MITOLOGIA GREGA

por Alexsandro M. Medeiros

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 postado em 2015

atualizado em: abr. 2024

A mitologia grega explica a origem do mundo com base em um princípio motor que eles consideram sendo o Amor. É preciso ressaltar, contudo, “que as lendas relativas à criação não formam um conjunto coerente. Não somente comportam numerosas variantes, mas também em nenhum momento encontramos um ato criador único” (GRIMAL, 1987, p. 39).

Na origem de tudo existiam Érebo e Nyx, que eram irmãos, que coexistiam no seio do Vazio (do Caos). “Paulatinamente, Nyx e Érebo separam-se nesse vazio. Érebo desce e liberta a Noite, que por sua vez se encurva, torna-se uma imensa esfera, cujas duas metades se separam como um oco que se quebra: é o nascimento de Eros (o Amor)” (GRIMAL, 1987, p. 25). Em seguida surgem o Céu e a Terra, Urano e Gaia. A união entre Urano e Gaia dá início às gerações divinas, além dos Titãs (seres divinos e forças elementares da natureza) e dos Ciclopes e Hecatônquiros (monstros de cem braços). “De todos os Titãs, o mais importante para o desenvolvimento do mundo foi Cronos, o mais jovem, o que engendrou os olimpianos” (GRIMAL, 1987, p. 28). Atordoado com a ideia de que um dia seria destronado por um de seus próprios filhos – por causa do crime que cometeu contra o próprio pai, Urano –, Cronos passa a devorar todos os filhos e filhas nascidos: Héstia, Deméter, Hera, Hades, Poseidon, mas “quando o mais jovem dos filhos, Zeus, estava para nascer, Réia [esposa de Cronos] quis lhe evitar a sorte dos irmãos e fugiu secretamente” (GRIMAL, 1987, p. 29). Réia se asilou em Creta, onde deu à luz e, para enganar Cronos, deu-lhe uma pedra, como se fora seu filho, iludindo Cronos que devorou a pedra pensando ser seu filho Zeus. Réia mantém seu filho escondido em uma caverna de Creta até a fase adulta e, de forma astuciosa, conseguiu fazer com que Cronos bebesse uma droga que o fez restituir todos os seus irmãos. Com a ajuda de seus irmãos, dos Hecatônquiros e dos Gigantes, em uma verdadeira guerra de Titãs, os filhos de Cronos destronaram-no, expulsando do poder a geração primordial e instalando o reino dos olimpianos, uma alusão a morada do Monte Olimpo.

Zeus, Posseidon e Hades inauguram a geração dos Crônides, filhos de Cronos. Por sorteio foram divididos entre os três o domínio do mundo. “Zeus ganhou o céu; Posseidon, o mar; Hades, o império subterrâneo e o reino dos mortos” (GRIMAL, 1987, p. 43). Cada um tinha também uma arma que receberam dos Ciclopes: Zeus, o raio; Hades, um capacete mágico que tornava invisível quem o usasse; e Posseidon, um tridente, que lhe servia para agitar a terra e as ondas do mar.

Aos olimpianos se juntaram outras divindades que formaram o “conselho” dos grandes deuses, como: Afrodite, Apolo, Artêmis, Hefaísto, Atená, Ares, Hermes e Dionísio, muitos, diga-se de passagem, eram filhos do próprio Zeus, o que fez dele o “pai dos deuses”. Cada divindade tem a sua atribuição:

 

1) Afrodite é a mais bela das deusas, preside a fecundidade feminina e da natureza; também chamada de deusa do amor e da fertilidade;  

2) Apolo é o deus da adivinhação, da cura das doenças (e de sua propagação), da poesia e da música; Em Delfos matou um dragão chamado Píton e apoderou-se do oráculo de Têmis onde Pítia, sua sacerdotisa, passou a proferir oráculos; festas e celebrações eram feitas em sua homenagem na cidade de Delfos. “Inspirador dos adivinhos, seus oráculos, sempre obscuros e ambíguos, geralmente eram em versos; Apolo inspirava também os poetas, partilhando esta última função com as Musas [...] Seu culto em Delfos influenciou fortemente a formação do espírito grego” (KURY, 2009, p. 42).

3) Artêmis, réplica feminina de Apolo e sua irmã gêmea, recebeu como arma um arco e flecha; é a “Dama das Feras”, potência misteriosa que preside a fecundidade dos animais da floresta, protetora das amazonas e avessa ao convívio com os homens. “Ártemis era cultuada principalmente nas regiões montanhosas e silvestres da Grécia, embora seu santuário mais célebre fosse em Éfeso, onde a deusa apresentava os atributos de uma antiqüíssima divindade asiática da fecundidade” (KURY, 2009, p. 52).

