A PSICANÁLISE ESPIRITUALISTA E EVOLUCIONISTA DE PIETRO UBALDI

por Alexsandro M. Medeiros

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postado em jun. 2017

atualizado em out. 2020


A personalidade humana na teoria ubaldiana é constituída por uma parte inconsciente (dividido em subconsciente e superconsciente) e outra consciente, como na teoria psicanalítica freudiana. “A personalidade humana não é um ponto, mas uma zona onde se distinguem 3 partes: o subconsciente, o consciente e o superconsciente” (NCTM, 1982, p. 375).

O consciente está, por assim dizer, na superfície da psyché, se quisermos usar a imagem utilizada por Freud, da estrutura da psyché como um iceberg onde a parte submersa corresponde ao inconsciente. Pietro Ubaldi segue esta compreensão e afirma que a parte consciente é a zona analítica, onde se realiza o trabalho atual de construção da personalidade e aquisição de conhecimentos e experiências. “Debaixo desta zona, na qual o homem comum vive a sua vida de cada dia, há outras zonas, sobrepostas, situadas fora desse consciente, no inconsciente” (UBALDI, PNE, p. 94), que são o subconsciente e o superconsciente.

Enquanto o subconsciente representa a assimilação completa de velhas experiências em estratificações antigas donde emergem co­mo instintos [...] o superconsciente, no extremo oposto, representa a zona de espera, onde se registam as experiências de vanguarda, pela quais se antecipa o futuro, zona que não está, como a outra, no fim mas na frente da evolução (NCTM, 1982, p. 375-376).


Na zona inconsciente o pensamento deixa de ser analítico e se torna mais vasto, mais profundo dirigido para a assimilação e conservação do velho, ao contrário do consciente que é a exploração do novo e construção do eu. O que é vivido pelo consciente na superfície vai estratificando-se no inconsciente.

Nas jazidas do subconsciente fica depositado tudo o que nele colocamos. De lá ele está pronto para ressuscitar no consciente [...] Em substância, se trata de uma restituição, pela qual o subconsciente devolve ao consciente o material que na vida este conquistou e lhe transmitiu, e que agora o consciente recebe de vol­ta, mas elaborado e assimilado em forma de impulsos e qualida­des pessoais (UBALDI, PNE, p. 100)


No subconsciente estão os resquícios da animalidade (zona do instinto), no superconsciente (zona da intuição) a dimensão do espírito que visa a evolução. No primeiro o passado, o patrimônio adquirido, a personalidade constituída. No segundo “as experiências em formação, novas, incertas, instáveis, mas audazes, elevadas, complexas” (NCTM, 1982, p. 376), o patrimônio em vias de aquisição, o complemento da personalidade. O consciente é a zona intermediária, a zona de trabalho, da razão, de novas formações e, por isso, de desequilíbrio, de contrastes. Temos então passado, presente e futuro: “No subconsciente está escrito nossa história, no consciente está o esforço da subida, no superconsciente, o futuro” (NCTM, 1982, p. 380). Cada zona da personalidade corresponde a três tipos biológicos: o animal, o homem, o super-homem. “Portanto três fases: captação pela intuição, assimilação pela razão, depósito pelo instinto” (NCTM, 1982, p. 378).

Por ser passado o subconsciente foi, em algum momento, consciente que, por sua vez, amanhã será subconsciente. Seguindo a mesma linha de raciocínio o superconsciente, amanhã, será consciente e depois subconsciente. E assim se processa o aperfeiçoamento da personalidade humana. “O que para alguns é superconsciente, persona­lidade futura, embrional, ainda a ser acabada, para outros é consciente em formação ou mesmo subconsciente, isto é, personalidade instintiva já construída. O que para o invo­luído é futuro, para o evoluído é passado” (NCTM, 1982, p. 381). Todo indivíduo caminha tendo à frente o superconsciente e atrás de si o subconsciente. O sistema é o mesmo para todos, mas a posição em que cada um se encontra é diferente. A estrutura da personalidade é a mesma. A posição evolutiva é que muda para cada caso particular. Os diferentes tipos de personalidade se explicam de acordo com a condição em que cada um se encontra no que diz respeito ao subconsciente, consciente, superconsciente. “As zonas de subconsciente, consciente e superconsciente são, portanto, relativas ao desenvolvimento do indivíduo e podem ocupar diferentes graus na escala da evolução” (NCTM, 1982, p. 382).

“O que para o consciente constitui trabalho atual, para o subconsciente é passado vivido, não morto, cuja síntese so­brevive sepultada em seu íntimo como resultado da opera­ção que atualmente é desenvolvida pelo consciente” (NCTM, 1982, p. 377). Por fazer parte de um passado mais longínquo, o instinto, mais velho, embora inferior como nível evolutivo, é superior como maturidade formativa, é obra terminada, ao passo que a razão, em processo de formação, de análise, de experiência incompleta, é inferior como maturidade formativa mas superior como forma mais complexa. A razão “é fase inicial de assimilação de qualidades novas mas em grau mais elevado de evolução” (NCTM, 1982, p. 377). A intuição, por sua vez, que atua no superconsciente “é uma antena estendida como antecipação em di­reção aos mais altos e inexplorados graus de evolução, para captar o novo, o inédito, o futuro” (NCTM, 1982, p. 378). “A medida que se avança, a fase evolutiva, inicialmente conseguida somente pelos raios da intuição, torna-se domínio normal e controlado da razão, cumprindo a função de assimilação que encontramos terminada no instinto” (NCTM, 1982, p. 378 – grifo do autor).

