia destinada a legitimar o lixo que propositalmente produzem”. (HORKHEIMER; ADORNO, 1985, p. 114 apud ESTEVES; VALVERDE, 2016, p. 270). A visão de Adorno sobre o cinema é bem mais pessimista do que o da rádio. Adorno caracteriza o cinema (sobretudo o cinema hollywoodiano, que foi aquele com o qual Adorno teve maior contato quando estava exilado nos Estados Unidos onde passou 10 anos) como carro-chefe da indústria cultural e recusa a conceder-lhe o estatuto de arte.
Tal condenação e tal recusa são perceptíveis em muitas passagens da Dialética do Esclarecimento e das Minima moralia, nas quais o cinema só é referido para fornecer exemplos de aspectos funestos da indústria cultural que Adorno está denunciando. A cada tópico do ataque de Adorno à indústria cultural, quase a cada página no caso do capítulo da Dialética do Esclarecimento, o cinema comparece apenas para exemplificar o que Adorno está criticando (ARAUJO SILVA, 1999, p. 117).
Se Adorno recusa a conferir ao cinema de tipo hollywoodiano o estatuto de arte, isso não significa que ele não veja exemplos de como o cinema pode vir a ser uma arte emancipada e “cita exemplos de filmes ou cineastas que ele valora positivamente: filmes de Schlöndorff, Antonioni, uma experiência de filme para a televisão do compositor Maurício Kagel, Chaplin e os signatários do manifesto de Oberhausen” (ARAÚJO SILVA, 1999, p. 121).
Se por um lado o objetivo da arte e da cultura com o advento da indústria cultural é a produção e reprodução do capital, não se pode perder de vista uma outra opção, a de ver a arte e a cultura sob uma perspectiva emancipatória. Para tal, a arte deve criar a possibilidade de uma experiência que tenha sentido em si mesma e que possibilite um retorno ao belo natural, ao reino da liberdade, livre das regras impostas pela indústria cultural e daquilo que foi submetido ao estado de dominação da racionalidade capitalista.
CHARGE “Calvin e o Poder da Mídia”
Disponível em: Blog Arte e Manhas da Língua.
Acesso em 26 jan. 2019
Implicações da Concepção Dialética do Esclarecimento na Educação
No que se refere à educação, Adorno, que contribuiu com a formação do pensamento educacional através de artigos e palestras (em escolas, universidades e estações radiofônicas), escreveu uma obra intitulada Educação e Emancipação que, como o próprio título sugere, propõe que a educação tenha por objetivo a emancipação dos indivíduos.
A Educação é esclarecimento e por isso deve promover uma busca permanente pelo conhecimento, desenvolvendo nos indivíduos a capacidade crítica bem como sua autonomia. “Segundo Adorno e Horkheimer (1985), emancipação e conhecimento estão relacionados em um eixo comum chamado esclarecimento, e, no sentido mais amplo, do progresso do pensamento” (SANTOS; ECKSTEIN, 2015, p. 117). Mas esse conhecimento relacionado ao esclarecimento capaz de produzir a emancipação não pode incorrer no mesmo erro que gerou a racionalidade instrumental, pois a razão instrumental, ao invadir a escola, reforça na sala de aula o que acontece com o homem na fábrica e no escritório, coisificando-o. É preciso pensar uma educação capaz de esclarecer as contradições do mundo social “e permitindo-lhes resistir às barbarizações, cada vez mais refinadas, que atingem a vida humana” (SANTOS; ECKSTEIN, 2015, p. 117).
A educação encontra-se entre a barbárie (mera adaptação e repetição do existente) e a emancipação (que dá autonomia):
trata-se de decidir entre adaptação à sociedade ou formação de pessoas constituídas de autonomia para edificarem suas vidas e seu mundo de modo a desenvolverem potencialidades de acordo com o que permite o estágio de desenvolvimento alcançado pelas forças produtivas, além de instruí-las a lidarem com os instrumentos e instituições da sociedade estabelecida (ESTEVES; VALVERDE, 2016, p. 260).
Uma educação meramente adaptativa faz com que os indivíduos se limitem a reproduzir o já existente sem se preocupar em fazer uma análise crítica da realidade ao seu redor. “O resultado são saberes constituídos como pesos mortos a serem carregados pelo educando e que aumentam sua ‘autoalienação’ (ADORNO, 1995, p. 69), arraigam a heteronomia à medida que são substitutos da reflexão crítica” (ESTEVES; VALVERDE, 2016, p. 261).
Mas esse modelo de educação meramente adaptativa não é o único possível. É possível pensar outro tipo de educação “não apenas como adaptação ao status quo, mas como emancipação e resistência à barbárie” (ESTEVES; VALVERDE, 2016, p. 262). Pensar um modelo de escola como agente de transformação social, de desbarbarização e esclarecimento (de suas causas) e, por conseguinte, de emancipação.
