MEDITAÇÃO E INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
MEDITAÇÃO E INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
por Alexsandro M. Medeiros
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publicado em ago. 2024
Quando falamos em inteligência costumamos pensar apenas a partir do seu aspecto cognitivo, entretanto, para a psicologia, a inteligência também está associada com a capacidade de reconhecer e avaliar os próprios sentimentos e os dos outros, no que podemos chamar de inteligência emocional.
O Conceito de Inteligência Emocional foi definido academicamente pela primeira vez em 1990, através de artigos científicos publicados pelos pesquisadores Peter Salovey (Yale University) e John Mayer (University of New Hampshire). Trata-se de um conceito psicológico utilizado para designar a capacidade humana de lidar com as emoções (Dias, 2023, p. 26, grifos do autor).
Na década de 1990, o termo inteligência emocional apareceu em várias obras e ganhou destaque sobretudo por causa do livro Inteligência emocional, de Daniel Goleman, em 1995.
Desta forma, podemos pensar na mente humana a partir de duas perspectivas mas que na verdade englobam uma só. Apenas para fins didáticos iremos fazer aqui a distinção entre a mente racional (reflexiva, deliberativa, analítica) e a mente emocional (impulsiva).
A mente/inteligência emocional inclui a percepção das emoções, expressão, o seu uso e controle. A inteligência emocional é a capacidade de perceber melhor as emoções, entender seus significados, gerenciá-las e usá-las.
Mas então surge a questão: como lidar com as nossas emoções a ponto de conseguirmos, além de percebê-las, entendê-las, gerenciá-las e usá-las? Uma forma que pode nos ajudar neste aspecto é através do autoconhecimento e da meditação.
O autoconhecimento é importante para o controle das emoções: “devemos fazer um diagnóstico minucioso acerca das nossas imperfeições. Pouco a pouco, vamos identificando as emoções negativas que mais se repetem em nosso sistema” (Dias, 2023, p. 27), seja a ira, a ansiedade, o medo etc.
Esse processo não é fácil porque, para identificar as nossas emoções, precisamos deixá-las subir à superfície da consciência, ou seja, elas devem ser experimentadas de alguma forma.
Por outro lado, não podemos esquecer também de trabalhar os valores positivos, para não ficarmos presos apenas as nossas imperfeições, quando na verdade, nós somos um conjunto de valores positivos e negativos e precisamos também despertar nossas potencialidades.
“A meditação é uma ótima ferramenta, capaz de conceder a tão almejada Inteligência Emocional” (Dias, 2023, p. 28, grifos do autor). A meditação ajuda a encontrar o equilíbrio emocional à medida em que nos ajuda a conhecer nossas emoções, percebê-las e entendê-las, através da concentração, da autoanálise. Assim, a prática meditativa nos ajuda a encontrar um melhor equilíbrio emocional na medida em que nos ajuda a regular nossas emoções. Em um nível mais avançado de meditação, quando conseguimos colocar a nossa mente em um estado de quietude, “um belo fenômeno acontece, somos lançados para fora do tempo [...] chega até nós uma criatividade inusitada, a empatia cresce, os pensamentos e emoções encontram finalmente repouso” (Dias, 2023, p. 16, grifos do autor).
Pesquisas sobre a estrutura cerebral do hipocampo, hipotálamo e córtex pré-frontal revelam que,
Quando estimuladas através da arte meditativa, essas áreas melhoram o desempenho de importantes funções do cérebro, tais como: memória, cognição, tomada de decisões, motivação, atenção, aprendizagem, solução de problemas, capacidade de abstração, regulação das emoções, atividade hormonal etc. (Dias, 2023, p. 15, grifo do autor).
É importante mantermos nossa mente e nossas emoções equilibradas. Naturalmente, não é uma tarefa fácil, devido ao caráter impulsivo das nossas emoções. Mas é aqui que a meditação pode nos auxiliar, nos ajudando a identificar e superar nossos estados emocionais conflitivos e aflitivos.
ao surgir uma emoção negativa, a consciência deve unicamente testemunhá-la, sem condenação, julgamento ou qualquer tipo de interferência conceitual; com dedicação e disciplina, chegará o momento em que, sem esforço, a mente estará tranquila, estabilizada em si mesma, serena diante dos mais desafiadores pensamentos e emoções, pois estará cônscia da transitoriedade dos mesmos [...] Esta é a atitude interior que conduz à inteligência emocional (Dias, 2023, p. 30, grifos do autor).