Psicanálise e Psicologia: Ciências da Alma 

Vemos assim porque para Pietro Ubaldi a psicanálise, como a psicologia, é ciência da alma, com a diferença que à primeira cabe o estudo do inconsciente para descobrir os elementos componentes da personalidade do indivíduo e, igualmente, o seu destino, que é uma consequência necessária do passado (inscrito no subconsciente) e das ações presen­tes que por sua vez ficarão inscritas também no subconsciente quando se tornar passado adquirido.

O estudo da psicanálise é, assim, fundamental para uma compreensão mais exata da personalidade humana que não se resume apenas no seu consciente. Esse estudo é tão mais importante quanto nos ajuda a entender a nossa existência, porque é no interior de nossa psyché que iremos encontrar as origens de nossos atos. Os nossos atos, para serem melhor compreendidos, precisam ser analisados à luz dos impulsos interiores do qual derivam.

Isto prova a importância da psicanálise, mas uma psicanálise concebida em sentido mais vasto do que a atual vigorante, isto é, como ciência que desvenda o mistério da alma, descobrindo o que fomos no passado e, por conseguinte, seremos no futuro, nos reve­lando o conteúdo de uma vida nossa muito maior, da qual a atual não é senão um breve episódio (UBALDI, PNE, p. 80)


Todo esse conhecimento é importante e necessário para a (re)construção do eu. É o conhecimento que pode nos proporcionar a sabedoria necessária para buscar “o conhecimento de si mesmo”, como acreditavam Sócrates e os antigos filósofos. Ou como entre os povos orientais que acreditam que através da prática da meditação profunda seja possível alcançar o conhecimento de si mesmo. Através da psicanálise é possível descobrir quem somos, quais forças agem no nosso interior, o ponto frágil de nossas almas e assim evitar a dor e o sofrimento. É um trabalho do qual não podemos escapar, mas podemos decidir se vamos realizá-lo de forma inconsciente (como até hoje o fizemos) ou se o faremos de forma consciente.

Mas para isso a psicanálise não pode ficar limitada ao organismo animal. “O psica­nalista do futuro será o médico do nosso organismo espiritual, da saúde do qual depende o bem-estar do corpo” (UBALDI, PNE, p. 82). Hoje predomina o médico do corpo mas, no futuro, os dois médicos, do corpo e da alma, trabalharão lado a lado. Mais do que um médico, o psicanalista do futuro será um educador, um orientador de almas, cujo maior e mais importante objetivo é trabalhar pela sua evolução espiritual.

Não é difícil saber quais instintos são dominantes na alma humana. O conteúdo do subconsciente pode ser revelado através daquilo que mais toca indivíduo, através do cinema, dos noticiários, das novelas. Se um indivíduo é chamado a atenção pelos crimes, pela selvageria, pela forma violenta com que são noticiados os fatos do cotidiano, revela que ainda predomina no seu subconsciente o instinto da fera. O mesmo pode ser dito em relação aos apetites sexuais, à exposição erótica com o qual somos bombardeados todos os dias pelas propagandas dos mais diversos meios de comunicação.

Tudo isto re­vela quais são os instintos ainda dominantes, que com tais meios procuram desabafar com a fantasia, agora que as leis de um mundo mais civilizado proíbem que tais impulsos se concretizem nos fatos. Assim, a mente se satisfaz com tais substitutos, que revelam sua na­tureza, sempre pronta, porém, a se satisfazer com fatos, logo que desaparece o freio da ordem, disciplina mantida com a força (UBALDI, PNE, p. 85).


Um exame de consciência pode revelar facilmente quais instintos ainda predominam na personalidade humana. Basta mergulhar em nossos pensamentos, acompanhar-lhes o curso, e vê como e para onde se dirigem. Assim é possível ler o subconsciente no qual não iremos encontrar apenas a fera, mas também o anjo, as aspirações divinas, que nos impulsionam para o alto e para Deus. É desse conflito entre a fera e o anjo que surge a luta incessante e desapiedada do homem que deseja transformar a sua personalidade, consertar o passado e os erros nele cometidos, seguir na senda do bem. Eis o bom combate! Eis a luta que surge

entre duas posições evolutivas dentro do mesmo indivíduo que as contém: de um lado a sabedoria do instinto bem comprovada e confirmada por longa experiência, profundamente arraigada nos alicerces da vida, sabedoria encarregada de defendê-la, garantindo-lhe a continuação. De outro lado, a sabedoria do homem consciente, conquista nova que se coloca acima do instinto, destinada não a conservar o pas­sado, mas a explorar o futuro (UBALDI, PNE, p. 84).


É a luta entre o involuído e o evoluído que existe dentro de cada indivíduo, chocando-se o passado com o futuro, a matéria e o espírito, a animalidade e a espiritualidade, a fera e o anjo. Alguns podem ver aí múltiplas personalidades dentro de um mesmo indivíduo, uma personalidade resultado do passado e outra que deseja o futuro. Uma das duas irá prevalecer. As Leis da vida querem que o espírito vença a matéria, que a fera se transforme em anjo, que o novo substitua o velho, que os instintos superiores tomem o lugar dos inferiores. É um trabalho que deve ser realizado no interior de cada indivíduo. Trabalho que já vem sendo realizado a séculos, de mais de uma vida, de inúmeras vidas sucessivas.

