DIFERENTES ESTILOS DE YOGA
DIFERENTES ESTILOS DE YOGA
por Alexsandro M. Medeiros
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postado em: dez. 2024
Não existe apenas uma corrente do Yoga ou caminhos para a realização do indivíduo. Há várias correntes dentre as quais podemos destacar: “Kriya, incluindo Hatha Yoga (Yoga da técnica), Jnana (Yoga do conhecimento), Bhakti (Yoga da devoção), Karma (Yoga do serviço) e Raja Yoga (integral, pois combina os quatro tipos precedentes)” (PEÇANHA; CAMPANA, 2010, p. 203). Hatha-Yoga é o ramo do Yoga direcionado para o domínio e controle do corpo físico. “Atualmente, o Hatha Yoga é o ramo mais praticado no mundo por pessoas que o procuram pelos benefícios físicos, mas desconhecem seu objetivo tradicional: a autorrealização” (LIMA, 2010, p. 37).
O termo Bhakti significa amor, Bhakti consiste no “Yoga da dedicação amorosa à Pessoa divina e da participação do amor dessa Pessoa” (FEUERSTEIN, 2006, p. 74). Bhakti-Yoga enfatiza, portanto, o desapego da personalidade egóica.
Pamela Siegel destaca os quatro tipos clássicos que seriam: “Bhakti (devoção); Karma (serviço); Jnana (conhecimento) e Raja (real)” (2010, p. 25). Na Tese da autora (id., 2010, p. 26) consta uma imagem extraída da Revista Superinteressante que ilustra uma árvore do yoga em que a Raja-Yoga seria a raiz comum a partir da qual brotam seis ramificações que se desdobra em vários outros tipos. Já Feuerstein (2006) menciona oito tipos tradicionais: Raja, Hatha, Jnana, Bhakti, Karma, Mantra, Laya e Yoga Integral.
No caso do Raja-Yoga (compilado dos YogaSutras de Patañjali) são oito passos que devem ser realizados para a harmonização do corpo com a mente através da respiração (pranayamas), posturas de yoga (ásanas) e da meditação. Esses oito passos estão descritos no capítulo 2 dos YogaSutras de Patañjali (OS YOGASUTRAS DE PATAÑJALI, 1999), mas também temos um quadro abaixo sobre como estes oito passos são interpretados por diferentes autores:
Esses oito componentes do Yoga também são descritos por Carlos Eduardo G. Barbosa (apud OS YOGASUTRAS DE PATAÑJALI, 1999, p. 29) da seguinte forma: yama (normas de convivência), niyama (normas de aperfeiçoamento pessoal), asana (posturas de assentamento), pranayama (controle e direcionamento da vitalidade), pratyahara (recolhimento da atenção), dharana (concentração da atenção em um objeto determinado), dhyanam (permanência no estado de concentração) e Samadhi (absorção e elevação da consciência dentro do próprio processo de cognição).
O último estágio, Samadhi, é o objetivo final do Yoga e corresponde a um estado de consciência que está diretamente relacionado com a experiência do sagrado. “Para Eliade (1996), Samadhi não pode ser traduzido, assim também como sua experiência é indescritível, sendo um plano de consciência inatingível dentro dos processos racionais do homem comum” (OLIVEIRA, 2015, p. 38).
Considerando a grande ramificação do yoga no período da modernidade, apresentamos o seguinte quadro, adaptado de Oliveira (2015, p. 34) sobre diferentes de estilo de yoga:
Adaptamos o quadro acima e retiramos dois estilos de yoga na contemporaneidade porque seus idealizadores estiveram envolvidos em diferentes casos de escândalos. Excluímos o estilo Bikram Yoga, fundado por Bikram Choudry, e o estilo Kundalini Yoga, fundado por Yogi Bhajan.
Bikram Choudhury conquistou Los Angeles nos anos 1970 e foi considerado um dos mais famosos iogues do mundo, com mais de 1.500 estúdios com o seu nome em diversos países. Em 2017, no entanto, o indiano foi considerado fugitivo nos Estados Unidos, como retrata o documentário “Bikram: Yogi, Guru, Predador”, produzido pela Netflix, que revela uma outra face de Bikram: além de iogue e guru, Bikram foi acusado de abusar sexualmente de suas alunas, inclusive com casos de estupro.
Já o Kundalini Yoga foi idealizado por Yogi Bhajan e teve como uma de suas principais discípulas Guru Jagat, ambos envolvidos em escândalos e polêmicas. Há um documentário da HBO Max intitulado “Respiração de Fogo: yoga, seita e escândalo”. O documentário fala sobre a trajetória conturbada de Guru Jugat, que aprendeu os ensinamentos de Yogi Bhajan, sendo que ambos foram acusados de criar uma comunidade gigantesca e multimilionária, além de alegações de práticas abusivas, formação de seita e até trabalho forçado.
O yoga é uma filosofia ou uma visão de mundo que visa a preparação “para a realização de um melhor conhecimento de si mesmo, um aprimoramento do ser, assim como para o desenvolvimento de qualidades e potencialidades tais como: concentração, energia, domínio de si mesmo, alegria, sensatez, sensação de profunda paz e unidade” (LEITE, 1999, p. 3): "é uma prática mente-corpo, que abrange técnicas fisiológicas e psíquicas, e visa chegar ao estado de identificação do ser com a sua essência, através da ausência de flutuações mentais” (SIEGEL, 2010, p. 28). Lima (2010, p. 33) destaca que o praticante de Yoga é levado “a treinar constantemente a percepção – audição, visão, olfato, sensibilidade da pele, relaxamento – e treina a mente de modo que melhora o senso de discernimento, levando a pessoa a planejar melhor seus objetivos”. E Leite (1999, p. 3) ressalta ainda como a prática do Yoga é importante para o controle e regularização da respiração, através de exercícios rítmicos, uniformes, regulares e podem ser praticados em pé, sentado ou deitado, em posturas estáticas ou através de movimentos corporais dinâmicos.