As emoções surgem na nossa mente de forma relativamente independente, tal como nossas ideias. Trata-se de um fenômeno natural e até espontâneo. Precisamos nos dar conta de que nossas emoções, sejam elas positivas ou negativas, são partes de nós, da nossa natureza. Precisamos, portanto, aceitá-las como partes de nós, como nossas.
A partir dessa conscientização, largamos as armas, deixamos de lutar contra a mente e a emoção; quando a ira, por exemplo, tentar nos induzir a brigar com alguém, nós simplesmente não acreditaremos em sua história. Ao invés de reagir impensadamente ao insulto, paramos por alguns instantes, ‘deixamos o calor da emoção passar’, abrindo espaço para o sentir da tranquilidade. No início, é normal não conseguirmos nos conter, porém, com persistência, chegará o momento em que conseguiremos nos manter calmos e resilientes diante de qualquer infortúnio da vida (Dias, 2023, p. 30-31).
Ao surgir uma emoção negativa, o comum é nos apegarmos a ela. Se sentimos raiva de alguém, nos apegamos a esse sentimento de tal forma que ele toma conta de toda nossa estrutura emocional. O mesmo se passa com o ciúme ou a inveja, por exemplo. Aos poucos, aprendemos a entrar “em luta consigo mesmo”. Sentimos raiva, mas nos damos conta de que este sentimento não é bom. Queremos até não sentir, mas a emoção é mais forte do que nós. Surge a luta. Com a meditação, vamos aprendendo a identificar estes estados conflituosos, até que, finalmente, deixamos de nos apegar a ela. Esse desapego não acontece de uma hora para outra. É um processo lento. No início, nos apegamos a este com todas as nossas forças. Com o tempo, o apego vai se tornando menos forte. Algumas vezes, iremos procurar fugir de forma até desesperada deste sentimento angustiante sem conseguir. Quando nos dermos conta de que nossas emoções são transitórias, passamos então a lidar com elas de forma relativamente mais autônoma.
A maturidade das emoções é atingida quando estamos cônscios de que todas as emoções (positivas e negativas) são transitórias. Não importa o quão forte seja a sua raiva, ela é temporária, tem um pico de ebulição, se você estiver atento a esse mecanismo, poderá dominá-la. Basta não se identificar com nenhuma emoção conflitante. Observe-as como as nuvens do céu, crie um hiato entre você (observador) e esses vícios. Em pouco tempo você perceberá que existe em seu interior uma capacidade de silenciar, acolher e transmutar os eventos negativos da vida – este é um processo trabalhoso, lento, gradual, mas que, seguramente nos conduzirá à inteligência emocional (Dias, 2023, p. 31).
Reatividade afetiva no cérebro de meditadores
A reatividade afetiva, a partir da geração de estados de meditação de compaixão e bondade amorosa, foram estudadas através do uso de imagens cerebrais usando ressonância magnética funcional (fMRI) por Lutz, et al., (2008). Foram apresentados sons emocionais e neutros durante os períodos de meditação e comparação para sondar a reatividade afetiva. Os sons podiam ser: “negativos (sons de uma mulher aflita) [...] positivos (bebê rindo) [...] sons neutros (ruído de fundo em um restaurante)” (Lutz, et al., p. 2).
A hipótese dos pesquisadores era a de que a preocupação com os outros cultivados durante o processo meditativo aumenta o processamento afetivo, em particular em resposta a sons de angústia, e que essa resposta aos sons emocionais é modulada pelo grau de treinamento da meditação: os “resultados confirmam nossa principal hipótese de que as regiões do cérebro subjacentes a emoções e sentimentos são moduladas em resposta a sons emocionais em função do estado de compaixão, da valência dos sons emocionais e do grau de especialização” (Lutz, et al., p. 2).
A apresentação dos sons emocionais foi associada com aumento do diâmetro da pupila e ativação das regiões límbicas (ínsula e córtex cingulado) durante a meditação (versus descanso). A análise também mostrou ativação aumentada na amígdala, junção temporo-parietal direita (TPJ) e sulco temporal posterior superior direito (pSTS) indicando que cultivar emoções positivas altera a ativação de circuitos anteriormente ligados à empatia e à teoria da mente em resposta a estímulos emocionais.
DIAS, R. P. F. Meditação [livro eletrônico]: Serenidade emocional para tempos difíceis. Boa Vista, RR: UERR Edições, 2023.
LUTZ, A., [et al.]. Regulation of the neural circuitry of emotion by compassion meditation: effects of meditative expertise. PLoS ONE, 3(3):e1897, 2008. Acesso em 24 jan. 2018.