A Nova Psicanálise: Psicanálise e Reencarnação 

Na teoria ubaldiana os instintos são automatismos adquiridos ao longo de toda a existência e gravados no subconsciente. Todavia, ao contrário da psicanálise hodierna que está fechada nos limites estreitos que vai do nascimento até a morte física, a nova psicanálise considera não apenas a vida atual, mas todas as vidas precedentes: teoria reencarnacionista. A psicanálise hodierna ignora essa realidade muito mais vasta e muito mais profunda que tem suas raízes em um passado longínquo, que se perde ao longo das eras, de outras vidas, da qual esta não presenta senão um átimo no universo. Tal psicanálise só pode abranger um espaço mínimo da nossa existência, bastante curto, diga-se de passagem, para explicar a totalidade da existência humana.

Por isso Ubaldi fala de uma Nova Psicanálise, que complete a atual, limitada ao terreno dos efeitos, ignorando as causas onde tudo se origina. Falta à psicanálise atual a parte mais importante: “aquela onde estão os alicerces que sustentam o edifício do eu, aquela das raízes onde se apoia a árvore, e das razões que explicam e justificam o estado atual do indivíduo” (UBALDI, PNE, p. 81). Esse entendimento de que a vida vai além do nascimento é fundamental para a psicanálise “sem a qual esta não pode entender o presente, que é consequência daquele passado, que representa sua raiz” (UBALDI, PNE, p. 90).

No início de cada existência, cada indivíduo traz consigo o seu passado (de vidas pretéritas) gravado no subconsciente e esta base representa um aspecto significativo de sua personalidade e determinante de sua existência. Cada um traz em si na forma instintiva o conhecimento adquirido. É assim que surge o homem prodígio: o poeta, o artista, o filósofo, o homem de ciência. E seu destino é determinado de acordo com o aprendizado adquirido e o aprendizado que deve realizar. Mas sempre em função de sua personalidade. Na sua viagem pela jornada da vida, o indivíduo traz o fruto de sua experiência passada, mas que não permanece estática, e que vai acumulando novos conhecimentos, nova sabedoria, que no futuro farão parte do seu subconsciente, cristalizando-se tanto mais quanto mais forte for o aprendizado. Cada vida é uma continuação, visando a evolução do espírito, e não pode ser vivida senão em cima do que foi construído no passado e existe como potencialidade para viver no futuro.

O subconsciente contém um mundo muito vasto do que aquele preterido pela psicanálise hodierna: um passado imenso, muito mais rico, muito mais cheio de automatismos e instintos, em que o eu vive infinitas experiências, diferente para cada um, de acordo com o caminho percorrido.

A Estrutura da Personalidade 

A filosofia espiritualista de Pietro Ubaldi nos permite uma densa e complexa análise da personalidade humana considerando, inclusive, a ideia de que a personalidade não se limita a dimensão consciente mas possui, tal como postulado pela psicanálise, uma dimensão inconsciente.

Na filosofia de Ubaldi, “A personalidade humana não é um ponto, mas uma zona onde se distinguem três partes: o subconsciente, o consciente e o superconsciente” (UBALDI, ANCTM, p. 375). Uma zona em movimento, através de um dinamismo que amadurece e se desloca através da evolução. “sob o minúsculo eu normal de superfície, se estende em profundidade um eu ilimitado. E o homem inquire de si mesmo: que coisa, pois, sou eu? [...] a personalidade humana se estende em zonas que estão além dos limites normais da consciência racional e prática” (UBALDI, AM, p. 93 – grifo do autor). Esse eu ilimitado, a psique humana, é um organismo em contínuo processo de expansão (crescimento) formado por estratificações onde se depositam as experiências da vida.

Temos uma personalidade de natureza não puntiforme, mas trifásica. Uma personalidade em torno da qual ocorre um movimento ascensional nesta zona trifásica, de correntes ascendentes e descendentes. É um fenômeno que pode ser observado de forma dinâmica, como vibração e de um ponto de vista cinético: “é o mes­mo que dizer que o estado cinético se desloca para estados evolutivos mais elevados, isto é, que o movimento toma ritmo vibratório cada vez em mais alta frequência e ondas cada vez mais curtas” (UBALDI, ANCTM, p. 381), o que é o mesmo que dizer que o consciente, com a evolu­ção, tende a passar do nível inferior a um superior.

Subconsciente, Consciente e Superconsciente

O subconsciente representa a zona da animalidade, a zona dos instintos, das ideias inatas, onde temos “a sólida, estável, mas primitiva e ele­mentar experiência do passado, firmada como patrimônio aquisitivo representando um material de uso continuamen­te aprovado pelas condições ambientes” (UBALDI, ANCTM, p. 376). No subconsciente estão: o patrimônio e as qualidades adquiridas, as reservas da raça, as experiências da vida animal.

O subconsciente não emerge à lua da consciência por isso, pode parecer invisível e, no entanto,

contém as bases do edifício e representa os fundamentos que o sustentam. Embora não apareça no pormenor, ele sobrevive ainda assim completamente como síntese e como tal é suscetível de ser investigado. Se o sub­consciente é superado e esquecido, como labor cons­trutivo consciente, todavia nós o possuímos íntegro como resultado: é aquele instinto tão rico de misteriosa sabedoria, que rege tantas ações nossas e é tan­to mais sólido quanto mais profundamente radicado nos estratos da evolução biológica (UBALDI, AM, p. 98).