A minha geração vivenciou o retrocesso da humanidade à barbárie, em seu sentido literal, indescritível e verdadeiro. Esta é uma situação em que se revela o fracasso de todas aquelas configurações para as quais vale a escola. Enquanto a sociedade gerar a barbárie a partir de si mesma, a escola tem apenas condições mínimas de resistir a isto. Mas se a barbárie, a terrível sombra sobre a nossa existência, é justamente o contrário da formação cultural, então a desbarbarização da humanidade é o pressuposto imediato da sobrevivência. Este deve ser o objetivo da escola, por mais restritos que sejam seu alcance e suas possibilidades (ADORNO, 1995, p. 117 apud ESTEVES; VALVERDE, 2016, p. 262-263).
Como o Esclarecimento, a Educação também possui em si uma característica ambígua (forças progressivas e regressivas). É preciso lidar com a ambiguidade da educação para fazer com que a educação não seja meramente uma transmissora de conhecimentos que assume uma característica de coisa morta. “O que é preciso pensar e fazer é uma educação como ‘produção de uma consciência verdadeira’” (ADORNO, 1995, p. 141 apud ESTEVES; VALVERDE, 2016, p. 264).
Outra contribuição de Adorno ao pensamento educacional, consiste no que Zuin (2015, p. 109) chama de “crítica ao processo de conversão da formação (Bildung) em semiformação (Halbbilduing), ou seja, a elucidação do modo como o espírito é conquistado pela lógica do fetiche da mercadoria”. A semiformação seria, portanto, uma formação influenciada pelo consumo produzido pela indústria cultural e pelo fascínio da técnica, a qual é necessário recuperar uma dimensão emancipatória da formação. No processo de semiformação predomina a racionalidade instrumental, a adaptação e o conformismo à situação vigente. Adorno (apud GOMES 2010, p. 292) aponta os limites e possibilidades da educação no contexto da semiformação, entendendo a educação como modelagem de pessoas ou a mera transmissão do conhecimento.
Para promover a emancipação do indivíduo, a educação deve ajudá-lo a se libertar do processo de alienação e manipulação produzido pela indústria cultural. “A saída apontada por ele, para esse processo de alienação e enclausuramento do sujeito, estará condicionada aos processos formativos (educacionais) capazes de proporcionar uma condição política, estética e cultural diferenciada” (GOMES, 2010, p. 291).
O modelo de educação da sociedade capitalista é semiformação pois nela o indivíduo perde sua autonomia e existe como massa, sob o império da indústria cultural, e vê sua subjetividade ser alienada. “Foi essa alienação que tornou possível o nazismo, o holocausto e os campos de concentração, porque ela fabrica sujeitos alienados, incapazes de uma relação subjetiva e crítica com sua realidade, ela aumenta o potencial de adesão sem consciência” (PEREIRA; MATIAS; VILELA, 2006, p. 45).
Adorno discute o processo de semiformação como uma análise sociológica do ensino, onde a semiformação ocupa todos os espaços educativos da sociedade onde o que ocorre na educação dos indivíduos é uma distorção da sua consciência.
Ao modelo de semieducação ou semiformação que Adorno critica, ele propõe que a formação seja um processo de produção de uma consciência verdadeira. Adorno aspira a uma transformação das relações sociais através do processo educativo.
No texto dedicado à análise da semiformação e da Indústria Cultural ele aponta que a educação deve ser uma arma de resistência contra a força da Indústria Cultural, na medida em que forme uma consciência crítica e reflexiva, capaz de permitir aos indivíduos desvendar as contradições da vida social e capacitá-los para o exercício de resistência da cultura verdadeiramente humana contra a cultura banalizada da e pela Indústria Cultural (PEREIRA; MATIAS; VILELA, 2006, p. 46).
Nessa perspectiva, Adorno propõe uma educação que seja formação dos indivíduos, que trabalhe o potencial de desenvolvimento da consciência e da subjetividade humana.
Referências Bibliográficas
ADORNO, Theodor. Textos Escolhidos. São Paulo: Nova Cultural, 1996. (Coleção Os Pensadores).
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PAULO DA SILVA, Mateus. A Escola de Frankfurt e a filosofia de Theodor W. Adorno: indústria cultural e sociedade. Pergaminho, 4, p. 50–54, dez. 2013. Acesso em 25 jan. 2019.
PEREIRA, Denise P.; MATIAS, Virgínia C. B. de Queiroz. VILELA, Rita Amélia T. A Teoria Crítica da Educação de Theodor Adorno e suas apropriações para análise das questões atuais sobre currículo e práticas escolares. Relatório de Pesquisa, PUC Minas, 2006.
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ZUIN, Antônio A. S. A crítica imanente de Adorno à semiformação. In: FREITAS PINTO, Renan; SPENCER, Davyd; TELLES, Tenório (orgs.). Teoria Crítica e Adorno: ideias em constelação. Manaus: Valer Editora, 2015, p. 109-126.
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