4) Hefesto é o deus do fogo, o senhor das artes da forja dos metais, um artesão divino, sempre pronto a executar um trabalho; exercia sua arte nos vulcões, onde trabalhada junto com os Cíclopes; foi Hefesto que fabricou o famoso escudo de Aquiles.

5) Atená é uma deusa protetora e guerreira, possuía um escudo, uma lança e uma égide; é a divindade da cidade dos atenienses e em sua homenagem foi erigido o Partenon. “Além de inspirar a bravura nos heróis Atena favorecia as manifestações de inteligência, sendo considerada no mundo grego [...] a deusa protetora das atividades filosóficas em particular e literárias em geral” (KURY, 2009, p. 57).

6) Ares é o deus da guerra; veste uma couraça e um capacete, armado com um escudo, uma lança e uma espada; em Atenas, a criação do Areópago (ou colina de Ares) está ligado ao deus Ares: o Areópago era um tribunal onde se julgavam crimes de natureza religiosa;

7) Hermes é o mensageiro dos deuses e possui sandálias aladas que o permitem voar; tem também um função mais específica que é a de acompanhar as almas dos mortos até o mundo subterrâneo;

8) Dionísio é o deus do vinho, das videiras e dos delírios místicos. Educado pelas ninfas até a idade adulta introduziu, em Tebas, as Bacanais: festas celebradas por mulheres com gritos frenéticos. “O culto dionisíaco penetrou também na Itália e disseminou-se de tal modo que no século III a.C. o Senado romano, preocupado com sua licenciosidade, proibiu a celebração das Bacanais” (KURY, 2009, p. 128).

Estudo dos Mitos na Contemporaneidade

As teorias contemporâneas sobre o estudo dos mitos podem ser classificadas em três grandes tipos, de acordo com Ribeiro (2007, p. 60): teorias funcionalistas, teorias estruturalistas e teorias simbolistas.

A teoria funcionalista procura entender o papel exercido pelos mitos nas sociedades em que se conservam vivos e atuantes, enfatizando a função social que os mitos desempenham na vida comunitária.

 

O mito cumpre, na cultura primitiva, uma função indispensável; expressa, acentua e codifica a crença; protege e reforça a moral; vigia a eficiência do ritual e de certas regras práticas para a orientação do homem. O mito é, assim, um ingrediente vital da civilização humana; não é uma fábula vã, mas uma força criadora ativa; não é uma explicação intelectual ou uma imagem artística, mas é um privilégio pragmático da fé primitiva e da sabedoria moral (Malinowski apud Grimal, 2000, VII e VIII).

 

Na teoria estruturalista se destaca o famoso antropólogo Claude Lévi-Strauss (1908-2009) que: “propõe uma análise estrutural do mitos acompanhada de uma ampla inventariação de determinantes psicológicos, que postula uma analogia de estruturas entre as várias ordens de fatos sociais e linguísticos” (Ribeiro, 2007, p. 61-62).

A perspectiva simbolista vê o mito como uma forma de exprimir o pensamento, a cultura, a visão de mundo (do cosmos) e o modo de perceber este mundo de um povo. Trata-se de uma linguagem que expressa o que não pode ser expresso diretamente através da fala e, por isso, o mito é uma linguagem que cria e dá significado.

 

[...] o mito conta uma história sagrada; relata um acontecimento que teve lugar no tempo primordial, no tempo fabuloso das origens. Por outras palavras, o mito conta como, graças aos atos dos seres sobrenaturais, uma realidade teve existência, quer seja a realidade total, o Cosmo, ou apenas um fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, uma instituição (Eliade apud Grimal, 2000, XIII).

 

A perspectiva do simbolismo pode ser estudada segundo diversas perspectivas: a perspectiva da psicologia profunda, da arte, da poesia, da etnologia, da semântica, da semiótica, da epistemologia e até da filosofia, sendo que a forma como cada uma dessas perspectivas entende o mito pode ser relevante e contribui para o seu entendimento nas outras áreas.

Referências Bibliográficas

Brandão, J. de S. Mitologia Grega. Petrópolis: Vozes, 1986. vol. I

Grimal, P. A Mitologia Grega. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

Grimal, P. Dicionário da mitologia grega e romana. 4. ed. Trad. Victor Jabouille. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. 

Kury, M. da G. Dicionário de Mitologia Grega e Romana. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2009.

Ribeiro, E. S. A relação cinema-literatura na construção da simbologia do anel na obra O Senhor dos Anéis: uma análise intersemiótica. 2007. 151 f. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Linguística Aplicada), Centro de Humanidades, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza-CE, 2007.