O funcionamento orgânico também ocorre fora da consciência, em zonas de consciências inferiores (subconsciente): tudo o que é vivido é assimilado e abandonado nesta zona. “Por isso, o processo de assimilação, base do desenvolvimento da consciência, realiza-se justamente por transmissão ao subconsciente, em que tudo fica, mesmo se esquecido, pronto para ressurgir se um impulso a excita, ou um fato o exija” (UBALDI, AGS, p. 307 – grifo do autor). Tal como nas estratificações geológicas encontramos os vestígios da vida vivida no planeta, no subconsciente “depositam-se todos os produtos substanciais da vida; nessa zona encontrais o que fosteis e o que fizesteis; reencontrais o caminho seguido na construção de vós mesmos” (UBALDI, AGS, p. 307). Nada do que é vivido se perde e permanece presente e ativo ainda que não o seja na zona consciente. “Somente é eliminado da zona da consciência, porque agora já pode funcionar sozinho, deixando o Eu em repouso. A qualidade assimilada e transmitida ao subconsciente cessa de ser fadiga e se torna necessidade, instinto” (UBALDI, AGS, p. 308).

Todo o material vivido está registrado no subconsciente que, por isso, se recorda de tudo e “está sempre por detrás de nós para guiar-nos, executa, por nós, automaticamente, inúmeras atividades e resolve, em nosso lugar, grande quan­tidade de problemas, sem perturbar nem agravar o consci­ente. Simples divisão de trabalho” (UBALDI, ANCTM, p. 384).

O que é assimilado pelo subconsciente ou, em outras palavras, aquilo que é transmitido ao subconsciente, se dá por meio da repetição constante. Por isso se pode dizer que o hábito transforma um ato consciente em um ato inconsciente. Cada impulso fica impresso na matéria e pronto para reaparecer, exprimindo-se como vontade autônoma: “como criatura psíquica independente, criada por obra vossa; mas, agora, quer viver sua vida” (UBALDI, AGS, p. 308).

Agora, podeis compreender algumas características inexplicáveis do instinto, assim como sua maravilhosa perfeição. No instinto, a assimilação está terminada. Então o fenômeno não está em formação, mas já atingiu sua última fase de perfeição. Por isso, o instinto é tenaz e sábio: existe por hereditariedade e sem aprendizado, justamente porque esse já ocorreu; age sem reflexão (tanto no animal, como no homem), exatamente porque já refletiu bastante. Foi superada a fase de formação, o ato reflexivo é inútil e é eliminado; a repetição constante cristalizou o automatismo numa forma que corresponde perfeitamente às forças ambientais; estas agiram de maneira constante (UBALDI, AGS, p. 308 – grifo do autor).


O instinto atingiu um grau de amadurecimento não alcançado pela razão humana e, por isso, em seu campo se expressa pela segurança dos atos. A razão, por suas tentativas, “revela as características evidentes da fase de formação” (UBALDI, AGS, p. 309).

Compreendeis, agora, a estupenda presciência do instinto e da infinita série de experiências, incertezas e tentativas, de que ela resulta. O indivíduo deve ter aprendido alguma vez essa ciência, porque do nada, nada nasce; deve ter experimentado a constância das leis ambientais pressupostas, a que correspondem seus órgãos, para as quais ele é feito e proporcionado. Sem uma série infinita de contatos, de experiências e adaptações no período de formações, não se explica uma tão perfeita correspondência de órgãos e instintos, antecipados à ação, dentro de uma natureza que avança por tentativas, e nem se explica sua hereditariedade. No instinto, a sabedoria já está conquistada; foi superada a fase de tentativas e a necessidade de submeter-se a uma linha lógica que, oferecendo várias soluções, demonstra a fase insegura e incerta dos atos raciocinados, onde o instinto conhece um só caminho, o melhor (UBALDI, AGS, p. 309).


As experiências vividas que se depositam no subconsciente ficam gravadas nas células, e se transmitem pela hereditariedade fisiológica, através de uma repetição milenar constituindo, assim, o alicerce do edifício biológico. “A célula constitui-lhe, de fato, a sede e o canal de transmissão [...] É riqueza que recebemos ao nascer, como bagagem necessária para percorrermos o pedaço de caminho representado por uma existência” (UBALDI, ANCTM, p. 385).

A personalidade humana pode ser comparada a uma árvore: estende suas raízes até as profundezas (subconsciente), eleva suas ramificações às alturas (superconsciente) e, no tronco, onde se desenrola a vida, está o consciente: “uma zona de trabalho, desequilíbrio, contrastes, e, portanto, ativa e criativa, ela é lúcida e consciente. A personalidade brilha na luz máxima da consciência em sua zona central” (UBALDI, ANCTM, p. 376).

O ego percebe a própria existência unicamente na zona consciente do sistema que tem alturas evolutivas diversas, segundo o desenvolvi­mento individual. Segundo o mesmo, cada um explora, to­rna, elabora e assimila e, assim, segundo sua posição e natureza, agindo através do esquema geral do fenômeno, constrói a própria individualidade segundo particularidades espe­ciais (UBALDI, ANCTM, p. 382).


É nesta zona que encontramos a razão, a consciência racional, lúcida, um pequeno vagalume, que apreende, controla, discute, trabalha e, por isso, “se desloca ao longo desse extraordinário trajeto, cujo princípio é abandonado em bai­xo e cujo fim se perde no alto, além de toda nossa medida” (UBALDI, AM, p. 98).

“A razão cobre um campo muito mais extenso que o limitado pelo instinto (nisto o homem supera o animal, dominando zonas que ele ignora)” (UBALDI, AGS, p. 309). No animal vemos apenas um raciocínio de tipo rudimentar no período da construção de seu instinto. A razão humana, por sua vez terminada a sua formação, “alcançará um instinto complexo e maravilhoso, que revelará sabedoria muito mais profunda” (UBALDI, AGS, p. 309).