O yoga não deve ser visto apenas como uma prática física ou de posturas corporais e exercícios respiratórios, mas seu objetivo é a busca de uma vivência com o sagrado: “La fuerza propuesta por el Hatha Yoga, no es la de un atleta, sino la de un mago, la de un hombre dios” (ELIADE, 1961, p. 170 apud PULIDO, 2009, p. 37). Além do mais “[...] en la práctica del yoga y la meditación se busca un auténtico entrenamiento para obtener una visión de si mismo que genere un mayor nivel de control sobre las emociones y acciones” (PULIDO, 2009, p. 37). Embora um dos objetivos do Yoga seja a vivência com o sagrado o Yoga não é uma religião e qualquer pessoa, de qualquer credo religioso ou mesmo sem credo algum pode praticar yoga. Todavia, embora o Yoga não seja considerado uma religião, não se pode negar que “no seu entendimento mais profundo, o Yoga pode assemelhar-se a conceitos como religião e espiritualidade” (SIMÕES, 2011, p. 21).
[...] pensar no Yoga alheio ao seu caráter religioso popular e devocional a Deus, aos deuses e às divindades, através de uma prática incorporada é fechar os olhos à sua própria trajetória histórica, e considerá-lo, de certo modo, como uma série de simples técnicas físicas ou um tipo oriental de condicionamento físico, tudo o que os yogues modernos tradicionais mais condenam (SIMÕES, 2011, p. 21).
A ritualidade da prática do yoga é feita em um ambiente e espaço-tempo “sagrado”, a fim de que cada praticante possa reintegrar-se a si mesmo para encontrar a verdade que cada um possui dentro de si: a prática do yoga proporciona uma experiência espiritual materializada no corpo individual. Com efeito, “O Yoga tem um caráter multidisciplinar que envolve aspectos metafísicos, ontológicos e teológicos, bem como aspectos psicológicos, físicos e práticos” (PEÇANHA; CAMPANA, 2010, p. 204), embora, no Ocidente, “[...] o Yoga vem caracterizando-se como um sistema de práticas, sobretudo de posturas psicofísicas (asanas) visando à obtenção de saúde e administração do estresse” (GHAROTE, 2000 apud PEÇANHA; CAMPANA, 2010, p. 204).
FEUERSTEIN, G. A tradição do Yoga: história, literatura, filosofia e prática. 5. ed. São Paulo: Pensamento, 2006.
GHAROTE, M. L. Técnicas de Yoga. Tradução de Danilo F. Santaella. Guarulhos: Phorte, 2000.
LEITE, Marta R. Ricoy. Estudo dos padrões do movimento respiratório e do comportamento cardiovascular em mulheres idosas praticantes de yoga. Tese [Doutorado em Educação Física]. Faculdade de Educação Física. Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 1999.
LIMA, Vânia C. L. O Yoga como caminho de elevação na espiritualidade e na saúde. Dissertação (Mestrado em Ciências das Religiões). Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões. Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, 2010.
O BHAGAVAD GĪTĀ Como Ele É. Por Sua Divina Graça A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupāda. São Paulo: THE BHAKTIVEDANTA BOOK TRUST, 1976.
OLIVEIRA, Gerson de. Yoga como caminho de integração na abordagem de pessoas com esclerose múltipla: apontamentos e reflexões. Tese (Doutorado em Educação Física), Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas-SP, 2015.
OS YOGASUTRAS DE PATAÑJALI. Traduzidos do sânscrito e comentados por Carlos Eduardo G. Barbosa. São Paulo: Editado pelo Autor, 1999.
PEÇANHA, Doris Leith; CAMPANA, Daniel Perdigão. Avaliação quali-quantitativa de intervenção com Yoga na promoção da qualidade de vida em uma universidade. Boletim Academia Paulista de Psicologia, vol. 78, n. 1, p. 199-218, 2010. Acesso em: 10 nov. 2024.
PULIDO, John Alexander F. Yoga, cuerpo e imagen: espiritualidade y bienestar, de la terapia a la publicidad. Universitas Humanística, n.68, p. 33-47, jul.-dic. 2009. Acesso em: 10 nov. 2024.
SANTOS, Kleber Luis Silva. Efeitos da prática da ioga no controle postural e no bem-estar de trabalhadores. Dissertação (Mestrado em Fisioterapia). Centro de Ciências Biológicas e da Saúde. Universidade Federal de São Carlos. São Carlos-SP, 2013.
SIEGEL, Pamela. Yoga e Saúde: o desafio da introdução de uma prática não-convencional no SUS. Tese [Doutorado em Saúde Coletiva]. Faculdade de Ciências Médicas. Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2010.
SIMÕES, Roberto Serafim. Fisiologia da Religião: uma análise sobre vários estudos da prática religiosa do Yoga. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2011.
TEOTIA, Harendra S.; TEOTIA, Rita. Yoga e Saúde. Dieta, relaxamento, respiração, posturas, meditação & estresse. Campina Grande-PB: Oriental Yoga Center, 2000.