O que para o consciente constitui trabalho atual, para o subconsciente é passado vivido, não morto, cuja síntese so­brevive sepultada em seu íntimo como resultado da opera­ção que atualmente é desenvolvida pelo consciente. A sín­tese resultante, chama-se instinto, estando, ainda, no plano do consciente, na fase de formação de análise. Aqui o equi­líbrio ainda não estabilizado, ainda indefinidas as resultan­tes dos contrastes, permitem o trabalho de criação que no subconsciente terminou suas aquisições. O instinto é superior como maturidade formativa, mas inferior como nível evolu­tivo. A razão pertence a um plano superior, é a forma mais complexa, mais criança do instinto. Este, síntese da análise feita pelo subconsciente, é mais velho e perfeito, em seu ní­vel, que a razão. Esta é um processo em formação, de análise, de experiência incompleta, mas em vias de sê-lo, é fase inicial de assimilação de qualidades novas mas em grau mais elevado de evolução  Os resultados da análise, amanhã serão síntese; os da razão que procura e escolhe, instinto que já sabe e conhece (UBALDI, ANCTM, p. 377).


Não se pode dizer que não exista mais o instinto animal no homem. Na verdade, a razão, é sua continuação, ou ainda: “instinto e razão são simplesmente duas fases de consciência, a primeira já superada e, portanto, funcionando automaticamente; a segunda, em vias de formação” (UBALDI, AGS, p. 309). Não são duas fases antagônicas, mas complementares, sucessivas, pois assim como o instinto animal ainda sobrevive no homem, ocorre a formação de novos instintos, com a diferenças apenas de que a fase instinto é inconsciente, enquanto que a fase razão é consciente.

O mesmo pode ser dito em relação aos animais, entretanto, em sentido inverso. Existe o instinto inconsciente e também uma pequena zona de formação, consciente, racional, ainda que rudimentar. Se “todos os atos dos animais estão cristalizados no instinto, existe sempre uma porta aberta para novas aquisições (aprendizado, domesticação etc.)” (UBALDI, AGS, p. 310). “Entre a planta, o animal e o homem só existe a diferença devida ao caminho maior ou menor que foi percorrido” (UBALDI, AGS, p. 310).

No homem, uma parte está confiada aos automatismos dos instintos e outra, a racionalidade, que tende a cristalizar-se em atitudes instintivas e, tudo o que foi conquistado, através do trabalho que acontece na zona consciente, passará a ser instinto.

E o eu evolui, se desloca, do subconsciente ao superconsciente, através da consciência. “O consciente compreende somente a fase ativa, única que sentis e conheceis, porque é a fase em que viveis e trabalha a evolução” (UBALDI, AGS, p. 308 – grifo do autor).

É nesta zona que ocorre o esforço da personalidade para a construção de si e de sua evolução, campo de batalha entre as diversas correntes que circulam na personalidade. Por evolução, a consciência, como pequena zona de luz, surge a partir da primeira emersão do psiquismo que, por sua vez, emergiu através da fase biológica: “a consciência [...] se aventura agora na fase psíquica e no seu superamento na fa­se hiperpsíquica, em que a consciência se encami­nha para tomar-se consciente em dimensões hoje su­per-racionais para a média normal imersa nas trevas do inconcebível” (UBALDI, AM, p. 98).

O superconsciente é a zona do espírito, a zona das “experiências em formação, novas, incertas, instáveis, mas audazes, elevadas, complexas, desenvolvidas, representando [...] o novo patrimônio em vias de aquisição” (UBALDI, ANCTM, p. 376), representando o futuro, a continuidade da evolução daquilo que já foi conseguido, alcançado.

Além da zona lúcida do consciente e da zona obscura do subconsciente está o superconsciente, onde tudo são expectativas e onde o eu se prepara para o amanhã: “fase possuída apenas como pressentimento e contida, em germe, nas causas que atuam no presente, de que ele representa o desenvolvimento” (UBALDI, AGS, p. 310).

É nesta zona que os gênios buscam a inspiração, onde ocorre o pressentimento das verdades sublimes, como em lampejos de jatos luminosos. Uma zona que, considerada em relação com a consciência de superfície, “se estende em profundida­de, nas zonas interiores, avança para Deus e tende para a unificação com o todo, a que se chega pois, por introspecção” (UBALDI, AM, p. 100).

Deste ponto de vista, o eu evolui para o interior, afastando-se do subconsciente e em direção ao superconsciente, cada um feito de valores distintos: “o primeiro é um resíduo, o segundo, uma con­quista; o primeiro é uma zona inferior, de que nos distanciamos, e uma escória que abandonamos; o se­gundo é uma zona superior, de que nos aproxima­mos” (UBALDI, AM, p. 100). No superconsciente não estão os conteúdos remanescentes da vida, mas o seu futuro.

A passagem do subconsciente ao superconsci­ente é uma expansão para o interior, se assim pode­mos expressar-nos, uma expansão em profundidade, em que o ser, aprofundando-se para o centro, se eleva aos planos mais altos que lhe são a aproximação. Nesse caminho, o eu é como um núcleo que se enri­quece, dilatando por estratificações suas potencialidades, através das experiências da vida, que são exa­tamente o agente revelador daquele mistério íntimo em cuja profundeza está Deus (manifestação). Assim, esse mistério é continuamente exteriorizado naquele plano de consciência lúcida que, como se vê, e uma consciência de trabalho e de transição, em marcha do subconsciente ao superconsciente, cuja posição é portanto relativa, assaz diversa de indivíduo para indivíduo, segundo sua história e sua maturidade evolutiva (UBALDI, AM, p. 102).


Por um lado, o subconsciente se dirige para o exterior da superfície e, por outro, em direção oposta, caminha o superconsciente. Não apenas em direção oposta mas também de vibração bem diversa o que, por isso, explica a luta que se estabelece no interior de cada indivíduo, luta entre diferentes impulsos.

São por demais conhecidas essas tempestades íntimas. Porém, especialmente no evoluí­do, de superconsciente mais desenvolvido, se desencadeia com mais violência a guerra entre o superconsciente e o sub­consciente, entre o passado e o futuro e ao contrário, entre es­pírito e matéria; entre os dois extremos da evolução que se batem pela posse da consciência, como campo de realizações (UBALDI, ANCTM, p. 384).

Os Três Níveis da Personalidade 

Vimos que a estrutura da personalidade se divide em duas partes: o consci­ente e o inconsciente, que, por sua vez, se divide em duas partes totalizando três zonas: subconsciente e superconsciente. A primeira zona é a consciência co­nhecida, normal, racional, prática, que todos distin­guem. As outras duas zonas contém o passado (subconsciente) e o futuro (superconsciente).

Analisando de forma conjunta a estrutura da personalidade temos três zonas, três funções e três sedes: corpo, cérebro e espírito constituem, respectivamente, as sedes do subconsciente (experiência escrita na carne), consci­ente e superconsciente (experiência escrita no espírito); instinto, razão e intuição são, respectivamente, suas funções associadas e que possuem, cada uma, uma fase, de captação (pela intuição), de assimilação (pela razão) e de depósito (pelo instinto). “A personalidade humana, una e trina como o uni­verso, possui, portanto, o organismo instintivo da besta, o cérebro raciocinante do homem, o espírito intuitivo do su­per-homem” (UBALDI, ANCTM, p. 386).

Outra forma de correspondência que encontramos se dá “entre subconsciente, instinto, animalidade, ondas longas e baixa frequência de um lado, e superconsciente, intuição, espiritualidade, ondas curtas e alta frequência do outro” (UBALDI, ANCTM, p. 381). A evolução é um processo que vai do animal ao super-homem, caminha do subconsciente ao superconsciente “como das ondas lon­gas e baixa frequência às ondas curtas e alta frequência” (UBALDI, ANCTM, p. 381). A compreensão é possível entre aqueles que estão no mesmo padrão vibratório “tendo portanto, partes comuns de ressonância, isto é, que vibram, como já dissemos em capítulos precedentes, com o mesmo comprimento de onda, velocidade e freqüência vibratória, que é o que justamente diferencia o grau de evolução” (UBALDI, ANCTM, p. 381).

Temos ainda uma correspondência com três tipos biológicos, de acordo com o grau de desenvolvimento individual: a besta, o homem e o super-homem. Na base (corpo) está o animal, feito de instintos (subconsciente). No cérebro, o homem racional (consci­ente). No espírito, a intuição (superconsciente) e o super homem.

Com a evolução o centro consciente tende a passar do nível inferior ao superior. Na escala da evolução uns são conscientes, poder-se-ia dizer, à altura da cabeça, outros à  altura do ventre e outros à altura dos pés. Uns têm a cabeça abaixo do nível dos pés de outros; outros têm os pés acima do nível da cabeça de outros (UBALDI, ANCTM, p. 380).


Cada tipo biológico corresponde uma forma de ação: instintiva, racional, intuitiva e também três formas de trabalho: captação, assimilação e armazenamento.

Estabelecemos, até aqui, as seguintes relações do subconsciente, consciente e superconsciente com a besta, o homem e o super-homem; com o instinto, a razão e a intui­ção; com o armazenamento, a assimilação e a captação; com o ato terminado, o atual, e o futuro; com a recordação, a ação, e o pressentimento; com o passado, o presente e o porvir; com a cauda, o centro e a cabeça no caminho da evolução (UBALDI, ANCTM, p. 382).


E ainda: com as ações consumadas (que representam o trabalho feito), com as ações atuais (que representam o trabalho que se faz) e com as tentativas e explorações (que representam o trabalho que se fará). Finalmente, com a lembrança, a ação e o pressentimento.

No homem estão presentes o mesmo físio-dínamo-psiquismo do cos­mos, razão pela qual a personalidade huma­na pode ser comparada a trindade universal. A estrutura da personalidade funciona de acordo com o físio-dínamo-psiquismo em torno do qual o pensamento

na forma humana, se materializa, pas­sando do superconsciente ao subconsciente, através do dina­mismo do consciente. Temos, também, aqui, portanto, não uma simples estrutura, mas um funcionamento. No ciclo experimental, que acabamos de ver, o dinamismo vem do subconsciente em direção ao superconsciente, tentando a experiência e conquista do alto; no ciclo de assimilação, o dinamismo desce do superconsciente ao subconsciente, ope­rando o armazenamento, a fixação dos resultados da experiência. A descentralização segue-se a concentração no ego. Este dinamismo dúplice e inverso, é o passo segundo o qual a personalidade progride” (UBALDI, ANCTM, p. 379-380 – grifo do autor).


Temos um sistema trifásico da personalidade no qual, embora o sistema seja único, igual para todos, sua posição é, no entanto, relativa e em graus evolutivos diversos. Um sistema que se movimenta e avança tendo à frente o superconsciente, no centro o consci­ente e no fim o subconsciente.

Captação, registro e armazenamento de experiências embora se deem de acordo com a escala evolutiva, “o processo, o método, é idêntico para todos, o resultado é sempre ascensão, autoconstrução, progresso da fase evolutiva subconsciente, à fase consci­ente e superconsciente” (UBALDI, ANCTM, p. 382).

Nos vários tipos humanos, do extremo involuído ao extremo evoluído há infinitas, por assim dizer, posições ocupadas pelo sistema, caracterizando os vários estados psicológicos e vibratórios que são relativos a cada personalidade. Em outras palavras: “O que para alguns é superconsciente, persona­lidade futura, embrional, ainda a ser acabada, para outros é consci­ente em formação ou mesmo subconsciente, isto é, personalidade instintiva já construída” (UBALDI, ANCTM, p. 381). Cada zona (subconsciente, consci­ente e superconsciente) é relativa ao grau de desenvolvimento do indivíduo e pode ocupar diferentes graus na escala da evolução. “O que para o invo­luído é futuro, para o evoluído é passado” (UBALDI, ANCTM, p. 381).

Tais zonas são relativas a cada indivíduo, em conformidade com o seu grau de desenvolvimento e evolução pessoal, relativas tanto em amplitude quanto em posição.

Aquilo que é consciente ou superconsciente para alguns, pode ser subconsciente (ou seja, caminho percorrido e experiências adquiridas) para outros mais adiantados. Esses limites variam, também, durante a vida do mesmo indivíduo, pois a vida é justamente o período das aquisições e transformações de consciência. A idade mais adequada a essas aquisições — em outras palavras, mais susceptível de educação — é a juventude. A consciência, refeita pelo repouso, é mais propensa à assimilação, ao estabelecimento de novos automatismos, que depois se fixarão indelevelmente no caráter; os primeiros, serão os mais profundos e mais resistentes (UBALDI, AGS, p. 310).


É preciso salientar que este modelo observado aqui se dá “em relação a um tipo médio situado com o consci­ente no plano da razão, com o subconsciente no plano dos instintos e com o superconsciente no plano da intuição e do espírito” (UBALDI, ANCTM, p. 382). Todavia, de acordo com a evolução, a posição do sistema (e não sua estrutura) se modifica, para cada caso em particular: “Expomos aqui o sistema, a es­trutura da personalidade, e não sua posição evolutiva que muda para cada caso em particular” (UBALDI, ANCTM, p. 382).

O subconsciente já foi consci­ente, resultado das experiências vividas, campo ativo das formações atualmente cristalizadas e fixadas como instinto: “O subconsciente nada mais é que um consci­ente decaído” (UBALDI, ANCTM, p. 379). O consci­ente, por um lado, será subconsciente amanhã, irá se fixar como produto feito de qualidades assimiladas (instintos). Por outro lado: “O consci­ente não é nada mais que o su­perconsciente coordenado, disciplinado, equilibrado, intui­ção trazida à razão e submetida ao seu controle, elemento incerto e transitório, embora sublime, enquadrado transito­riamente à realidade da vida” (UBALDI, ANCTM, p. 379). O superconsciente, por sua vez, será consci­ente amanhã, ou seja, o que hoje é intuição incompreendida, amanhã será um processo racional normal. “O involuído e o normal tor­nar-se-ão, portanto, conscientes na zona atualmente cober­ta pelo superconsciente, no campo onde hoje é consci­ente a única exceção biológica representada pelo evoluído” (UBALDI, ANCTM, p. 379). Assim se completa o processo de aperfeiçoamento da personalidade, por sucessivas estratificações.

Uma outra forma de pensar a questão é como o instinto pode ser visto como uma forma rudimentar de racionalidade que, por sua vez, a razão pode ser vista como uma forma rudimentar de intuição: “A intuição pertence a um plano ain­da mais alto; é a forma ainda mais complexa, porém mais primitiva da razão” (UBALDI, ANCTM, p. 377).

Enfim, entre instinto, razão e intuição a diferença está no grau de trabalho para a captação e assi­milação das experiências. A intuição atua no superconsci­ente que é uma antena estendida como antecipação em di­reção aos mais altos e inexplorados graus de evolução, para captar o novo, o inédito, o futuro. A razão atua no consci­ente. Não funciona por raios, como a intuição, é menos rá­pida, porém, mais contínua, mais ordenada, mais segura. Precisamente porque se projeta para menos alto, é mais equilibrada, porém, mais curta e limitada. O instinto é obra terminada, cujos resultados perdem-se no subconsciente, de­positando-se nesse magazin de reservas, como patrimônio da personalidade que aí se pode reabastecer segundo as neces­sidades. A medida que se avança, a fase evolutiva, inicialmente conseguida somente pelos raios da intuição, torna-se domínio normal e controlado da razão, cumprindo a função de assimilação que encontramos terminada no instinto (UBALDI, ANCTM, p. 378 – grifo do autor).

A Tarefa da Psicanálise e do Psicanalista

A psicanálise tem como objetivo: o tratamento das doenças (libertação do sofrimento e da dor) e o crescimento da personalidade (porque nem tudo na personalidade é doença).

Tanto no primeiro, quanto no segundo caso, a psicanálise precisa levar em consideração o período anterior ao nascimento, porque “as experiências da vida precedente se incorpo­ram no eu para se tornarem lição aprendida, e depois impulsos ins­tintivos que emergem do subconsciente” (UBALDI, 2014, p. 185).

Como no fenômeno geológico em que as camadas estratificadas ficam sobrepostas uma sobre a outra, as experiências das vidas passadas estão armazenadas no subconsciente. Um processo

que foi vivido na forma de consciente sensório numa vida se torna depois automático produto de subconsciente na vida sucessiva; onde e co­mo se constrói a parte determinística de nosso destino, à qual esta­mos fatalmente sujeitos, porque ela é efeito fatal da sementeira feita no passado (UBALDI, 2014, p. 185).


Para alcançar qualquer um dos dois objetivos, a psicanálise precisa estudar a personalidade. Para diminuir a dor e aumentar o bem estar. Ela precisa descobrir os pontos fracos da personalidade e “fortalecer esses pontos com injeções de positividade, endireitando o caminho errado do ser, na direção da vontade da Lei [a Lei de Deus]” (UBALDI, 2014, p. 158).

A tarefa da psicanálise é a de cons­truir destinos sadios e felizes, dando saúde às almas, curando as do­entes, fortalecendo as fracas, sanando feridas, tudo isto no terreno do espírito, como o médico do corpo faz no terreno da vida física. Hoje só existe o segundo médico. Mas no futuro os dois médicos trabalharão lado a lado, juntando as suas duas sabedorias numa só. para chegar a uma só diagnose, a um só tratamento físico-psíquico, a uma síntese clínica que ao mesmo tempo abrangerá corpo e alma. numa incindível unidade, como de fato é o ser humano (UBALDI, 2014, p. 163).

 

A Tarefa do Psicanalista

Ao conhecer a personalidade do indivíduo após meticuloso exame, o psicanalista pode então orientar o seu destino “dirigin­do-o, conforme sua natureza e os elementos que contém, para um futuro melhor, onde, por lógicos corretivos de conduta: erros, complexos e sofrimentos sejam eliminados” (UBALDI, 2014, p. 163).

O psicanalista, depois de ter conhecido o ponto em que se encontra a personalidade de seu paciente, deve orientar essa construção “para que ela se realize da melhor forma para o bem e a felicidade dos homens de boa vontade” (UBALDI, 2014, p. 163). Como regra geral, o paciente deve ser orientado na direção do bem e da felicidade, por isso, a psicanálise está profundamente ligada à moral e à religião, ligada a princípios éticos, pois o bem e a felicidade estão em Deus e na obediência a Sua Lei.

Por isso o psicanalista deve conhecer, antes de tudo, o conteúdo da Lei para orientar melhor qualquer tipo de tratamento, pois a doença (neuroses e complexos) são efeitos de um movimento no sentido contrário a Lei Divina, do qual cada violação resulta em sofrimento. O remédio, portanto, está na obediência que reconstrói a ordem ao contrário da desobediência que gerou a desordem. A saúde e o bem estar dependem dessa reintegração na ordem, neutralizando a desordem (de onde resulta a doença e a dor). “Assim se pode reconstituir o equilíbrio psí­quico perturbado do indivíduo: corrigindo o erro, que foi a causa, elimina-se a doença, que é o efeito” (UBALDI, 2014, p. 177).

Pode-se então chegar também a esta conclusão: se a primeira causa de uma doença foi um impulso negativo, oposto, de desordem e desequilíbrio, um movimento contra as leis da vida, o que no plano ético se chama culpa, pecado, então a própria doença não somente representa, na forma de dor, como já demonstramos, a lógica consequência do erro, a justa e fatal reação compensadora da parte da Lei, como constitui o pa­gamento da dívida, a devida penitência pela culpa, a necessária expiação, o corretivo do erro, o que é mais idôneo para reconstituir a ordem e o equilíbrio. Então a própria doença representa o tra­tamento da doença, que assim seria um mal como julga a ciência, mas tal só na hora da sua gênese pelo erro, mas que, na hora do amadurecimento atual do processo, seria um mal saudável, um cura­tivo necessário. Então suprimi-lo, como faz a medicina, só como efeito, sem conhecer as causas para as eliminar, significa sufocar o natural descarregar-se do mau impulso, que assim fica comprimido. porque impedido de se desabafar, constrangido a se concentrar até chegar a uma nova explosão, que lhe é indispensável, devido ao impulso equilibrante da Lei. Isto muda os atuais conceitos de do­ença e seu tratamento (UBALDI, 2014, p. 178).

Referências

UBALDI, Pietro. A Grande Síntese: síntese e solução dos problemas da ciência e do espírito. Tradução de Carlos Torres Pastorino e Paulo Vieira da Silva. 24. ed. Campos dos Goytacazes-RJ: Instituto Pietro Ubaldi, 2017.

UBALDI, Pietro. A Nova Civilização do Terceiro Milênio. Tradução de Oscar Paes Leme. 2. ed. Rio de Janeiro: Fundação Pietro Ubaldi, 1982.

UBALDI, Pietro. Ascese Mística. Tradução de Rubens C. Romanelli, Clóvis Tavares e Jerônimo Monteiro. 5. ed. Rio de Janeiro: Fraternidade Francisco de Assis, 1993.

UBALDI, Pietro. Princípios de uma Nova Ética. Brasília: Instituto Pietro Ubaldi, 2014.

UBALDI, Pietro. Princípios de uma Nova Ética. 3. ed. vol. 20. Rio de Janeiro: Fundação Pietro Ubaldi, 1988. 24 vol.


Nota

Nas citações de Pietro Ubaldi utilizamos a sigla das obras para fazer referência as mesmas. AM (Ascese Mística); NCTM (A Nova Civilização do Terceiro Milênio); PNE (Princípios de uma Nova Ética). Além disso, as citações do texto PNE foram retiradas da versão em pdf das obras de Pietro Ubaldi e, por isso, pode haver divergências entre a numeração da página das versões impressas.